O agronegócio vai muito além da produção de alimentos e energia, chegando diretamente à rotina de cuidados pessoais dos consumidores. O amido de milho e a fécula de mandioca consolidam-se, cada vez mais, como insumos essenciais na fabricação de cosméticos de alta tecnologia.
Dados técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (ABAM) confirmam a versatilidade dessas culturas. Elas atuam como espessantes, estabilizantes e texturizantes, substituindo componentes sintéticos em produtos que vão desde cremes de barbear até protetores solares.
Do campo para a nécessaire
A utilização de derivados agrícolas na indústria da beleza responde a uma demanda crescente por produtos mais naturais e sustentáveis. No entanto, para que o milho ou a mandioca serem transformados em creme, eles passam por processos industriais rigorosos. O objetivo é extrair o amido ou a fécula com propriedades específicas para interagir com a pele humana. Esses ingredientes funcionam como "agentes de textura". Em termos simples, são eles que definem se um produto será mais líquido, mais cremoso ou se terá aquele toque seco ao ser aplicado no rosto.
A versatilidade do milho
O milho, uma das principais commodities do Brasil, tem papel de destaque nesse mercado. Segundo a lista de prioridades da Embrapa/Alice, o grão processado é base para diversos itens de higiene pessoal. O Zea Mays Starch (nome técnico do amido de milho nos rótulos) é amplamente utilizado em talcos e pós corporais. Sua principal função é a alta capacidade de absorção de umidade, mantendo a pele seca.
Além disso, estudos técnicos, como os disponíveis no Repositório Institucional do Centro Paula Souza, demonstram a eficácia desse amido em formulações mais complexas, como protetores solares sólidos. Nesses casos, o milho atua como uma barreira física e agente de textura, garantindo que o produto proteja contra os raios UV sem deixar a pele oleosa ou pegajosa.
Mandioca: da textura à embalagem
A mandioca, raiz genuinamente brasileira, não fica atrás em termos de inovação. A Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (ABAM) destaca o uso da fécula como um poderoso "agente ligante". Na indústria cosmética, o Tapioca Starch é valorizado por conferir viscosidade (consistência) e o desejado "efeito matte" ou toque seco em loções hidratantes, eliminando a sensação de gordura deixada por óleos tradicionais.
Mas a aplicação da mandioca vai além do conteúdo do pote. O setor aponta o uso da raiz no desenvolvimento de bioplásticos. Esses materiais são usados para criar embalagens biodegradáveis, que se decompõem naturalmente no meio ambiente, reduzindo o impacto do lixo plástico gerado pelo setor de beleza.
Inovação tecnológica na Amazônia
Um dos avanços mais promissores vem da pesquisa nacional. A Embrapa Amazônia Oriental identificou potenciais revolucionários em variedades específicas da raiz, conhecidas como "mandiocas açucaradas" (do tipo waxy ou glicogênio vegetal). Diferente da fécula comum, o amido extraído dessas variedades apresenta solubilidade em água fria.
Para a indústria farmacêutica e de cosméticos, isso representa uma vantagem econômica e ambiental enorme. Ao utilizar um ingrediente que se dissolve sem a necessidade de aquecimento, as fábricas economizam energia e simplificam o processo de produção de géis e cremes. Essa inovação posiciona o agronegócio brasileiro não apenas como fornecedor de matéria-prima bruta, mas como um parceiro estratégico no desenvolvimento de tecnologia verde para o mercado global de beleza.