Com mais de 20 anos de batina, o padre Marcelo Rossi nunca se separa do ofício, nem mesmo quando dá entrevista sobre o mais novo trabalho, o CD e DVD Imaculada (Sony, R$ 24,90 e R$ 29,90). Talvez a entrega pode ter sido um dos fatores primordiais no diagnóstico do transtorno de ansiedade, da depressão e da crise do pânico em 2013. "Achava que depressão era frescura. Mas descobri que é real. Não consegui dormir por sete meses. Não pude tomar antidepressivo por causa do fígado. Foi muito difícil", lembra Rossi. "Estamos vivendo uma época de ansiedade. Nas viagens, em todos os espaços de mídia que fui, perguntei se tinha alguém de atestado e 50% eram pessoas com depressão. É tanta notícia má e informação ruim que você somatiza. Eu fazia isso como sacerdote", diz.
Curado da doença, conta que sente como se tivesse nova oportunidade. “Esse DVD foi uma excelência mística e sobrenatural. Tive uma segunda chance, um encontro com Cristo por meio da música. É uma oportunidade de poder ensinar as pessoas a saírem da depressão”. O padre afirma que o convívio com os fiéis foi essencial para a recuperação. “As pessoas me diziam coisas ótimas, cantavam para mim. Foi um processo de terapia”, afirma.
Após quatro anos de O tempo de Deus, Marcelo achou que era o momento de gravar novo material, mostrar que estava bem. “Precisava fazer algo. Tinha de mostrar que estava bem. No outro DVD, estava totalmente dopado de remédios à base de morfina para dor nas costas, acima do peso, com depressão. Foi também oportunidade de falar sobre depressão”, conta.
Imaculada foi gravado em agosto no Santuário Mãe de Deus, em São Paulo, em celebração aos 300 anos da aparição da Imagem de Aparecida. A megaestrutura fez com que ele caísse no palco. “Quando vi, não acreditei na estrutura. Tinha espelhos e contraluz, não dava para enxergar. Tenho o pé tamanho 47. Estava muito amarrado, com medo. Aí, pisei em falso, caí e me liberei. Aquele momento só pode ter sido graça de Deus. A partir daí, me libertei”, lembra. O material é composto por seis inéditas e canções dele famosas no meio católico, como Erguei as mãos, Sou um milagre e Anjos de Deus. "Percebi como o tempo passa. São mais de 20 anos, tinha que trazer músicas do passado também".
Durante a pausa na música, lançou livros como Kairós, Philia e Ruah: Quebrando paradigmas de que gordura é saúde e magreza é doença. O último escrito após incômodo do sacerdote em relação à própria alimentação. Formado em educação física, afirma que com o tempo foi deixando de lado o exercício físico, o que prejudicou a saúde. “É até uma vergonha. Mas deixei minha saúde em segundo plano. Esqueci da importância da endorfina e da serotonina. Para se ter um equilíbrio é preciso oração, alimentação e qualidade de vida”, acrescenta.
Rossi diz que sofreu preconceito até ser compreendido. “Nunca antes um padre tinha estado em um programa de TV. Se hoje há espaço para outros padres, foi porque abri essa porta. Alguns padres não aguentaram, porque não é fácil. Mas não me arrependo”. Próximo ao padre Fábio de Melo, outro sacerdote no meio artístico, aconselhou o amigo a se afastar da mídia para tratar a síndrome do pânico. “Ele me aconselhou a entrar nas redes sociais, onde posso ter um diálogo melhor com os jovens, público que quero atingir. Essa geração está sem propósito, não sabe o que faz na Terra. Coisas básicas que o ser humano está perdendo”, frisa.
Diário de Pernambuco