Dentre quase três mil alunos que haviam enfraquecido seus vínculos com as escolas no ano de 2021 e corriam o risco de evasão escolar, um trabalho de busca ativa e acompanhamento, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação, conseguiu recuperar 96,8%. A ação é conduzida pelo programa Professor Mediador Facilitador Escolar e Comunitário (PMFC), que atende alunos de Educação Infantil, séries iniciais do Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos (EJA) da área urbana e distritos.
O programa faz parte da Coordenadoria de Mediação e Ação Intersetorial (COMAI) da SME e é composto por vinte professores. A secretária municipal de Educação, Maria Tereza Paschoal de Moraes, lembrou que a ação de busca ativa é desenvolvida na rede desde 2019. “São professores que vão atrás de todas as crianças. É algo extremamente importante, porque ninguém fica para trás. Todas as crianças importam e, independente de sua situação, trabalhamos para que tenham seu direito à educação atendido”, frisou.
Em todo o ano passado, o programa Professor Mediador entregou 9.194 kits de materiais pedagógicos para serem utilizados nas atividades remotas e 1.111 cestas de alimentos. O trabalho é setorizado, dividindo a cidade entre cinco regiões, e os professores atuam em duplas para fazer a ponte com famílias e alunos que enfrentam dificuldades no acesso ao ensino.
As atividades remotas foram implementadas na rede municipal por conta da pandemia de Covid-19, e muitos estudantes se viram sem condições de acompanhar o conteúdo escolar por falta de acesso à internet, vulnerabilidade social, entre outros fatores. Dessa forma, as famílias que não mantinham diálogo com as unidades escolares nem retiravam as atividades pedagógicas foram repassadas ao professor mediador, que visita a residência para descobrir o contexto em que esta criança está inserida e debater, junto com a rede intersetorial de proteção social da criança e do adolescente, como essa situação pode ser revertida.
Em vários casos, mesmo com a retomada gradual do ensino presencial, os alunos não compareciam na escola. Em 2021, 2.853 crianças e adolescentes foram atendidos pela busca ativa por estarem em risco de evasão escolar. Deste total, 2.762 tiveram o vínculo recuperado e voltaram a frequentar as aulas, ainda que remotamente.
Segundo a gerente de Educação Especial da SME, Cristiane Sola, a busca ativa envolveu tanto os alunos com dificuldade em aderir à rotina escolar como àqueles que não conseguiam realizar a atividade remota, modalidade disponível até o ano passado. “Esse trabalho foi feito para descobrir onde estavam essas crianças, porque muitas tinham mudado de endereço e até de município. Dessa forma, foi possível atualizar os cadastros escolares, retornar esse estudante para o presencial ou vincular pelo ensino remoto. E isso começa quando a escola aciona o serviço e a equipe faz a busca ativa, conversa com as famílias e propõe o retorno do aluno”, detalhou.
Muitos dos casos atendidos eram referentes a alunos e pais que não conseguiam acompanhar ou compreender o conteúdo pedagógico e acabavam abandonando as atividades. Para atender esse público, os professores mediadores realizaram as visitas pedagógicas – 7.836 no decorrer de 2021. “A equipe escolar, formada pelos professores e coordenadores pedagógicos, desenvolveu um trabalho de recomposição do aprendizado que incluiu atendimento remoto e presencial. E os mediadores faziam essas visitas pedagógicas, indo até a residência para esclarecer a criança e auxiliar nas tarefas”, explicou a gerente.
De todos os casos repassados para a busca ativa, 91 estudantes não foram localizados nos endereços, mesmo com as equipes consultando outros serviços socioassistenciais para identificar as famílias, ou não retornaram para a unidade escolar, apesar da sensibilização feita pela equipe. “De 45 mil alunos matriculados, o trabalho de busca ativa envolveu quase três mil e, ao final de 2021, apenas 91 crianças não conseguimos resgatar por diferentes fatores. Consideramos uma ação de sucesso, pois o trabalho de busca ativa foi bem intenso e ao final resultou nesse índice alto de resgate”, comentou Sola.
Uma das integrantes do programa é Rafaela Bernardes do Prado Martins, professora na rede municipal desde 2012 e que passou a atuar como professora mediadora no segundo semestre de 2020. Ela explicou que muitas famílias atendidas pelo PMFC possuem vulnerabilidade socioeconômica, prejudicando o acesso das crianças e adolescentes ao direito da educação.
Um dos casos de sucesso citados pela professora envolve as irmãs Kauany, Kethellyn e Kemilly. Moradoras do Jardim Nova Esperança, elas eram matriculadas na Escola Municipal Zumbi dos Palmares e, sem acesso à internet em casa, não participavam das atividades nem faziam contato com as professoras no decorrer das aulas remotas. A pedido da equipe escolar, as professoras mediadoras iniciaram um intenso trabalho de sensibilização da família, que envolveu outros órgãos de proteção social.
Agora, as alunas foram transferidas para uma unidade mais próxima da residência, localizada na zona sul, e estão frequentando as aulas presenciais todos os dias, sem faltarem. “A professora mediadora e a equipe conseguiram que elas continuassem tendo um vínculo com a escola, ou seja, elas não iam às aulas porque não queriam, mas por falta de oportunidade, de apoio da família e incentivo. Agora, com essa proximidade da escola e com o vínculo mantido, elas vêm todos os dias e é muito gratificante vê-las aqui”, disse Martins.
Dentre as justificativas que as famílias apontavam durante as visitas de busca ativa, a professora elencou como mais comuns as dificuldades econômicas e de compreensão das matérias escolares. “Uma das questões que mais apareciam eram os próprios pais ou cuidadores, principalmente avós, não entenderem o conteúdo escolar e por isso não explicarem aos alunos, que deixavam de fazer. E a questão do empobrecimento afetou muito, porque correr atrás de uma fonte de renda se tornou prioridade em muitas casas, os pais ficavam sem espaço na rotina para o apoio escolar dos filhos. Há também casos de filhos mais velhos que passaram a ficar com os irmãos sob sua responsabilidade em tempo integral, sem horário ou disciplina para estudar”, citou.