Foto: Londrina teve média superior a 9 mil pagantes na Copa da Primeira Liga - Gustavo Oliveira/Londrina EC
Confesso que para escrever este artigo, meu sentimento de torcedor ficou mais forte. A inspiração foi o texto do jornalista Rodrigo Fernandes, em um blog do periódico curitibano “Gazeta do Povo”. O título que meu colega de profissão usou foi o seguinte:
Sem torcida, Londrina não merece subir para a Série A.
Não concordo e vou tentar explicar nos próximos parágrafos os motivos. Primeiramente, acredito que o meu colega jornalista foi infeliz na escolha do título, na abordagem de meritocracia para um acesso e na conclusão do texto. Meu colega jornalista encerra o texto com a frase abaixo sobre o Londrina Esporte Clube:
“Tem a dose certa de frieza, mas carece de emoção - leia-se torcida.”
Prefiro me aprofundar nas situações que acompanho de perto, por isso, vou apenas pincelar que o Paraná Clube teve média de público inferior à do Londrina nas temporadas anteriores, que a média de público na Copa da Primeira Liga foi de 9.003 pagantes e apenas comentar que se o jornalista relacionou acesso de divisão à meritocracia, façamos comparações em situações similares. Não é justo?! O texto do colega traz a informação que a média do Operário na Série D deste ano foi de “4.518 fãs”. Vamos relembrar os números do Londrina na Série D de 2014?! Média de 5.064 pagantes, sem contar público livre de ingressos. Detalhe: O Operário teve o jogo da final para aumentar esta média. Em 2014, o LEC caiu na semifinal.
A partir deste parágrafo falo com mais discordância do texto do colega jornalista. Quer dizer que o Londrina não merece subir por causa do público nas arquibancadas? O acesso no Campeonato Brasileiro se dá pela pontuação conquistada no campo, dentro das quatro linhas. Um time que tem o melhor ataque entre os 40 que disputam as Séries A e B não merece subir? Na minha opinião, merece.
Pelas conversas que tenho com meus amigos casados, 100% concordam com o ditado popular: amor não enche barriga. Amor é muito importante no casamento, mas não basta para sustentar um relacionamento. No futebol, pelo menos na minha opinião, a realidade aparenta ser assim também. Se na “casa” do LEC tem faltado um tanto ideal de “emoção” (leia-se torcida), dá pra dizer que “o prato de arroz com feijão das crianças” está garantido.
Com pagamentos e premiações em dia, além de uma política salarial realista há muitos anos, a diretoria de futebol dá exemplo de boa gestão e organização. Troca troca de treinador?! Aqui não existe mais. Não entendo como um clube que dá exemplos assim não merece subir de divisão. É um verdadeiro ’tabefe’ (como a gente diz aqui no interiorrr) na cara das velhas raposas do futebol, que tratam jogadores e membros de comissão técnica como se o mês tivesse 90 dias.
Exemplo também é a condição de trabalho de um time como o Londrina Esporte Clube. Centro de treinamentos de primeira linha, como não se costuma ver até em capitais espalhadas pelo Brasil. Estrutura ideal para manter um projeto de sucesso. O resultado é possível ver em campo, aqui em Londrina e fora daqui. Não valorizamos aqueles simbólicos títulos do interior. Fato é que o LEC foi campeão estadual em 2014 e campeão da Copa da Primeira Liga em 2017.
Sem contar o Operário com o título da Série D e o Londrina com a Primeira Liga, há quantos anos os times paranaenses não conquistam uma taça em competições nacionais? Além disso, longe do norte do Paraná, o sucesso da estrutura alviceleste é exemplificado na revelação de jogadores como o volante Bruno Henrique, do Palmeiras, e o lateral Wendell, do Bayer Leverkusen.
Sobre alguns moradores londrinenses torcerem para times de São Paulo, a situação é totalmente compreensível. Até 1999, apenas o Campeonato Paulista era transmitido (pelo grupo de comunicação que também é dono da Gazeta do Povo) para o norte paranaense. Além disso, a geografia ajuda a explicar. Londrina fica a aproximadamente 90 quilômetros do estado vizinho. As distâncias de Londrina para São Paulo e de Londrina para Curitiba são similares: até a capital do nosso estado, são quase 400 quilômetros. Daqui até a maior cidade do país são 500 quilômetros.
Como antes de 2011 o futebol londrinense também passou por tempos sombrios nas últimas décadas, o apaixonado por futebol daqui preferiu torcer para quem não está tão perto, mas disputa Libertadores e Mundial, do que para quem não está tão perto e só costuma viver de campeonatos estaduais. E isso, sem contar os inúmero paulistas (nascidos no estado vizinho) que vêm para cá estudar na Universidade Estadual de Londrina e acabam por construir a vida na maior cidade do interior do Paraná.
Sobre os jogos dos paulistas aqui lotarem o Estádio do Café, vale ressaltar que caravanas de todas as partes do estado ajudam a lotar o estádio e que boa parte dos curitibanos também adora um tal campeão brasileiro da Série A ou aquele time de origens italianas (falando em time italiano, que vontade que deu de ir em Santa Felicidade).
Pode ser soccer business, pode até ter faltado um pouco de emoção (leia-se torcida) na Série B, mas ler as situações acima e achar que o Londrina não merece subir, como a gente diz aqui no interiorrr… ‘É pá cabáááá’.