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Cultura e Lazer

Após perder patrocínio da Petrobras, projetos tentam sobreviver

05 jul 2019 às 07:15
Por: Estadão Conteúdo

Quando a Petrobras anunciou, em fevereiro, a redução de patrocínios na Cultura, temeu-se pelo pior - 11 projetos foram diretamente afetados e havia dúvidas sobre sua continuidade. Afinal, só no ano passado, a estatal investiu R$ 135 milhões em todas as áreas culturais. Levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo, porém, mostra que ao menos 8 projetos garantiram sua manutenção para 2019, conseguindo recursos de maneiras distintas, desde contando com o apoio direto de seus fãs (como o crowdfunding promovido pelo Anima Mundi) até apoios locais (que garantiram os festivais de cinema de Brasília e Vitória).

Por enquanto, o Cinearte, o Festival do Rio e o Prêmio da Música Brasileira buscam soluções para não encerrarem suas atividades. Acompanhe a situação de cada um:

Cinearte

A crise começou em fevereiro, quando o produtor Adhemar Oliveira recebeu da Petrobras a notificação de que o conjunto de duas salas (de 300 e 100 lugares) no Conjunto Nacional estava perdendo o patrocínio. Há cinco meses, ele busca novos associados, mas sem resultados. A situação está se aproximando do limite do insustentável. Despesas com aluguel, pessoal. Adhemar já considera seriamente a possibilidade de fechar o espaço.

Festival do Rio

Outra situação crítica. A data do festival - outubro - aproxima-se e ainda não foi acertado patrocínio. O colegiado responsável pelo evento, e a diretora artística Ilda Santiago, buscam soluções para evitar um adiamento. "O que estamos fazendo junto a empresários e instituições é uma tentativa de sensibilização para o problema. Pois o Festival do Rio não faz apenas parte do calendário oficial da cidade - é um abraço no carioca, um incentivo à sua autoestima", diz Ilda. "Estamos chegando no limite. O festival é muito grande. Mesmo diminuindo, providências precisam ser tomadas. Não dá para postergar. Estamos quase à espera de um milagre, mas o Rio merece, o Rio precisa. O festival não pode desaparecer assim."

Festival de Brasília. O mais antigo do cinema no País também perdeu o apoio da Petrobras. Segundo o secretário executivo da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, Cristiano Vasconcellos, o evento poderá acontecer normalmente graças ao aporte direto do governo distrital, que investiu R$ 2,5 milhões, diretamente e por meio das empresas estatais de sua alçada. "Vamos manter o mesmo padrão porque o governo do DF está aportando os recursos", disse o secretário, que também lamentou os cortes do governo federal. "O investimento em Cultura gera emprego e renda, então vemos esses cortes com temeridade." A 52ª edição do evento será realizada entre 22 de novembro e 1º de dezembro (mais tarde do que ocorria nos últimos anos, geralmente em setembro).

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Festival de Cinema de Vitória. No Espírito Santo, vai cortar algumas de suas atrações para se adequar aos cortes no patrocínio. O Festivalzinho de Cinema, que atendia até 3,5 mil crianças, deve ser reduzido. A itinerância em cidades do interior também poderá deixar de acontecer, segundo a produção do evento. A 26ª edição terá o patrocínio do Ministério da Cidadania, através da Lei de Incentivo à Cultura, da ArcelorMittal, do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e da Ancine, com o apoio da Prefeitura Municipal de Vitória. "Não cobramos ingressos nas exibições, sendo assim uma oportunidade única para muitas pessoas terem contato com o cinema", explica a diretora, Lucia Caus. Mais de 100 filmes foram selecionados para o festival, que ocorre de 24 a 29 de setembro.

Mostra de Cinema de SP. A diretora Renata de Almeida garante a 43ª edição do cultuado festival para o período em 17 e 30 de outubro - em formato mais enxuto, com menos convidados e talvez menos filmes. Renata ainda acerta novas parcerias e já garantiu com Itaú, Sabesp, CPFL e Spcine - o patrocínio da Petrobras correspondia a aproximadamente 25% do orçamento. Mas ela continua o trabalho de garimpo, participando dos principais festivais internacionais.

Sessão Vitrine. Nesta semana, o projeto de formação de público anunciou sua permanência depois de assinar parceria com plataformas digitais, o que vai garantir a exibição de filmes nacionais tanto nas salas de cinema como por streaming. "Trabalhamos com o conceito de múltiplas telas", afirma Talita Arruda, coordenadora do projeto.

Anima Mundi

O mais tradicional festival de animação do Brasil garantiu sua sobrevivência por meio do apoio de fãs: em uma vaquinha realizada na internet, os organizadores conseguiram arrecadar os R$ 400 mil necessários para garantir a 27ª edição, que será de 17 a 21 de julho no Rio, e de 24 a 28 de julho, em São Paulo. Serão 303 filmes de mais de 40 países.

Teatro Poeira. Espaço teatral criado em 2005 pelas atrizes Andrea Beltrão e Marieta Severo, o Poeira, no Rio, figurou na lista de cortes de patrocínio. A estatal mantinha um projeto desde 2007 e os recursos apoiavam um programa de formação de artistas, com intercâmbios, oficinas e cursos gratuitos. Por lá passaram nomes como o diretor italiano Eugenio Barba, o cenógrafo Hélio Eichbauer, o diretor Hamilton Vaz Pereira e a diretora Christiane Jatahy. Em abril, o Poeira emitiu uma nota afirmando que o espaço não será fechado e que outras parcerias estão no radar. A programação das duas salas, Poeira e Poeirinha, não se beneficiava do patrocínio e, portanto, não foi interrompida.

Atualmente, estão em cartaz Todas as Coisas Maravilhosas, com o ator Kiko Mascarenhas, Meninas e Meninos, com a atriz Maria Eduarda de Carvalho, Quem Tem Medo de Travesti, de Silvero Pereira, e Antígona, solo de Andrea Beltrão.

Prêmio da Música Brasileira. O prêmio idealizado por José Maurício Machline, que existe há 30 anos, se firmou como uma das mais importantes festas da MPB. O patrocínio da Petrobras, com cerca de R$ 12 milhões por edição anual, garantia a premiação e os shows especiais realizados no Teatro Municipal do Rio. Procurado pelo Estado, o diretor Machline se disse cansado, mas preferiu não se pronunciar sobre o futuro. "Eu não gostaria de dizer nada nesse momento."

Casa do Choro

O espaço foi fundado em 2015 no Rio com patrocínio da Petrobras de R$ 950 mil para cada 18 meses. O dinheiro era usado para as despesas e o cachê das apresentações. A casa conserva também 18 mil partituras catalogadas e abertas para consulta pública. Sem a verba, o clube segue "no amor", sem verba da Prefeitura nem outra qualquer, reduzindo ou cortando cachês. Membros da produção e direção não ganham nada. "Temos uma equipe muito comprometida, todos são músicos", diz Luciana Rabello, cavaquinhista, compositora e presidente da Casa. Ele conta que o pior foi a forma abrupta com que o corte foi feito. "De uma hora para outra, não tivemos como nos planejar para isso. Eu entendo que há momentos de revisão, mudanças são saudáveis, mas é preciso sanear com responsabilidade para não destruir aquilo que está caminhando."

Clube do Choro

Um dos espaços mais tradicionais do País, o lugar de Brasília que revelou músicos como Hamilton de Holanda também perdeu a verba da Petrobras e deve seguir sua programação sem um novo patrocinador.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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