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Bia Ferreira, a brasileira campeã mundial de boxe que nasceu para lutar

23 out 2019 às 16:00
Por: Estadão Conteúdo

Uma mulher alegre, corajosa, valente e confiante. Uma boxeadora forte, talentosa e técnica. Esta é Bia Ferreira, 26 anos, campeã mundial peso leve (até 60 quilos), no Mundial da Rússia, eleita a melhor atleta da competição e apontada como favorita à medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio no ano que vem.

Quem vê Bia esbanjando jabs, cruzados, diretos e ganchos precisos e potentes pelos ringues não imagina que esta soteropolitana começou a carreira, aos quatro anos, na garagem de casa, onde morava na Cidade Nova, em Salvador. Lá, o pai, Raimundo Ferreira, mais conhecido no boxe como Sergipe, tricampeão baiano e bicampeão brasileiro, dava aula para garotos da região. "A história dela é linda. Ela me dá orgulho. É uma atleta completa. Sou o maior fã dela", disse Raimundo, ao Estado.

Nascida para lutar, Bia descia as escadas e ficava na frente do espelho a imitar os meninos que treinavam com seu pai. Aos poucos, ela foi mostrando que, além da paixão pela nobre arte, tinha o dom de esgrimir com os punhos. "Se tirar o sangue dela, o DNA dá luva de boxe", afirmou Raimundo, emocionado.

Com a ajuda do pai, Bia passou a realizar movimentos coordenados e sua habilidade chamou a atenção de todos. Apresentações começaram a ser feitas e os treinos passaram a ser diários, sempre contra os garotos. "Depois do treino, ficava de joelho e pedia para ela bater uma sequência. Ela fazia tudo certinho, cada vez mais rápido e chamava a atenção de todo mundo. Era lindo de se ver."

Com o respaldo de Raimundo, um conceituado boxeador que chegou a ser sparring do tetracampeão mundial Acelino Popó Freitas, Bia teve a oportunidade de treinar com a seleção brasileira. Antes, no entanto, quase abandonou a carreira por causa de uma suspensão de dois anos por ter participado concomitante de um campeonato de muay thai. "Foi um período duro. Ela quase desistiu."

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Mateus Alves, técnico da seleção brasileira de boxe, lembra da chegada de Bia à equipe. "Ela era muito inexperiente, com apenas 11 lutas, mas potência, agressividade e força eram acima da média", lembra. "Desde o início fazia sparring de igual para igual com atletas muito mais experientes".

O convívio com as atletas olímpicas no Rio-2016 foi essencial para dar experiência e bagagem à pugilista que demonstrava talento acima da média. "Ela é muito forte e, com certeza, vai chegar muito longe ainda. O campeonato mundial é muito pouco para ela", diz Adriana Araújo, medalha de bronze em Londres-2012.

Em 2017, veio a titularidade na seleção e no ano passado, os primeiros títulos. "Foi tudo muito rápido. E ela sabe lidar com a pressão. A Bia sempre foi forte, aos poucos ela soube lutar melhor taticamente, aprimorou a técnica e também teve equilíbrio psicológico", revela Leo Macedo, também treinador da seleção.

Como um raio, a carreira de Bia foi construída em uma velocidade impressionante. São 108 lutas e apenas quatro derrotas. "Ela tem melhorado a cada luta. Não sabemos onde ela vai parar, mas o certo é que vai conquistar muita coisa na carreira", analisa Mateus Alves. "Bia vai ser tudo aquilo que ela quiser", afirmou Raimundo.

Bia está na China, onde disputa o Mundial Militar e se classificou à final, mas sua concentração está toda voltada para Tóquio ano que vem. Ao contrário da maioria dos pugilistas que obtém sucesso no boxe olímpico, Bia não planeja migrar para o profissionalismo depois da Olimpíada ano que vem. "Nunca pensamos no boxe profissional. Não sei o que pode acontecer no futuro, mas hoje nossa cabeça é na Olimpíada", diz Raimundo.

Mas, para chegar à sonhada medalha de ouro, Bia, os técnicos e o pai sabem que é preciso dedicação constante e correção dos erros. Ao retornar do Mundial Militar, Bia vai passar por um trabalho regenerativo e, na sequência, exames de fim de ano. Após um período de folga, o trabalho será todo voltado para o Pré-Olímpico, que começará em 24 de março, em Buenos Aires, quando estará em jogo a vaga nos Jogos de Tóquio. "Esse é o nosso objetivo. Subir no pódio na Olimpíada. Não interessa a cor da medalha, mas preferimos a dourada", sonha Raimundo.

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