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Fortuna de Nuzman, avaliada em R$ 2 milhões, está guardada num armazém em Genebra

06 out 2017 às 06:10
Por: Estadão Conteúdo

Em um bairro afastado de Genebra, na Suíça, um armazém de proporções impressionantes guarda alguns dos maiores segredos da Europa: pinturas de alto valor, peças arqueológicas e joias. Mas também ouro brasileiro. Trata-se do Ports Francs de Geneve, uma espécie de entreposto comercial e cofre-forte em um dos locais mais seguros do mundo.

O jornal O Estado de S.Paulo confirmou que Carlos Arthur Nuzman é de fato "cliente" do local, especializado em guardar itens de valor. Ali, segundo a polícia, o brasileiro guarda 16 barras de ouro. Investigadores suíços disseram que vão cooperar com o Brasil e que o congelamento dos ativos, a transmissão dos dados e eventual repatriação do ouro poderão ocorrer.

Mas antes que o Ministério Público da Suíça pudesse tomar uma iniciativa, funcionários do alto escalão do cofre-forte em Genebra confirmaram por telefone ao jornal O Estado de S.Paulo que Carlos Arthur Nuzman era seu cliente. Não sabiam da prisão do cartola e insistiram que o tema fosse tratado na próxima segunda-feira, quando a pessoa encarregada dos temas de Nuzman estaria no local.

O aluguel do cofre foi alvo de contato de um representante de Carlos Arthur Nuzman "há alguns dias". Ninguém sabia da prisão dele. A ligação foi então repassada para outro funcionário, que disse não haver qualquer tipo de ação policial até aquele momento, cerca de 15h30, e que, portanto, se alguém viesse com procuração de Nuzman, poderia levar o conteúdo do cofre. Mas admitiu que, se uma ordem policial chegasse, teriam de cumpri-la. "Por enquanto, não recebemos nada", disse.

Era um prédio imponente nas proximidades do estádio de Genebra e da linha de trem. Conhecido por suas polêmicas ao longo dos anos por abrigar peças roubadas e artigos arqueológicos de valor, o gerente não informou quanto custa para alugar um cofre. Deu o e-mail de um responsável: o nome era o mesmo que aparece entre os cartões de visita descobertos na casa de Carlos Arthur Nuzman, no Rio de Janeiro.

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Enquanto a reportagem consultava documentos oficiais no local, funcionários do cofre-forte discutiam como tinham recebido um telefonema de alguém buscando informações sobre Carlos Arthur Nuzman e como, sem saber que se tratava de um repórter, repassaram os dados. "Não fizemos o nosso trabalho", dizia um dos responsáveis sem saber que a discussão ocorria diante do jornalista que havia feito a ligação.

Para se justificar, disseram que o repórter se apresentou como sendo advogado de Carlos Arthur Nuzman. A reportagem deu seu nome real aos funcionários, indicando que queria falar sobre o caso do presidente do COB. A reportagem entrou em contato com os procuradores para relatar o ocorrido.

Tradicionalmente, guardar ouro ou diamantes em Genebra tem vantagens. Nos serviços de aluguel de cofre visitados pela reportagem, nenhum deles exige a procedência do objeto. Já nos bancos, qualquer movimentação de brasileiros tem sido suscetível de exame por parte de gerentes, cada vez mais pressionados a saber origens de tudo.

Carlos Arthur Nuzman não é o único ator dos Jogos do Rio-2016 com ouro em Genebra, cidade a 60 quilômetros da sede do COI. Há seis meses, o jornal O Estado de S.Paulo revelou que o ex-governador Sergio Cabral tinha barras do metal e pedras preciosas em dois locais da cidade suíça. No total, envolveriam US$ 3,5 milhões (R$ 10,8 mi). Um dos locais usados é da mesma rede de serviços que Nuzman utilizou. No caso de Cabral, a opção foi manter os ativos em entreposto perto do aeroporto.

COOPERAÇÃO - A Suíça vai cooperar com o Ministério Público para identificar, congelar e, eventualmente, devolver recursos de Carlos Arthur Nuzman. O Departamento de Justiça e Polícia da Suíça recebeu pedido de cooperação no último dia 28, referente aos ativos do dirigente. "Após exame sumário, delegamos o pedido ao Escritório do Procurador Geral da Suíça para que seja executado", informou o Departamento de Justiça. Entre os pedidos do Brasil está o confisco de contas bancárias e de barras de ouro, em Genebra e Lausanne. Mas o que os procuradores brasileiros pedem é que os investigadores suíços identifiquem as contas em nome de Nuzman, assim como aquelas em que ele poderia ser beneficiário.

Bancos suíços têm a obrigação de informar às autoridades sobre eventuais contas que possam existir relacionadas ao brasileiro. Nesta quinta-feira, a Justiça repassou o pedido de cooperação do Brasil ao Ministério Público, em Berna, para que seja executado.

Em setembro, a reportagem revelou que a polícia descobriu nos computadores de Carlos Arthur Nuzman e-mails no quais ele se dirigia à Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês), solicitando que pagamentos fossem realizados a uma conta em Lausanne. A entidade era governada por Lamine Diack, acusado de compras de voto do Rio. (colaborou Constança Rezende, no Rio)

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