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Indústria da música no País tem crescimento acima da média internacional

03 abr 2019 às 07:15
Por: Estadão Conteúdo

Se tudo vai meio mal na economia do Brasil - as projeções mais recentes de crescimento do PIB no ano ficaram abaixo de 2% -, o setor musical teve boas notícias nesta terça-feira, 2. Dados dos Produtores Fonográficos Associados (Pro-Música Brasil) mostraram um crescimento de 15,4% das receitas do setor de música gravada no Brasil entre 2017 e 2018. O número é superior à alta do mercado global, que, segundo dados da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), ficou em 9,7%. As receitas da indústria em 2018 somaram US$ 19,1 bilhões - em 2001, antes dos 13 anos de quedas contínuas, o valor era de US$ 23 bilhões.

A marca de 9,7% representa o maior crescimento para a indústria da música desde que a IFPI começou a contabilizar os dados globais, em 1997, e agora são quatro anos seguidos de altas.

Os números são puxados para cima pelo streaming. No Brasil, o faturamento do setor aumentou 38% em um ano e hoje representa 69,5% do total. No globo, o streaming cresceu 34% e hoje representa 46,9% das receitas da indústria da música. Segundo o Global Music Report, no mundo existem 255 milhões de assinantes das plataformas de streaming, como Spotify, Deezer e Apple Music. Uma parte dessas receitas também vêm da publicidade nesses serviços e no Youtube.

O mercado de mídia física prosseguiu com sua tendência de queda. No mundo, esse segmento caiu 10% em receitas em relação a 2017, no Brasil, a queda foi ainda mais vertiginosa: 69%.

"O mercado físico teve um declínio muito acentuado desde o meio dos anos 2000 no Brasil. A razão é um setor de varejo muito deteriorado", explica o presidente da Pro-Música Brasil, Paulo Rosa. "Não se encontra mais lojas de música. Livrarias e lojas de departamento, que serviam de escoamento para a distribuição, continuam vendendo, mas com cada vez menos espaço. Isso se reflete no crescimento do setor digital brasileiro, acima da média mundial."

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Segundo Rosa, isso acontece porque existe uma demanda longamente reprimida para o mercado de streaming no Brasil. "A quantidade de aparelhos conectados à internet é muito grande, entre smartphones, tablets, PCs, etc. Talvez seja maior do que a população. Isso cria para o setor de streaming, que tem um modelo de negócio muito atrativo para o consumidor, uma situação favorável: oferecer com preços relativamente baixos qualquer música do mundo. Isso propicia para o mercado brasileiro um potencial que dificilmente se vê em outros mercados que já estão mais amadurecidos."

Rosa acredita que o ambiente saudável da indústria também depende do quadro macroeconômico e do poder de consumo da população, bem como de alguma recuperação do mercado físico. "Mas são boas notícias para a indústria", diz.

Gerações

Marcio Vidal, hoje com 68 anos, era uma criança quando seu pai sintonizava rádios de música caipira de São Paulo, na sala de estar, numa época em que a televisão era artigo raro. Foi ali que ele conheceu a música de Tonico e Tinoco, Nelson Gonçalves, Anísio Silva e Ângela Maria. Seis décadas depois, hoje ele pode redescobrir e explorar as canções da infância com um celular novo, no qual utiliza apenas o aplicativo do Youtube, conectado a uma caixinha de som via bluetooth. "Descobri um mundo novo."

O gosto pela música - que a partir da sua adolescência ganhou contornos de rock and roll, Beatles, Stones e MPB e ganhou a materialidade dos vinis - foi transmitido para os filhos. A filha Renata Vidal hoje recorda-se que o pai colocava um rádio no berço "porque não queria criança enjoada com barulho". Se o pai descobria Nat King Cole, Johnny Rivers e Celly Campelo pelo rádio, a filha tomava gosto por Alice Cooper, Metallica e companhia na coleção paterna, mas também nas danceterias da cidade e no programa Clipe Trip, da TV Gazeta. "O que a gente ouvia nas casas noturnas levava para dentro de casa. Meu pai é engraçado, ele esvaziava a sala, fazia decoração com luzes e botava música para a gente. Os policiais eram nossos amigos porque todo domingo batiam lá em casa", conta, com saudades.

Na época, a mídia ainda era o vinil, e quando o CD apareceu, nos seus 17 anos, se iniciou um período de doação dos LPs antigos, comum em muitas famílias, hoje lembrado com angústia. "Quase choro", brinca - uma de suas lembranças mais doídas é a doação de um disco do Alice Cooper, pela descrição que ela faz da capa, provavelmente Schools Out, de 1972. "Já fui em várias feiras e sebos, mas não acho", lamenta. Ela manteve na coleção, porém, o compacto de papelão de Roberto Carlos lançado em 1964, quadrado, numa promoção das canetas Sheaffer, com O Calhambeque.

Hoje em dia, porém, ela se rendeu ao streaming e ainda ouve arquivos mp3 no carro ("os carros já não tocam CD"). "No streaming, coloco no aleatório e também uso para explorar novamente artistas que gosto muito, como Johnny Cash."

A paixão da família por música acabou por influenciar decisivamente a escolha profissional da filha de Renata, Camila Cetrone, jornalista, 20 anos. Depois de crescer com as estantes de LPs e CDs, descobriu o gosto próprio assistindo clipes na Play TV e na Mix TV. "Comecei com CDs, até atrasada, tive um discman, na época escutava coisas de criança, como Felipe Dylon e Kelly Key. Depois comecei a criar gostos musicais, e ouvia num iPod Nano, por pouco tempo. Logo depois, foi celular."

Uma marca de geração é o incômodo que sentia ao "baixar" música da internet. "Talvez por ter crescido com música, sempre vi uma importância de bancar o trabalho do artista, pagar pelo que escuto, mesmo que seja R$16 por mês", conta. O streaming é hoje o protagonista de sua vida de exploradora musical, dadas as facilidades de acesso, mas ela também guarda um carinho para a coleção de vinis da família, que aos poucos ganha novas adições. "Vinil é caro. Gosto de comprar, ter um momento para escutar, é um ritual." O investimento, porém, é menos frequente do que o play diário no seu aplicativo preferido.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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