O presidente dos EUA, Donald Trump, decidiu ontem se retirar de outro acordo importante de controle de armas, o Tratado de Céus Abertos, em vigor há 18 anos, que permite que seus integrantes realizem voos de reconhecimento sobre o território de outras nações para monitorar possíveis movimentos militares, com o objetivo de estabelecer uma relação de confiança entre os governos.
O governo russo deve ser informado oficialmente hoje do rompimento, segundo o secretário de Estado, Mike Pompeo. "A Rússia não aderiu ao tratado", disse Trump. "Até que eles se juntem, nós nos retiramos."
Este é o terceiro acordo de controle de armas do qual Trump decide retirar os EUA desde o início de seu governo. O primeiro pacto abandonado foi sobre o programa nuclear do Irã, em 2018. No ano seguinte, a Casa Branca deixou o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), que limitava os arsenais atômicos dos dois países.
Autoridades americanas há muito reclamam que Moscou estava violando o Tratado de Céus Abertos ao não permitir voos sobre uma cidade onde a Rússia estaria construindo armas nucleares que poderiam alcançar a Europa, além de proibir o monitoramento sempre que os russos realizavam exercícios militares.
Em relatórios sigilosos, o Pentágono e as agências de inteligência americanas sustentaram que os russos também estão usando voos sobre os EUA para mapear a infraestrutura do país, que poderia ser atingida por ataques cibernéticos. Assessores dizem que Trump ficou irritado com um avião russo que sobrevoou seu campo de golfe em Bedminster, nos Estado de Nova York, em 2017.
A decisão do presidente dos EUA já é vista como mais uma evidência de que ele também pode estar pronto para abandonar o único tratado de armas que resta com a Rússia: o "New Start". Esse pacto limita os Estados Unidos e a Rússia a possuírem 1.550 mísseis nucleares cada. O acordo expira semanas após a próxima eleição presidencial, em novembro.
Ontem, a Rússia afirmou que a saída americana é um "golpe" para a segurança europeia. "A retirada dos EUA desse tratado significa não apenas um golpe nas bases da segurança europeia, mas também nos instrumentos militares existentes e nos interesses essenciais de segurança dos aliados dos EUA", disse o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Alexandre Grouchko. "Não é um tratado bilateral, mas multilateral. E uma decisão tão brusca afetará os interesses de todos os participantes, sem exceção."
De acordo com Grouchko, "nada impedia uma discussão mais aprofundada sobre os problemas técnicos que os Estados Unidos estão apresentando hoje, como, por exemplo, violações da Rússia", acrescentou o vice-ministro, acusando Washington de ter eliminado um "instrumento que serviu aos interesses da paz e da segurança da Europa nos últimos 20 anos". (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.