Para o Brasil, enfrentar a Inglaterra em jogos de Copa do Mundo é sinônimo de bom presságio. A Seleção Brasileira nunca foi derrotada pelo ‘time da rainha’ em mundiais. Em quatro confrontos, foram três vitórias e um empate. E sempre que cruzou o caminho da Inglaterra nas Copas, o Brasil comemorou o título. Foi assim em 1958, na Suécia. Foi assim em 1962, no Chile. Foi assim em 1970, no México. E foi assim em 2002, no Mundial do Japão e da Coreia do Sul. Os ingleses não conseguiram se classificar para a Copa de 1994, ano do tetracampeonato do Brasil.
Dos quatro confrontos, o mais lembrado foi o que ocorreu em 1970. Inclusive, o duelo que teve vitória brasileira por 1 a 0, com gol de Jairzinho, está completando 50 anos. O jogo foi realizado no dia 07 de junho daquele ano, no Estádio Jalisco, em Guadalaraja. Em tese seria um confronto normal de primeira fase. Mas é lembrado na história porque foi nessa partida que ocorreu a ‘defesa do século’. O goleiro inglês Gordon Banks evitou um gol de Pelé. O lance é apontado como a maior defesa de um arqueiro em todos os tempos. Mais adiante, vamos recordar o feito de Banks, que faleceu no dia 12 de fevereiro do ano passado. Antes vamos recordar o clima que antecedeu o confronto do dia 07 de junho de 1970.
O duelo
Ter dois campeões mundiais na mesma chave não foi uma exclusividade do Grupo 3, que tinha Inglaterra e Brasil, na Copa de 70. Uruguai e Itália, vencedores das quatro primeiras edições do Mundial, dividiram espaço no Grupo 2.
Mas de todos os jogos da fase inicial, o confronto entre Brasil e Inglaterra era, sem dúvida, o mais aguardado. O jogo colocava frente a frente os dois últimos campeões. O Brasil havia vencido em 62 no Chile. E a Inglaterra rumou para o México com a taça na mão, já que havia vencido a Copa de 66, quando sediou o evento. Não só a taça. O English Team levou a base do time que havia conquistado o torneio quatro anos antes. Entre os atletas que faziam parte do elenco estavam o goleiro Gordon Banks, os meias Bobby Moore e Bobby Charlton, e os atacantes Hurst e Peters. O técnico era o mesmo: Alf Ramsey, que havia conduzido o time inglês ao seu único título mundial, continuava no comando da Inglaterra.
Por ser a atual campeã, a seleção inglesa era a ‘cabeça de chave’ do grupo que tinha, além do Brasil, a Tchecoslováquia e a Romênia. Justamente por isso, o Grupo 3 foi tratado como o ‘grupo da morte’ daquele mundial.
Na primeira rodada, ambos estrearam com vitória. Em 02 de junho, a Inglaterra derrotou a Romênia por 1 a 0. No dia seguinte, o Brasil teve um resultado mais tranquilo contra os tchecos: vitória por 4 a 1. Por isso, o jogo do dia 07 de junho de 70 valeria a liderança da chave.
Hostilidades
O Mundial de 70 reuniu todos os cinco campeões mundiais até então. Três deles – Brasil, Uruguai e Itália – poderiam vencer a Copa pela terceira vez e faturar a Taça Jules Rimet em definitivo. Mas destes, apenas os italianos eram apontados como favoritos ao lado dos ingleses e alemães, que haviam feito a final quatro anos antes. O detalhe é que a seleção detentora da taça, ao invés de ser badalada por isso, enfrentou a fúria da torcida mexicana. Bem antes da definição do local da Copa de 70, a Inglaterra se manifestou contrária a realização por conta das altitudes mexicanas. O caldo ‘azedou’ de vez quando os britânicos optaram por levar a sua própria alimentação para o México, o que não foi bem recebido pela torcida mexicana, que fez um buzinaço na madrugada, na porta do hotel que hospedava a delegação inglesa. Para piorar, os ingleses deixaram escapar que levaram até a água da própria Inglaterra para não serem contaminados com alguma peste mexicana.
A ira da torcida local foi sentida no primeiro jogo da Inglaterra contra os romenos. E contra o Brasil, na segunda rodada, essa ira se acentuou ainda mais. A Seleção Brasileira, comandada por Zagallo, contava com craques como Pelé, Jairzinho, Rivellino, Gérson, Tostão, Carlos Alberto Torres entre outros. E foi recebida com todo o carinho pela torcida mexicana.
A ‘defesa do século’
O jogo entre Brasil e Inglaterra foi marcado para o meio-dia, horário local, o que gerou críticas dos europeus. Zagallo teve uma baixa importante e perdeu Gérson, por lesão. Mesmo assim, começou a pressionar o time inglês, na tentativa de furar a ‘muralha’ inglesa. Na campanha do título da Inglaterra, em 66, Gordon Banks foi decisivo. Ele sofreu gols de bola rolando apenas na decisão contra Alemanha – o jogo foi para a prorrogação após empate em 2 a 2 e teve vitória inglesa por 4 a 2. Banks passou ileso nas primeiras quatro partidas. E sofreu o primeiro gol naquele mundial nas semifinais contra Portugal. E foi um gol de pênalti marcado por Eusébio, artilheiro da Copa de 66.
A ‘defesa do século’ protagonizada por Banks ocorreu aos 11 minutos do primeiro tempo. Jairzinho cruzou da direita, Pelé cabeceou à queima-roupa para baixo e o goleiro saltou no seu canto direito para dar um tapa na bola. Ela subiu e passou por cima do travessão. Aquele foi o jogo mais duro da Seleção Brasileira na campanha do tri. O gol da vitória só saiu aos 15 minutos da etapa final e foi marcado por Jairzinho. Depois desse jogo, o Brasil seguiu para o tricampeonato com vitórias sobre a Romênia (3 a 2 ainda na primeira fase), sobre o Peru (4 a 2 nas quartas), sobre o Uruguai (3 a 1 nas semifinais) e Itália (4 a 1 na decisão).
Depois do jogo contra a Seleção Brasileira, no dia 07 de junho, a Inglaterra superou a Tchecoslováquia por 1 a 0. Essa partida que ocorreu no dia 11 de junho marcou a despedida do goleiro Gordon Banks das Copas. Os ingleses avançaram em segundo lugar no Grupo 3 e reencontraram a Alemanha, adversária da final de 66. No jogo das quartas de final, o gol inglês foi ocupado por Bonetti. Banks não pôde atuar em virtude de uma diarreia. E a Alemanha eliminou a Inglaterra com a vitória por 3 a 2. Para piorar, os ingleses não conseguiram se classificar para os dois mundiais seguintes na Alemanha e na Argentina. Banks também fez parte da seleção inglesa que disputou o Mundial de 62 no Chile, mas, com 24 anos, era o terceiro goleiro da equipe. Portanto, não chegou a entrar em campo.