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O time de vôlei foi embora. E agora?

20 jun 2018 às 19:37
Por: Júlio Sodré
Foto: Final da Superliga B colocou 4.280 torcedores no Ginásio Moringão, em Londrina - Júlio Sodré/Arquivo Pessoal -

A semana começou com um triste anúncio para o esporte londrinense. Presidente da Associação Desportiva Pró Sport (Adeps), a medalhista olímpica Elisângela Almeida anunciou que o time de vôlei adulto feminino tem Balneário Camboriú como destino para disputa da Superliga A, a elite da modalidade no país. Preferi esperar dois dias após o comunicado para emitir opinião publicamente.


Qualquer divórcio que exista é resultado de algum problema de relacionamento. A falta de apoio político, inclusive, foi uma dos motivos apontados pela presidente da Adeps, que pesaram para a mudança do projeto para o litoral catarinense. Após muitos desabafos se tornarem públicos, conversas com envolvidos na política municipal e no projeto do vôlei, constatei que:


1) O projeto não foi embora por causa de apoio político. Foi embora por que, depois do acesso para a Superliga A, os patrocinadores que investiam grande injeção de capital não renovaram os vínculos com a equipe. Sem dinheiro da iniciativa privada fica praticamente impossível administrar um projeto de alto rendimento.


2) A falta de apoio político foi apenas mais um dos motivos. Quando a presidente da Adeps disse que em Balneário Camboriú ela tinha proximidade com o prefeito, com a mulher do prefeito, com o secretário de articulação política, com o secretário de esportes e com vereadores ela deixa claro que em Londrina a vontade não era a mesma. Por aqui, quem fazia algo, de fato, era o pessoal que trabalhava na Fundação de Esportes de Londrina e um deputado federal. 


3) A inexperiência pesou para os gestores do vôlei. Por meio do Fundo Especial de Incentivo a Projetos Esportivos (Feipe), a Fundação de Esportes de Londrina disponibilizou verba municipal de R$ 140 mil para o projeto do vôlei feminino adulto de Londrina em 2018. Erros no recolhimento e no preenchimento da documentação fizeram a Adeps não ter acesso a esse montante.

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4) Houve mudança de filosofia de trabalho ou a necessidade forçou tal situação. No começo, esta falta de apoio político era algo que os responsáveis pelo projeto do vôlei se orgulhavam. Com apoio de 14 empresas da iniciativa privada na disputa da Superliga B, a impressão era que após o acesso tudo melhoraria, mas a situação inverteu. Somente após a não renovação do patrocinador master ficar evidente é que os gestores do vôlei passaram a buscar um apoio político de maneira mais intensa.


5) A busca por ajuda de outros políticos, além do deputado federal e da Fundação de Esportes de Londrina, veio muito tarde. Quando isso foi feito, a frustração por parte dos gestores do vôlei se deu na percepção de que políticos ligados à alta cúpula da Prefeitura estão concentrando um esforço muito maior para o sucesso de outras modalidades.


6) Londrina não está preparada para receber grandes projetos de alto rendimento. O motivo? Infraestrutura. A cidade possui apenas um ginásio para sediar grandes eventos, com transmissões televisivas e bom número de torcedores. Ainda assim, o Moringão tem sérios problemas de iluminação, na cobertura e no piso.


7) A diretoria da Fundação de Esportes de Londrina já afirmou que o objetivo é realizar uma grande reforma estrutural no Ginásio Moringão em novembro. Por coincidência, este é o mês de início da Superliga A. Por causa de alagamentos no final de dezembro de 2017, o Moringão ficou interditado. As alternativas para o time masculino de basquete e para a equipe feminina de vôlei foram os ginásios dos colégios Mãe de Deus e Vicente Rijo. Os organizadores das competições criticaram as estruturas destes ginásios alternativos.


8) O projeto do vôlei deu aula na organização de eventos e mostrou que somente com profissionalismo é possível alcançar grande sucesso. Ginásios com ótima presença de público, estrutura diferenciada para apoiadores nos dias de jogos, eventos nas sedes de patrocinadores, relacionamento com imprensa, trabalho forte de comunicação social, entre outros aspectos. O marketing esportivo foi executado com extrema eficácia. O que a Adeps fez na disputa da Superliga B serve de lição para outras modalidades, que há anos não conquistam êxitos como os do vôlei.


9) Quem foi não deve mais voltar. Quem continua por aqui precisa aprender com os vários erros cometidos. Recado para os políticos: se continuar concentrando esforços apenas nas modalidades X ou Y, a modalidade Z pode ir embora amanhã e outras podem acabar por falta de apoio ou incentivo. Em 2013, o handebol chegou a encerrar atividades aqui em Londrina. Voltou somente após duas temporadas. É só um exemplo real de algo que causou prejuízo enorme ao esporte da segunda maior cidade do Paraná.



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