Foto: Londrina campeão paranaense de 2014 (Júlio Sodré)
Confesso que demorei um pouco, mas foi proposital. Quis analisar o que mudou (ou o que não vai mudar). Desde que o arbitral para definição do novo regulamento do Campeonato Paranaense foi realizado no dia 17 de outubro, reservei alguns dias para pensar sobre o assunto e compartilhar com os leitores a minha opinião: sem contar o novo regulamento, nada mais deve mudar.
A minha afirmação é com base na rotineira falta de interesse geral em relação ao futebol do estado. Diante disso, listei uma série de tópicos, que se não forem melhorados, devem deixar desinteressante a principal competição do futebol paranaense… mais uma vez. Abaixo, segue a lista destes tópicos. É uma análise singular, mas alguns temas podem estar ligados uns aos outros.
1. Características regionais
No Paraná, as regiões norte, noroeste, oeste, sul, campos gerais, litoral e capital possuem características próprias. É comum ver em Londrina e Maringá torcedores dos times de São Paulo. O fenômeno é fácil de explicar. As duas cidades ficam bem mais perto do estado vizinho do que da capital Curitiba. No oeste, é comum ver torcedores de Grêmio e Internacional. A histórica colonização gaúcha na região explica o fato. São apenas alguns exemplos. O desinteresse (seguido de estádios semi vazios) começa por aí. Torcedores do norte e noroeste não querem saber dos times de Curitiba, que por sua vez não querem saber dos times do oeste, que não querem saber dos times dos Campos Gerais e por aí vai. Não há uma identidade estadual no nosso futebol, diferentemente de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro, onde em quase todas as cidades os torcedores - também - são dos grandes das capitais.
2. Qualidade técnica
Quais foram os grandes craques, com passagens brilhantes por seleções nacionais ou futebol europeu, que atuaram no Paranaense nos últimos anos? Difícil apontar muitos. Para Atlético, Coritiba, Paraná Clube e Londrina, o Campeonato Paranaense tem servido mais como pré-temporada das Séries A e B do Brasileiro do que para ser o principal objetivo da temporada. O próprio Atlético chegou a final do Paranaense 2017 ao eliminar o LEC com um time B (pra não dizer time C). Situação que o Furacão já adota há algumas temporadas, ao colocar em campo equipes sub 23. As grandes contratações destes times são feitas pouco antes do Brasileirão. Mas e as outras equipes? A grande maioria monta elencos com o pensamento de não cair, para não perder a pequena, porém importante, verba repassada pela Federação Paranaense de Futebol. Se o objetivo é um pouco maior, é de buscar vaga na Copa do Brasil do próximo ano ou na Série D do Brasileiro. E com metas assim, é quase impossível atrair um grande “medalhão” que vá atrair olhares.
3. Previsibilidade e tradição
Nas últimas décadas, o Campeonato Paranaense sempre começa com favoritismo definido: para Coritiba ou para Atlético. Não é para menos. Ao longo da história, o Coxa soma 38 títulos estaduais. O Furacão tem 23. Sabe quem é o terceiro da lista? Um clube que nem atua mais no futebol profissional do estado. O Ferroviário conquistou 8 taças, seguido de outro extinto, o Britânia, e do Paraná Clube, com 7 títulos cada. Somente aí o interior do estado aparece. O Londrina tem 4 títulos e é o maior clube do interior em conquistas. O Grêmio Maringá, que luta para continuar existindo nas divisões de base, vem logo abaixo na lista, com 3 títulos. O Operário, que em 2015 foi campeão estadual e neste temporada subiu para a Série C do Brasileiro, só foi conquistar o primeiro título da história do clube em 2015, depois de 103 anos de fundação. No item 1, não citei Santa Catarina, pois lá também não há uma identidade estadual do futebol. A diferença é que lá a competição começa e ninguém sabe se o título vai ficar com Chapecoense, Joinville, Criciúma, Avaí ou Figueirense. Lá o campeonato começa com incerteza e emoção. Aqui no Paraná, o regulamento mudou, mas e a previsão (quase certeira) de quem vai ser campeão? Vai mudar?
4. Verba de direitos de transmissão e concorrência financeira
O futebol moderno não perdoa. Nos dias de hoje, para ter boa qualidade técnica, encher estádios e, consequentemente, quebrar favoritismos é preciso de muito dinheiro e administração profissional. Para todos os clubes do país, a maior fonte de renda é referente à comercialização dos direitos de transmissões televisivas. O problema do futebol paranaense é que esta verba é muito menor do que nos mercados próximos e concorrentes, como o paulista, carioca, mineiro, gaúcho e catarinense. Além do valor insuficiente, a distribuição é extremamente desigual. Dupla Atletiba fica com milhões, Paraná e LEC ficam com quase meio milhão cada um, e o resto, fica com um terço de milhão. Mas nos outros estados não é assim? Os clubes de Série A não recebem mais? Claro que recebem, mas os clubes do interior também recebem na casa dos milhões (e conseguem contratar medalhões). Tanto que é que os destaques dos times do interior do Campeonato Paulista, por exemplo, têm mercado certo na Séries A e B do Brasileiro, nos meses seguintes. Se a comparação é com São Paulo, equipes como LEC e Paraná brigam durante na pré-temporada para não perderem jogadores para equipes de Série A2 ou até mesmo A3 do Paulista. Ah! Ao término das últimas edições do Paranaense, sequer houve premiação.
OBS: Em 2017, Coritiba e Atlético não fecharam acordo com a emissora que detém os direitos de transmissão do Paranaense e não tiveram exibição de nenhum jogo. Resultado: final sem transmissão televisiva. A transmissão foi por internet e os clubes arrecadaram cotas de patrocínio de maneira alternativa.
5. Valorização da marca “Campeonato Paranaense”
Equipes que, no geral, não possuem estádios vistosos, histórico de títulos, de grandes feitos, como acessos, e não costumam participar de grande competições nacionais. Clubes que não enchem os estádios locais, não contratam grande jogadores… Você, empresário, investiria a marca da sua empresa em um campeonato formado por times assim? Qual é a empresa que vai querer pagar milhões para colocar nome (no termo técnico, adquirir os naming rights) no Campeonato Paranaense? Para os clubes, principalmente os considerados menores, as verbas provenientes do patrocinador da competição complementam as receitas dos direitos de transmissões televisivas. Receitas, claro, repassadas pela Federação Paranaense. As últimas empresas que fizeram isso foram a montadora Chevrolet, em 2014, e a Sanepar, em 2016. A cooperativa de crédito Sicredi apareceu apenas como patrocinadora da competição.
E aí, torcedor? Algo vai mudar além do regulamento?