Ao longo desta semana, Milton do Ó, técnico do FC Cascavel, já confidenciou que não tem conseguido dormir à noite, só pensando do jogo deste domingo (21), o ‘Clássico da Soja’ entre a Serpente Aurinegra e o Toledo, pela rodada de abertura do Campeonato Paranaense. “Eu acordo de madrugada já pensando no jogo”, disse. Se ele, que tem uma grande experiência no mundo do futebol, confessa que está ansioso para esta partida, imagina como está o sentimento dos jogadores. Até porque alguns são bem jovens e têm a primeira oportunidade de despontar nos gramados por intermédio do Campeonato Paranaense. Mas cabe a ele, Milton do Ó, enclausurar essa ansiedade dentro de si. E criar algum time de mecanismo para tirar o melhor proveito dessa ansiedade que acomete seus atletas.
Pela maneira de trabalhar, Milton do Ó não externa essa ansiedade. De fala serena e tranquila, Milton passa confiança quando conta sobre os passos que tem dado desde que chegou ao FC Cascavel. Diferente do comportamento enérgico em campo, o técnico tem um jeito mais sossegado de lidar com os atletas nos momentos fora do gramado. Características que foram adquiridas ao longo de uma antiga e apaixonada relação com a bola.
Desde a infância, o universo do futebol está presente no cotidiano de Milton do Ó, natural de Ponta Grossa. Filho e irmão de jogador, ele sempre viu os familiares atuando e naturalmente foi seguindo o mesmo caminho. Aos quatro anos, já se aventurava na escolinha de futebol montada pelo pai.
Estar no Oeste do Paraná agora mexe com a memória: Milton já morou em Marechal Cândido Rondon e chegou a jogar futsal pela Eucatur em Cascavel. Mas essas foram só as primeiras moradas de uma série de casas que já teve por conta da profissão.
O técnico
Milton “professor” é um misto de todas as características que foi absorvendo nas relações com os treinadores que teve ao longo da vida, com pitadas muito originais de sua personalidade. Entre diversos nomes, ele destaca três que foram marcantes: Manoel Tulipa, de Portugal, com quem aprendeu um jeito moderno de lidar com o futebol; Abel Braga, com quem trabalhou no Paraná e no Fluminense, e absorveu muito conhecimento de “vestiário”, sobre gestão de grupo, administração de egos e vaidades. “E claro, meu pai, que foi o melhor treinador que eu tive e continua sendo”, conta, se referindo a Miltão do Ó.
Coração fora de campo, enérgico dentro dele! É assim que o elenco do FC Cascavel enxerga o professor. O zagueiro Felipe Bortolucci sabe bem disso porque já foi treinado por Milton no Paraná Clube e no Prudentópolis. “Recebi vários conselhos dele por atuarmos na mesma posição. Ele é um cara que cobra muito, mas faz isso porque quer o seu melhor”, comenta Felipe.
É esse perfil que o público que for aos estádios ao longo do Campeonato Paranaense 2018 vai conhecer. “Acredito que quando uma equipe tem a bola ela tem que jogar, o jogador tem que estar feliz e aproveitar o jogo. E quando não tem, tem que marcar. Essas são minhas regras básicas. Acredito muito no trabalho com a bola. Para o Paranaense, a gente está com pé direito lá embaixo acelerando bastante, mas está tudo muito bem encaminhado. Até mais do que planejamos!”.
As metas
A chegada de Milton do Ó ao FC Cascavel foi cercada de euforia pelos trabalhos anteriores que ele exerceu como treinador. O mais notável foi no Prudentópolis onde ele levou um time com um investimento modesto a fazer uma das melhores campanhas das equipes do interior, ficando apenas atrás dos gigantes da Capital, do Londrina, que é considerado um grande do Estado, e do Cianorte.
Em Cascavel, ele terá uma meta pessoal de ter o seu trabalho reconhecido. Ele será o quinto treinador a comandar o time na elite estadual. E talvez o torcedor aurinegro não tenha conseguido manter na memória as atuações dos treinadores anteriores. Não que tenham feito um trabalho ruim, como o próprio Milton disse, os quatro antecessores conseguiram manter o FC Cascavel na divisão especial. Mas isso é pouco para o torcedor. Ele quer mais. Para entrar para a história do clube e na memória da torcida, Milton do Ó precisa se estabelecer aqui. Para isso precisa de resultados. Resultados que levem a Serpente Aurinegra para uma competição nacional. A campanha no Paranaense de 2018 pode render um calendário cheio para o clube nos próximos anos. E quem sabe, Milton do Ó consiga quebrar uma marca importante. O treinador que mais comandou o FC Cascavel em jogos oficiais foi Paulo Foiani foram 32 partidas entre 2014 e 2015. Ao todo, Foiani, que está no Sinop, conseguiu 15 vitórias, oito empates e nove derrotas, um aproveitamento de 55%.
Os técnicos do FC Cascavel na elite:
Paulo Foiani (2015) - 13 jogos - 35% de aproveitamento*
Charles Gbeke (2016) - 3 jogos - 33% de aproveitamento
Karmino Colombini (2016 e 2017) - 12 jogos - 36% de aproveitamento
Agenor Piccinin (2017) - 9 jogos - 37% de aproveitamento
*o aproveitamento de 55% de Paulo Foiani leva em conta a campanha na segunda divisão de 2014, quando foi campeão