A paralisação da engrenagem de funcionamento do agronegócio de suínos e aves, talvez a mais grave por comprometer a saúde animal, deverá gerar sérios problemas sanitários e o Brasil terá de estar preparado para um contingenciamento de problemas que até agora nunca foi vivido. O tempo que a situação vai levar para ser normalizada vai potencializar o problema de gestão, com os produtores tendo que disputar as entregas de alimentos - diante de uma demanda pulverizada e elástica, com o fluxo de oferta também caótico -, como cuidar da sanidade das unidades.
“Vamos ter situações graves, com a baixa resistência de aves e suínos especialmente pela restrição alimentar, colaborando para disseminação de bactérias”, afirma Ênio Marques, por duas vezes secretário da Defesa Sanitária brasileira. As feridas causadas especialmente nas aves, que se bicam estressadas pela fome, são outras condutoras importantes de vetores de doenças.
E isso quando se fala de animais que resistiram. “Imagina”, complementa, “a quantidade de mortes por inanição e canibalismo e a falta de capacidade de manejo de muitas e muitas granjas, que não têm nem como retirá-los das propriedades”. Ele lembra também a dificuldade em manter a calefação a gás no Sul como outra variável que implica em mortes.
Entre suínos e aves, mais ainda na segunda, se admite uma mortandade natural em torno de 2 a 3% do plantel, que devem ser aproveitadas nas compostagens da granjas. Mas o experiente consultor de sanidade agropecuária, da Agrosilution, não acredita que isso é feito, inclusive há anos que se sabe, no setor, que os funcionários costumam levar os animais mortos para casa. Até mesmo comercializando informalmente nos pequenos varejos. E mesmo nos estabelecimentos que conseguem cumprir as normas, não se consegue dar conta agora.
E sacrifício controlado igualmente é complicado, pois além de haver necessidade de a fiscalização presente, os granjeiros integrados, a maioria, não são proprietários dos animais. São fiéis depositários das integradoras.
De acordo com Ênio Marques, há um projeto de lei – e, como muitos nesse País, parado em alguma gaveta de Brasília – que tenta autorizar a venda desses animais diretamente para as graxarias.
As aves são mais suscetíveis, suínos menos, até pelo ciclo bem mais curto. Quanto aos bovinos, em confinamento, a resistência é maior, mas também começam a gerar doenças oportunistas. Marques traz também a situação da aqüicultura, setor pouco lembrado.
“Além da falta de ração, boa parte da atividade vai ser liquidada, porque a falta de gás para a produção de alevinos é fatal”, explica
Fonte : Noticias agrícolas