Automobilismo

Médicos exaltam recuperação após transplante e preveem 'vida normal' a Niki Lauda

08 ago 2018 às 12:20

Formada por sete médicos de diferentes especialidades, a grande equipe de profissionais do Hospital Geral de Viena responsável pelo processo de recuperação de Niki Lauda, submetido a uma transplante de pulmão na semana passada, concedeu entrevista coletiva nesta quarta-feira para falar sobre a evolução do tratamento ao tricampeão mundial de Fórmula 1. E os médicos exaltaram a boa reabilitação do lendário ex-piloto austríaco de 69 anos de idade, que chegou a ficar em estado grave na UTI após ser submetido ao complicado procedimento cirúrgico na última quinta-feira.

Por meio de seu site, o Hospital Geral de Viena divulgou informações publicadas pela agência de notícias austríaca APA para levar a público a real condição de Lauda, hoje diretor da equipe Mercedes na F-1, que segue lutando com sucesso contra uma grave doença pulmonar que motivou a realização do transplante.

Afetado por uma forte infecção, o ex-piloto foi submetido ao procedimento e 24 horas depois do mesmo já estava respirava sem ajuda de aparelhos, assim como todos os seus órgãos seguem funcionando bem, conforme já havia sido adiantado em um boletim médico divulgado na última segunda-feira. Naquela ocasião, o hospital informou que o tratamento evoluía de maneira "muito satisfatória".

E nesta quarta-feira os médicos, além de confirmarem a manutenção deste quadro positivo, revelaram que a boa reabilitação os faz crer que Lauda poderá retomar a sua rotina normalmente depois de ganhar alta, ainda sem previsão de data para acontecer. Esta notícia é, por sua vez, apenas mais um capítulo vencedor da história de superação do tricampeão do mundo, que tem condições respiratórias delicadas desde 1976, quando sobreviveu a um gravíssimo acidente no GP da Alemanha de Fórmula 1.

"Em princípio, as suas futuras atividades não deverão ser diferentes das que tinha", previu nesta quarta-feira o cirurgião Walter Klepetko, que dirigiu a operação com duração de cerca de seis horas no Hospital Geral de Viena, ao falar sobre o ídolo austríaco, cujo histórico de dramas foi lembrado pelo médico. "Lauda é um lutador conhecido internacionalmente", ressaltou.

Muitos anos após o acidente gravíssimo no qual teve o rosto desfigurado pelas chamas enquanto estava dentro de sua Ferrari, além de passar por plásticas para reconstruir a pele e conviver com a sua condição pulmonar delicada, o ex-piloto enfrentou outros sérios problemas de saúde. Ele precisou ser submetido também a dois transplantes de rim, em 1997 e depois em 2005, sendo que um deles foi possível e teve sucesso graças à namorada, que lhe doou um órgão saudável.

O NOVO DRAMA DE LAUDA - Ao esclarecer a real situação de Lauda, o chefe da divisão de pneumologia do Hospital Geral de Viena, Marco Idzko, ressaltou que as condições pulmonares delicadas de saúde do ex-piloto fazem com que ele possa "ficar doente em qualquer momento, até com uma gripe de verão normal".

O médico revelou que Lauda vinha sofrendo de uma alveolite hemorrágica, que é uma inflamação dos alvéolos, e que a mesma era acompanhada por uma hemorragia no tecido do pulmão e das vias aéreas. Idzko informou que, em um primeiro momento, o ilustre paciente foi tratado com uma terapia imunossupressora e teve uma melhora significativa em seu resultado respiratório. Porém, pouco depois o austríaco foi afetado por uma doença pulmonar aguda grave, causada pela infiltração de células inflamatórias no sangue, que atacaram o seu tecido pulmonar.

O problema o obrigou a ser submetido a um tratamento intensivo na UTI, mas os médicos já passaram a considerar um plano B, que era justamente o transplante de pulmão. E os profissionais não viram outra saída para resolver o problema após todos os outros tratamentos conservadores se esgotarem e a condição pulmonar de Lauda não poder mais ser estabilizada.

Konrad Hötzenecker, um dos três médicos especialistas em cirurgia torácica ao lado de Walter Klepetko e Peter Jaksch, outros dois profissionais que falaram com a imprensa nesta quarta, revelou que sem a realização do transplante Lauda chegou a "ter uma expectativa de vida de alguns dias, de no máximo de semanas".

Assim, começou a corrida dos médicos para que Lauda entrasse na fila de pessoas que esperavam por órgãos para transplantes. Os médicos deram máxima prioridade ao ex-piloto, mas informaram que mesmo a sua categoria de paciente precisava esperar uma média de cinco dias por um novo órgão doado. E o que ficou disponível para o tricampeão de mundial ainda precisaria ser considerado compatível, o que acabou ocorrendo para a realização da cirurgia.

"O procedimento em si foi sem complicações", garantiu Hötzenecker, enaltecendo também que depois o pulmão transplantado passou a cumprir bem a sua função dentro do corpo de Lauda, fato que permitiu que o paciente pudesse respirar sem ajuda de aparelhos já no dia seguinte à cirurgia.

Christian Hengstenberg, chefe do departamento de medicina interna e de cardiologia do Hospital Geral de Viena, foi outro que exaltou a ótima recuperação de Lauda, lembrando que normalmente as pessoas submetidas a uma cirurgia tão grande quanto essa normalmente sofrem no pós-operatório "como se tivessem sido atingidos por um tanque".

"Lauda foi extubado após 24 horas, o paciente foi capaz de respirar de forma independente", enalteceu o médico, que ao mesmo tempo evitou euforia exagerada com o tratamento, pois o estado de saúde do ex-piloto ainda inspira muitos cuidados. Ele disse que a recuperação até agora apenas atingiu o objetivo almejado e "nada mais, nada menos do que isso".

EX-PILOTO INSPIROU FILME - Lauda foi campeão da máxima categoria do automobilismo em 1975, 1977 e 1984, sendo que correu sério risco de morte no acidente ocorrido na prova alemã realizada há 42 anos. Naquela ocasião, a sua Ferrari pegou fogo e ele passou quase um minuto preso dentro do carro pelas chamas. Internado durante seis semanas em um hospital, o austríaco ainda voltaria a correr na mesma temporada de 1976 da Fórmula 1, mas perderia o título por apenas um ponto para o inglês James Hunt, então o seu principal rival como piloto da McLaren. A história daquele campeonato inspirou o filme Rush, lançado em 2013.

Lauda foi apontado como presidente não-executivo da Mercedes na Fórmula em 2012 e participou do processo de contratação de Lewis Hamilton, que ao final de 2011 deixou a McLaren para defender a equipe com a qual ganhou os títulos mundiais de 2014, 2015 e 2017 - também se sagrou campeão pela tradicional equipe inglesa em 2008. O último dos três títulos do austríaco na F-1, em 1984, foi conquistado justamente pela McLaren, antes dos dois campeonatos com a Ferrari, em 1975 e 1977.