Caramela é uma cadela de porte grande, mas o que realmente chama a atenção é a sua docilidade. Aos poucos, foi conquistando os moradores e, hoje, já tem uma casinha própria, onde recebe água, comida e, principalmente, muito carinho.
Um dos moradores que criou laços com ela é o taxista Miro, que faz questão de passar todos os dias para vê-la.
"Todo mundo aqui no condomínio, né? Todo mundo traz água, ração, teve a doação da casinha, doação de roupa. Ela já é a mascote do condomínio, bem querida, bem amável. Ela é amigável, mansinha, brinca com todos os outros animais aqui do condomínio. Se todo mundo adotasse um pouquinho, todos os cães teriam um lar", afirmou Miro.
Caramela é tão dócil que não conquistou apenas um tutor, mas um mutirão de pessoas no bairro Country. Até a equipe da Tarobá, que ela nunca havia visto, foi recebida com carinho e tranquilidade pela cachorra.
Ela é considerada um cão comunitário, ou seja, é cuidada por várias pessoas da vizinhança. Esse tipo de iniciativa, cada vez mais comum, vem se espalhando por diversos bairros da cidade. Na Avenida Brasil, no centro, uma loja mantém sempre água e ração disponíveis para os animais. No bairro Santo Inácio, cães abandonados ganharam até um "cãodomínio", com várias casinhas doadas pelos próprios moradores.
A empresária Eliane de Melo se sensibilizou com a situação dos animais que chegaram até ela. Hoje, garante alimentação, cuidados diários e, com a ajuda da comunidade, também promove a castração dos cães que ainda não têm um lar definitivo.
"A gente tinha um pessoal que morava aqui no prédio, o pessoal que tinha comércio aqui, todos começaram a se mobilizar e a ajudar. Aí quem foi passando e vendo que a gente sempre deixava comida, tinha as casinhas... Na época de frio, as pessoas doavam cobertores pra gente deixar ali para eles. Os cachorros reconhecem a gente e, todo dia, quando a gente chega, eles vêm recepcionar, pulando e brincando", contou Eliane.
No Paraná, existe uma lei que regulamenta os cães comunitários. Ela reconhece a figura do "cuidador", membro da comunidade responsável pelo bem-estar do animal. A legislação também incentiva a responsabilidade compartilhada no cuidado com os cães, com foco na castração, e é considerada um marco importante na proteção animal no estado.
A Polícia Civil esclarece que, em caso de ataque de um cão comunitário a uma pessoa ou outro animal, cada situação é analisada individualmente. O delegado Iam Leão explica que, se houver um dano causado por um cão, isso pode configurar crime de omissão de cautela ou até lesão corporal culposa.
No entanto, o mais importante é avaliar a conduta da pessoa envolvida na situação: se ela incitou o
cachorro, se o animal estava sob seus cuidados ou se havia guarda específica do animal.
No caso dos cães comunitários, como explicou o delegado, as pessoas apenas contribuem para melhorar a condição de vida do animal de rua, e não assumem guarda legal. Portanto, a responsabilização só ocorre em casos de incentivo ao ataque ou negligência.
Quando o cão tem um tutor identificado, a responsabilidade por um eventual ataque é diferente da de quem apenas ajuda com animais de rua.
"Uma das modalidades da omissão de cautela do animal é a possibilidade de guardar o animal de maneira incorreta, principalmente no caso de animais mais agressivos", complementou o delegado.
Pequenos gestos fazem grande diferença na vida de animais em situação de vulnerabilidade. É importante lembrar que o abandono de animais é crime federal, sujeito à detenção e pagamento de multa.
Fernanda Toigo, apresentadora do Jornal Tarobá, relatou que a Caramela, personagem de hoje, foi sua vizinha e que as pessoas que cuidam dela já custearam a castração da cachorra, pensando em ajudá-la a ganhar um lar definitivo.