Na presidência do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) há apenas três meses, o brasileiro Andrew Parsons precisou contornar um grave problema menos de duas semanas depois de ter sido eleito para o cargo. No dia 19 de setembro passado, um forte terremoto atingiu a Cidade do México, causando centenas de mortos e um enorme estrago físico na capital mexicana, onde cerca de 50 prédios desabaram.
O fato motivou a entidade a adiar em dois meses o início dos Mundiais Paralímpicos de Natação e Halterofilismo, que ocorreriam entre o final de setembro e início de outubro, mas só foram realizados neste começo de mês, no velho complexo que abrigou algumas modalidades da Olimpíada de 1968, que passou por reforma há menos de uma década.
Ao ser questionado pela reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, em entrevista concedida do lado da piscina que foi palco deste Mundial, sobre o fato de que os eventos contaram com um nível de organização precário e receberam baixo público durante quase todos os seus dias de disputas, Andrew Parsons reconheceu que as competições não preencheram todas as expectativas do IPC e ficaram "aquém do esperado por alguns países que participaram destes Mundiais".
O dirigente, porém, relevou a situação ao enfatizar que alguns serviços ao público e a promoção das duas competições foram prejudicadas pelo corte de verbas que inicialmente estavam destinadas aos Mundiais, mas que o governo mexicano, organizador dos eventos em conjunto com o IPC, precisou utilizar no processo de recuperação da capital nacional.
"A preocupação do Comitê Paralímpico Internacional é ter as competições com o máximo de público possível. A gente sabe que isso aqui foi um evento muito particular por causa de tudo o que aconteceu, então houve muita dificuldade principalmente na promoção do evento. Se você comparar aos Mundiais anteriores, tivemos um público bem menor, então essa é uma preocupação constante nossa. Isso se aplica à (Olimpíada de Inverno de) Pyeongchang-2018. Acabou-se o tempo de organizar eventos só para as famílias dos atletas", ressaltou.
O dirigente, entretanto, fez questão de enfatizar que considerou certa a decisão de manter os Mundiais Paralímpicos na Cidade do México, que receberia uma "punição extra" se as competições fossem transferidas para uma sede diferente.
"Foi uma opção do Comitê Paralímpico Internacional junto das autoridades mexicanas. A gente tinha que saber se eles (do governo) tinham a disposição e a capacidade de entregar os Mundiais. Eles apresentaram uns planos que nos deram confiança de seguir. Nós tínhamos duas outras opções, que eram cancelar os Mundiais ou ir para outro país. Tivemos ofertas de países interessados em receber o evento, mas nós entendemos que a melhor decisão era mudar a data", completou.
DEBANDADA - A mudança de data, porém, provocou uma debandada de alguns países que tinham presença confirmada no México e optaram por desistir do evento por diferentes motivos, como por exemplo o cumprimento de suas agendas em outras competições que estavam marcadas há bastante tempo para este período. Grã-Bretanha, Rússia, Ucrânia e Canadá, potências na natação paralímpica, estiveram entre as nações que ficaram fora do Mundial Paralímpico desta modalidade. Andrew Parsons lamentou estas ausências.
"A avaliação do Mundial é positiva. É claro que o terremoto afetou a questão da entrega, já que a capacidade financeira do comitê organizador da cidade diminuiu bastante. Então o nível de serviço foi aquém das expectativas de alguns países. O Comitê Paralímpico Internacional entendeu que era hora de prestar solidariedade ao México. Por mais que o planejamento e o pico de rendimento dos atletas estivesse focado para aquela semana, não havia como outro lugar do mundo receber os campeonatos de natação e halterofilismo. A gente respeita essa escolha, mas a gente lamenta. Seria muito mais positivo ter todos os países nas duas modalidades aqui no México", destacou.
METAS DEFINIDAS - Nesta visita feita ao México para o Mundial, Andrew Parsons também pontuou ao jornal O Estado de S.Paulo três dos objetivos principais deste seu início de gestão, sendo que alguns deles já existiam enquanto ele o atual mandatário era o vice-presidente do IPC, liderado até pouco tempo atrás por Phillip Craven, seu antecessor no cargo.
"Tenho três metas fundamentais, além de logicamente a entrega dos Jogos Paralímpicos em alto nível. A primeira meta seria fazer com que os comitês paralímpicos nacionais de países em desenvolvimento conseguissem chegar a um nível maior de desenvolvimento, basicamente o que o Brasil fez nos últimos 20 anos. Temos que levar isso para o maior número de países e de uma forma proativa, visitando essas nações sem esperar que elas procurem o IPC", destacou, para em seguida avisar: "Em 2018 tenho na agendado um grande número de visitas a países em desenvolvimento. Nossa segunda prioridade é o relacionamento com os comitês olímpicos. Estaremos próximos do COI, seguindo o modelo que acontece na América".
Já a terceira meta apontada por Parsons como importante é tornar o mais justo possível para os atletas as regras de participação em prova do esporte paralímpico, que sofre muitas vezes com diferenças brutais de rendimento de competidores que são enquadrados em uma mesma prova com a presença de adversários com deficiências menores ou menos impactantes para o seu desempenho.
"Em terceiro lugar viria a nossa prioridade com a classificação funcional, que pode vir a ser o nosso calcanhar de Aquiles, nos dando problemas de credibilidade. É bem na linha do que acontece com o doping no esporte olímpico. Hoje temos uma classificação por modalidade, quero profissionalizar isso", projetou.