Depois de um intervalo de dois anos em virtude da pandemia, um grupo de 80 mulheres de Londrina retornou em março às atividades do Estudo Longitudinal Envelhecimento Ativo (Active Aging Longitudinal Study) que analisa o impacto do treinamento de força muscular sobre a saúde de mulheres na pós-menopausa. O estudo é desenvolvido por pesquisadores do Grupo de Estudo e Pesquisa em Metabolismo, Nutrição e Exercício (Gepemene), no Centro de Educação Física e Esporte (Cefe), da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
O projeto começou em 2012 e completa 10 anos oferecendo a prática de treinamento padronizado e supervisionado a mulheres da terceira idade. É considerado o maior estudo mundial na área de treinamento de força em mulheres com mais de 60 anos. Os pesquisadores já produziram 100 artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais, além de 30 trabalhos acadêmicos, teses de doutorado e dissertações de mestrado. Estes números conferem ao projeto o status de detentor de 7% da produção acadêmica e científica nesta área de investigação.
O coordenador do projeto, professor Edilson Serpeloni Cyrino, do Departamento de Educação Física, afirma que o treinamento de força, em particular a musculação, pode ser uma ótima estratégia para combater muitos dos efeitos prejudiciais associados ao envelhecimento, porque previne e controla diversas doenças crônico-degenerativas como hipertensão, diabetes, cardiopatias, obesidade, dislipidemia (alterações nos níveis de colesterol e de triglicérides), artrose, osteoporose, entre tantas outras.
Além disso, a prática regular do exercício fortalece os músculos e melhora o equilíbrio estático e dinâmico, reduzindo o número de quedas e fraturas. Também auxilia na melhora da qualidade do sono e controle da ansiedade e depressão. Dados publicados recentemente pelo Gepemene demonstram, ainda, que a prática regular da musculação em mulheres idosas está relacionada com a melhoria das funções cognitiva e executiva.
“Ao envelhecer sofremos naturalmente diversas modificações, das quais a redução da força e da massa muscular, concomitantemente ao aumento de gordura corporal, principalmente na região do tronco (visceral). Isso torna muito mais fácil o declínio da saúde, da autonomia e da qualidade de vida”, diz o professor. Tais mudanças ao longo dos anos, em especial nas mulheres, estão associadas à redução na produção dos principais hormônios femininos (estrógeno e progesterona), fenômenos que acompanham a menopausa.
No que diz respeito aos depósitos de gordura, o efeito do envelhecimento ocorre na contramão da juventude. Se em mulheres jovens o acúmulo de gordura ocorre predominantemente nas chamadas regiões periféricas (braços e pernas), na velhice o excesso de gordura se concentra na região do tronco (cintura e abdômen).
Uma importante consequência desta mudança na distribuição da gordura corporal é a maior predisposição para o desenvolvimento de diversas doenças, com destaque para problemas cardíacos e alguns tipos de câncer como de mama, de útero, de cólon e reto.
Os estudos do Gepemene confirmam que o quadro clínico pode ser atenuado, ou até mesmo revertido total ou parcialmente, a partir da prática regular de exercícios físicos adequados às diferentes necessidades, que respeitem os limites do próprio corpo e os ciclos da vida. “Entendemos que quanto mais velha a pessoa, mais ela vai necessitar de cuidados especiais, sendo a prática de exercícios a receita fundamental para um envelhecimento saudável com autonomia e qualidade de vida”, acrescenta o coordenador do grupo.
Nesse sentido, a prática do treinamento de força em idosos apresenta uma série de vantagens quando comparada a outros tipos de exercícios, visto que exige pouco deslocamento, os movimentos podem ser realizados de maneira suave, respeitando as limitações articulares bastante comuns com o avançar da idade.
Além disso, os exercícios podem ser feitos em posições confortáveis (sentado ou deitado), e a prescrição das atividades pode ser individualmente. Vale destacar ainda que o risco cardiovascular desse tipo de exercício é reduzido, de modo que a prática de musculação por idosos é considerada bastante segura.