Enquanto líderes europeus fazem planos para reabrir suas economias, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse ontem que a pandemia de coronavírus "ainda está no começo" e afirmou que algumas regiões da Alemanha, um dos países que melhor conseguiu conter o surto, estariam saindo rápido demais do confinamento.
"É justamente porque os números dão esperança que me sinto obrigada a dizer que este resultado provisório (de contenção da pandemia) é frágil. Estamos sobre gelo fino, o mais fino que já se viu", disse Merkel ao Parlamento. "Ainda estamos longe de estarmos fora de perigo. Não estamos vivendo a fase final da pandemia, mas ainda o início."
A Alemanha está entre os países mais infectados do mundo. Com mais de 150 mil casos confirmados, ela está atrás apenas de EUA, Espanha, Itália e França. No entanto, o que permite medir o sucesso da abordagem alemã é o número de mortos: 5,4 mil - quando vezes menos que os franceses e cinco vezes menos que os italianos.
O sucesso alemão passa por um programa metódico de testagem. O nível de exames no país chega a 20 mil para cada milhão de habitantes. Ao lado dos exames caminha um processo de monitoramento rigoroso dos infectados, que facilita o isolamento de pessoas e evita o contágio para os mais vulneráveis.
Ontem, Merkel disse que a população pode estar relaxando os esforços de distanciamento social depois que os governos regionais e federal concordaram em reabrir lojas de até 800 metros quadrados nesta semana. Concessionárias de carros e livrarias também receberam o sinal verde, mas precisam manter um distanciamento social rigoroso. As escolas recomeçarão no dia 4 de maio.
A chanceler também defendeu ontem que a UE estabeleça um pacote de ajuda econômica para conter a instabilidade criada pela pandemia nos próximos dois anos. "No espírito da solidariedade, devemos estar preparados, por um período de tempo limitado, para fazer contribuições maiores ao orçamento da UE", disse Merkel.
O embate da Alemanha é pelo futuro do bloco. Itália, França e Espanha exigem uma política mais distributiva dos burocratas de Bruxelas. Quem vem impedindo o pacote são países como Áustria, Finlândia e Holanda. Pressionado pelas eleições, em março do ano que vem, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, por exemplo, teme abrir o bolso e virar alvo da extrema direita.
Representantes dos 27 países da UE fizeram uma videoconferência ontem para tentar organizar um fundo conjunto de ¤ 2 trilhões (cerca de R$ 12 trilhões) para evitar o colapso dos países mais afetados. No entanto, eles precisam decidir a quantidade de dinheiro, de onde tirá-lo, como gastar e quem contribuiria mais.
Abertura
Na França, o presidente Emmanuel Macron afirmou ontem que apresentará um plano para começar a sair da quarentena na próxima semana. Na semana passada, Áustria, República Checa e Dinamarca retomaram algumas atividades e flexibilizaram a circulação de pessoas.
A região mais afetada da Itália, o norte da Lombardia, deve seguir na mesma direção. Os italianos planejam uma reabertura a partir do dia 4 e o governo ainda vai anunciar as fases da retomada das atividades.
O ponto em que todos concordam é de que a abertura deve ter novas regras para o comércio e o mínimo possível de aglomerações para evitar uma segunda onda de contaminação na Europa, que registra um total de quase 1,2 milhão de casos com 114 mil mortes. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)