Após um ano sob abusos do companheiro e cárcere provado, Michele Vieira, de 29 anos, conseguiu escapar. Vítima de violência doméstica, ela procurou ajuda na UBS do Itapoã.
Agora, ela consegue sorrir e ser ela mesma, experimentando a sensação de liberdade e paz, porque, finalmente, conseguiu sair de um relacionamento abusivo e tóxico.
Michele conta que tudo começou como um conto de fadas. Ela tinha 19 anos e ele, 17.
“Quando ele me conheceu eu trabalhava em uma lanchonete (...) e ele no circo. Eu tinha aquele sonho de ir pro circo, então foi amor à primeira vista. Ele perguntou se eu ia embora com ele e a gente foi. Passamos um ano e meio no circo, como se fosse um conto de fadas”.
Após o segundo ano de convivência, o companheiro se transformou. Com o abuso de álcool e drogas foi piorando, principalmente, após o nascimento dos filhos.
“Primeiro ele começava a falar que eu era mãe só das crianças. Eu era uma ótima mãe. ‘Você é uma péssima esposa, você não cuida de mim, você não me dá atenção, você é obrigada a lavar meu sapato do serviço (...). Eu bebo por causa disso, porque você só dá atenção às crianças, você não olha pra mim”.
Sofrendo sozinha e calada, Michele entrou para grupos de apoio, fazendo acompanhamento social e psicológico. Ela começou a enxergar que não era amor e que sofria, também, abuso sexual.
“Quando eu me toquei que aquilo era abuso, eu pensei: ‘gente, eu ‘tô’ sendo abusada sem saber. Porque eu falava que não queria, mas, com pouco mais de um mês de gestação, ele forçou uma relação. Eu falei que estava doendo, ele disse que era tesão. Depois disso, eu perdi o bebê”.
Michele chegou a registrar Boletins de Ocorrência, mas, com medo e sem provas, recuava. O ex-companheiro se recusava a sair de casa.
Ela, então, passou a se fazer de louca e depressiva para defesa pessoal.
“Como ele acreditou que eu ‘tava’ numa depressão muito profunda, ele começou a querer me comprar, me dando coisas que eu gosto. Quando ele deu essa estabilizada nas agressões psicológicas, eu decidi tomar uma iniciativa”.
Após um ano e três meses, colocou o plano em prática na última segunda-feira (09).
Conseguiu que as crianças fossem para a casa dos avós, numa outra cidade e alegou que precisava falar com a psicóloga da UBS do Itapoã. Lá, pediu socorro. A Polícia Militar (PM) foi chamada e o ex-companheiro foi preso em flagrante.
As provas foram os abusos durante o fim de semana.
“Ele cometeu um abuso, na madrugada de sábado para domingo e de domingo para segunda. Eu não queria. Para falar a verdade eu ‘tava’ dormindo e quando acordei, já ‘tava’ no ato.
Michele, finalmente, pôde formalizar a denúncia e conseguiu uma medida protetiva. O ex-companheiro passou pela audiência de custódia. A prisão temporária foi convertida em preventiva. O que, neste momento, traz um certo alívio pra ela.
No inferno em que vivia, nasceu um projeto e um propósito: o Bruxa Madrinha, para ajudar outras pessoas que são vítimas de algum tipo de violência.