O gol é o ápice do futebol. Alcançar as redes adversárias é a grande meta. É a consolidação da vitória. É a celebração da torcida... Logo, os jogadores que atuam mais próximos das traves alheias têm uma possibilidade maior de participar dessa celebração. O chamado ‘homem-gol’ é o atleta mais idolatrado, mais ovacionado, e é também o mais bem pago no clube. Os pequeninos, futuros jogadores de futebol, querem usar a sua camisa, adotam o mesmo corte de cabelo, se inspiram nos artilheiros. Em contrapartida disso tudo, aparece o goleiro. É ele que tem a ingrata missão de evitar o gol, portanto, quando triunfa diante de um atacante, provoca a frustração do torcedor.
O fato de evitar o gol, evitar a celebração máxima do futebol, faz o goleiro carregar um fardo pesado. Raramente os goleiros são lembrados pelos feitos dentro de uma partida. Se o jogo termina 0 a 0, foi por culpa dos goleiros. Mas se ele falhar e provocar a derrota de sua equipe, o erro aparece mais que o do atacante que perde gols.
Mas este mesmo futebol que coloca o goleiro como ‘vilão’ transforma este personagem. O goleiro passa a ser o centro das atenções na disputa de pênaltis. Aí os papéis se invertem. O batedor assume o papel de vilão se errar e o goleiro assume o posto de herói.
Até hoje, apenas duas finais de Copa do Mundo foram para a decisão para os pênaltis (1994 e 2006). Para nós, felizmente, comemoramos o tetracampeonato sobre a Itália no Mundial dos Estados Unidos. Lembramos muito mais do Taffarel defendendo a cobrança de Massaro. E para os italianos, restou a lembrança ruim de Baggio isolando a bola.
Esse ano, por exemplo, alguns goleiros já entraram para história de seus clubes. Um deles foi Fábio, que ajudou o Cruzeiro a faturar o título da Copa do Brasil nos pênaltis. César, do Londrina, fez o mesmo na decisão da Primeira Liga contra o Atlético-MG. Aliás, a trajetória de César foi ainda mais marcante, já que ele também fez a diferença na decisão por pênaltis na semifinal contra o Cruzeiro.
Lucas, goleiro do FCC, comemora a defesa de um pênalti contra o Rio Branco. Luciano Neves
A atuação dos dois três goleiros citados acima deve inspirar o jovem goleiro Lucas, do time Sub-23 do Futebol Clube Cascavel (FCC). No entanto, Lucas se espelha em Diego Alves, atual goleiro do Flamengo. O goleiro brasileiro fez história na Espanha e defendeu quase a metade dos pênaltis batidos contra ele. Na Espanha, Diego Alves atuou no Almeria e no Valencia e defendeu 25 penalidades em 52 cobranças. Messi parou na ‘muralha’ Diego Alves. E o goleiro também defendeu três cobranças de, nada mais, nada menos, que Cristiano Ronaldo, eleito melhor jogador do mundo pela quinta vez.
Um belo caminho a ser seguido por Lucas. Aliás, o FCC passou por duas decisões por pênaltis nas fases de mata-mata da Taça FPF. E ele fez a diferença em ambas. Contra o Operário, nas quartas, defendeu uma cobrança e a Serpente Aurinegra venceu por 5 a 4, depois de dois empates em 1 a 1.
Contra o Operário, nas quartas, Lucas também foi decisivo. Sandra Zama
O fato se repetiu nas semifinais contra o Rio Branco. Os dois confrontos entre as duas equipes terminaram empatados (2 a 2 e 1 a 1). Nos pênaltis, Lucas foi ainda mais decisivo e colocou o FCC na final da Taça FPF com duas defesas. Tímido nas entrevistas, ele foi conciso ao falar da busca pela mesma trajetória do ídolo Diego Alves. “Se repetir o sucesso dele, está muito bom”, disse.
Sobre a técnica de defender pênaltis, ele disse não ter segredo. “É concentrar e ir na bola”, sintetizou.
A torcida do FCC espera que esta concentração de Lucas se repita nos dois jogos da final da Taça FPF contra o Maringá. Tanto a torcida, quanto a comissão técnica e até o próprio Lucas não desejam uma nova disputa de pênaltis. No entanto, o técnico Rodrigo Cabral tem uma segurança a mais. Se tiver que decidir o título nas penalidades, o goleiro pode se tornar ídolo e entrar para a história do FCC.