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Redução da classe média se acelera na Argentina

24 out 2019 às 13:20
Por: Estadão Conteúdo

O publicitário Juan Cristóbal Miranda, de 43 anos, deixou a classe média argentina em maio. Ele já havia percebido a diminuição do trabalho, mas se surpreendeu com a demissão após dez anos na mesma agência. Ao deixar de ganhar 45 mil pesos (R$ 3 mil) para receber pouco mais da metade em trabalhos esporádicos, Juan ingressou na faixa dos considerados pobres. Este grupo hoje engloba 35,4% da população, segundo dados da Universidade Católica Argentina.

Agustín Salvia, responsável pelo estudo, destaca que o aumento de cerca de 7 pontos porcentuais se deve justamente a casos como de Miranda. Gente que não sabia o que era pobreza, pelo menos desde a crise de 2001.

Segundo um estudo paralelo, do Instituto de Pensamento e Políticas Públicas (IPyPP), desde 2015 2,7 milhões de argentinos deixaram a faixa da classe média. A redução regular deste grupo, durante décadas associado a um desenvolvimento maior da Argentina em relação aos vizinhos, é um dos temas principais da eleição de domingo, na qual Mauricio Macri busca a reeleição.

O favorito é Alberto Fernández, escolhido por Cristina Kirchner como cabeça da chapa peronista. Ela é candidata a vice, cargo que lhe garante uma vaga no Senado e imunidade parlamentar. Cristina deixou o poder em 2015 sob acusações de corrupção, processos pelos quais é ré na Justiça.

Até o domingo, o jornal O Estado de S. Paulo abordará diferentes ângulos do desgaste da classe média no país vizinho. O primeiro deles é o desemprego que atingiu Miranda e, por consequência, afetou a renda de Norma, encarregada de limpar o apartamento dele.

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"Passei a limpar a casa eu mesmo, pois precisei controlar os gastos. É um efeito dominó, que atinge desde a classe média até as camadas mais populares", afirma Miranda, ainda incluindo-se no primeiro grupo.

Crise

O desemprego na argentina é de 10%, mas chama a atenção de especialistas o fato de 29% da população economicamente ativa estar procurando emprego. "Muita gente aparece como ocupada, mas está procurando trabalho porque a desvalorização do peso tornou o salário insuficiente", diz Claudio Lozano, economista do IPyPP.

Este é o caso de Victor Hugo Castillo, que há 11 anos se formou em direito e não consegue fazer o caminho oposto. Graduado na conceituada Universidade de Buenos Aires (UBA), mesmo lugar onde Alberto Fernández dá aulas de direito penal, Castillo conquistou formação suficiente para chegar à classe média.

Ele ficou conhecido na imprensa argentina por ter se graduado após passar pela penitenciária de Devoto, uma das mais perigosas do país. Teve alguns casos trabalhistas, mas não engrenou. Trabalha hoje numa fundação que faz obras de saneamento na Villa 31, a favela mais antiga de Buenos Aires.

"Tenho esperança ainda de exercer minha profissão. Cheguei a ter uma renda de classe média há três anos, mas voltei à turma dos pobres", diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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