Só atrás do Panamá como pais mais afetado pelo coronavírus na América Latina, com 8 mortes por milhão de habitantes, o Equador registrava ontem 3.368 casos e 145 óbitos por causa da covid-19. A demora em adotar medidas de restrição de circulação e a negligência no trato da pandemia, que se espalhava rapidamente, explicam a calamidade pela qual passa o país.
O pior cenário está em Guayaquil, cidade mais populosa do país, a 400 quilômetros de Quito. Com 2,6 milhões de habitantes, comércio dinâmico e endereço frequente de voos internacionais, as autoridades demoraram para levar a sério a pandemia que já atingia China, Itália e Espanha.
"As autoridades falavam que era só uma gripe, estimulavam o pessoal a ir trabalhar porque o país precisava", afirmou o médico Carlos Erazo, professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Equador. "Ninguém sabia o que era esse vírus, como ele se desenvolveria e sua a gravidade."
Nos últimos dias, o país foi tomado pelo medo, com corpos cobertos com plásticos espalhados pelas ruas. O necrotério municipal está cheio e o governo trabalha para criar uma força-tarefa para a crise. Entre domingo e quinta-feira, foram removidos 150 corpos das residências.
"As funerárias não estão retirando os corpos porque estão fechadas. Ninguém quer tirar os cadáveres porque as pessoas estão com medo de se infectar. Não tem como comprar caixão, não tem médico para fazer a autópsia e os parentes tiram os cadáveres de casa", disse Erazo.
Os hospitais estão lotados. As filas são enormes e, para piorar, muita gente está com medo de ir até os postos de saúde para tratar de outras doenças consideradas "curáveis". Pesa contra Guayaquil, que concentra 7 em cada 10 casos de coronavírus no país, a forte migração de equatorianos que foram viver na Espanha e na Itália e voltam todos os anos para visitar as famílias, entre dezembro e fevereiro.
Isolamento
A primeira paciente detectada com coronavírus chegou ao país em 14 de fevereiro e teve o diagnóstico confirmado 15 dias depois. O isolamento social só foi determinado em 14 de março, mas ainda assim foi desrespeitado. Lojas abriram, houve casamentos, parques podiam ser frequentados e houve eventos públicos. As pessoas continuavam circulando.
"Não houve controle nos aeroportos, demorou a haver isolamento, nem todo mundo levou a sério", afirmou a deputada Cristina Reyes. "Foi uma cadeia de erros até chegarmos a esse desastre."
O governo disse que obrigará as funerárias a trabalhar e garante que as acusações de negligência vêm de "uma rede que tenta produzir notícias falsas para criar medo e causar caos", conforme informou o jornal El Comercio. "Não vamos ecoar notícias falsas que têm intenção política", escreveu o presidente equatoriano, Lenín Moreno, no Twitter.