No mês de conscientização sobre a violência contra a mulher, conhecido como "Agosto Lilás", o Tribunal do Júri de Londrina julga cinco casos de feminicídio tentado, um recorde de julgamentos concentrados em apenas um mês desde o início de 2023.
Três destes casos estão agendados para esta semana e serão acompanhados por Néias - Observatório de Feminicídios de Londrina, como descrito abaixo. Os julgamentos ocorrem no Tribunal do Júri a partir das 9 horas. Na terça-feira, Néias expõe no local o painel “Espaço do Silêncio”, de Nina Caetano, um manifesto de alerta sobre os feminicídios no Brasil.
O caso de Simoni
No dia 15 de agosto (terça-feira), será julgado Vinicius Leonardo Cardoso, acusado pelo feminicídio tentado de sua companheira Simoni Aparecida Brandt Gross. Ele tentou matá-la na frente de uma das filhas do casal, que tinha 11 anos à época, após uma tentativa dela de deixá-lo.
O crime ocorreu há mais de 5 anos, em 26 de março de 2018, mas o julgamento já foi adiado três vezes. Vinícius trabalhava como mecânico e era o provedor da família. Simoni, insatisfeita com o relacionamento e com a vida de dona de casa, naquele dia decidiu procurar trabalho e, assim, ter condições de viabilizar a separação,o que deixou Vinicius irritado.
Ao decidir deixar a casa, Simoni ligou para a polícia em uma tentativa de conseguir proteção para sair em segurança. Ao saber do chamado, Vinícius reagiu violentamente e a perseguiu pela rua, atacando-a com golpes de faca quando ela se desequilibrou e caiu.
Para Néias, a tentativa de feminicídio contra Simoni chama atenção sobre como a dependência econômica da mulher em relação ao réu revela sua vulnerabilidade no
exercício de sua autonomia e na defesa de seus direitos.
O caso de Aldineia
No dia 16 de agosto será julgado Júlio César de Oliveira, acusado pelo feminicídio tentado de Aldineia Florentino. Os fatos ocorreram no dia 20 de fevereiro de 2022, quando ela preparava o almoço em sua residência na zona oeste de Londrina e se deparou com o acusado, de quem havia se separado há cerca de três semanas, na porta de sua cozinha. Conforme os autos do processo, eles tiveram um relacionamento curto pois Aldineia não tinha interesse em manter a convivência.
No dia do crime, após Aldineia ter se recusado a reatar o relacionamento, Julio Cesar teria dito que “se você não ficar comigo, não vai ficar com ninguém” e começou a esboçar comportamento agressivo em relação a ela, que terminou atingida por uma faca e batidas na cabeça contra um carro.
Para Néias, o caso revela preocupação com uma situação que tem se tornado frequente, a violência contra mulher em relacionamentos breves e eventuais.
O caso de Camila
No dia 17, quinta-feira, vai a julgamento a tentativa de feminicídio de Camila Cardoso Matias, ocorrida na madrugada do dia 18 de janeiro de 2020 na zona rural de Tamarana. O ex-companheiro, Willian Gustavo do Nascimento, é acusado de ter agredido física e verbalmente a vítima e, na sequência, ter atirado três vezes contra ela, só não tendo consumado o crime porque a arma falhou. Camila passou um mês internada, passou por cirurgias e permanece com uma bala alojada no corpo. Willian responde em liberdade.
Além desses casos, o primeiro julgamento do mês de agosto, no dia 1, tramitou em segredo de Justiça e resultou na condenação de Rafael Lucas a 12 anos e um mês de reclusão, a serem cumpridos inicialmente em regime fechado. E no dia 22 de agosto, será julgado Osmair Martins Esteves, acusado pelo feminicídio tentado de Ediane Alves Barbosa.
Néias chama atenção para a importância de denunciar e julgar com rigor os casos de feminicídio tentado, que resultam em graves sequelas na vida das vítimas. Muitas vezes, as mulheres que sobrevivem a tais agressões enfrentam a perda de renda, moradia e vivenciam um estado constante de medo, com repercussões negativas na sua saúde emocional.
Para Néias, a tentativa de matar uma mulher - mesmo quando ela sobrevive - é uma forma cruel e devastadora de violência de gênero que repercute na existência futura das mulheres e suas famílias.