O "golpe popular" pelo qual passou a Bolívia ontem terá pouca influência no Brasil ou em outros países da América Latina. A avaliação é do cientista político David Fleischer, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB).
Segundo Fleischer, a "ânsia de poder" do ex-presidente Evo Morales, que buscava um quarto mandato, o fez ignorar a vontade da população, que, em um referendo, havia votado contra a candidatura do líder indígena.
Não entendo que esses protestos ou que essa renúncia possam ter influências no Brasil e em outros países da América Latina", afirmou Fleischer, dizendo que nações como Equador ou Chile, que passaram por protestos recentes, vivem processos e realidades particulares. "No Brasil, não creio que passaremos de declarações do ex-presidente Lula lamentando."
Segundo Fleischer, mobilizações a favor de Evo no Brasil seriam lideradas por Lula, que enfrenta resistência em grande parte da população. "Onde ele vai, há gente contra", disse, destacando que o ex-presidente pode reforçar o cenário de radicalização política no Brasil.
O analista afirmou ainda que as Forças Armadas do Brasil e o Itamaraty seguramente acompanham atentamente a situação, estão preparados para os desdobramentos e ressaltou que a queda de Evo é favorável ao governo do presidente Jair Bolsonaro, assim como enfraquece a esquerda ligada a Lula, que busca construir uma aliança na região.
Para Fleischer, a insistência de Evo em se manter no poder fez com que seu grupo não tivesse uma liderança renovadora. "Não há uma liderança em ascensão em seu partido. A enorme crise política o fez sofrer um golpe popular, já que até mesmo os militares e a polícia estavam frustrados e pediam sua saída", disse. Com a renúncia também do vice-presidente, dos presidentes do Senado e da Câmara, Fleischer entende que a situação abre caminho para o segundo colocado na eleição, o ex-presidente Carlos Mesa, após um governo transitório.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.