A Copa do Mundo de 1970 teve uma situação inédita: pela primeira vez as semifinais do torneio foram formadas por quatro seleções que já haviam sido campeãs anteriormente. Isso se repetiu apenas uma vez nos Mundiais, na edição de 1990, na Itália. Uma das semifinais foi um duelo sul-americano que colocou frente a frente dois bicampeões: o Brasil, detentor dos títulos de 1958 e 1962, e o Uruguai, primeiro time a faturar a taça, quando sediou o evento em 1930, e a Copa de 1950, disputada no Brasil.
O primeiro encontro entre Brasil e Uruguai na história dos Mundiais ocorreu justamente naquele torneio. Em 50, a Celeste venceu o Brasil por 2 a 1 no famoso ‘Maracanazo’ e tirou das mãos dos brasileiros aquela que seria a primeira conquista. Vinte anos depois, as duas seleções voltaram a se encontrar. E o novo duelo ocorreu no dia 17 de junho de 1970, no Estádio Jalisco em Guadalajara. Pelé não tinha idade para estar em campo no Mundial de 50. Mas desde então tinha o desejo de uma revanche contra a Celeste. Chegou a levar a melhor no duelo particular com o goleiro Mazurkiewicz. Só não conseguiu balançar as redes dos uruguaios. Nem ele, nem Mazurkiewcz e nem ninguém conseguiu entender como aquela bola no fim do jogo não entrou. Seria o 12º gol de Pelé em Mundiais. Mas, para a história, o lance magistral do camisa 10 do Brasil é lembrado como uma taça.
Os astros
Antes do início da Copa de 70, Brasil e Uruguai não eram apontados como favoritos. Esse favoritismo pertencia à Itália e à Alemanha, que formaram o outro confronto das semifinais, e à Inglaterra, que era a detentora da taça pois havia vencido a Copa de 66. Os ingleses saíram da disputa nas quartas de final.
Por isso, tanto uruguaios como brasileiros estavam crentes que poderiam conquistar o inédito tricampeonato mundial. Assim como o Brasil, o Uruguai teve um grupo difícil na primeira fase. Iria disputar as duas vagas para a fase seguinte com a Itália e com a Suécia. Israel, o quarto componente da chave, não daria trabalho. Na comparação dos times, o elenco brasileiro era muito mais talentoso que o time uruguaio. A força da Celeste estava no setor defensivo e contava muito com o sucesso do camisa 1.
Mazurkiewcz sofreu apenas um gol em quatro jogos antes do duelo com o Brasil. Foi na derrota por 1 a 0 para a Suécia na fase inicial, mas o Uruguai já estava classificado. Antes disso, o time havia derrotado Israel por 2 a 0 e empatado sem gols com a Itália. Nas quartas, a Celeste despachou a forte União Soviética por 1 a 0. Já o Brasil teve uma campanha mais robusta com cinco vitórias e cinco jogos. Um deles estaria na final da Copa de 70.
Quaseeeeee!
O gol que Pelé não fez não fez falta para o resultado. O Brasil derrotou o Uruguai por 3 a 1 e foi uma vitória de virada. Cubilla abriu o marcador em falha bizarra da defesa brasileira. Mas Clodoaldo conseguiu deixar tudo igual ainda no primeiro tempo. Na etapa final, Jairzinho, artilheiro da Seleção no Mundial de 70, virou o jogo e anotou o sexto dele na Copa. E Rivellino arrematou de fora da área para definir o marcador. O Brasil estava vingando da amarga derrota na decisão de 50, no Maracanã.
O resultado colocou a Seleção Brasileira, comandada por Zagallo, na decisão contra a Itália. Já o Uruguai teve que encarar a Alemanha na disputa do terceiro lugar. O time celeste ainda foi derrotado por 1 a 0 e saiu do México com o quarto lugar.
Doze gols
Pelé passou em branco no jogo contra o Uruguai, mas abriu o caminho da vitória por 4 a 1 sobre a Itália na decisão. Foi o 12º gol dele em Mundiais. Pelé é o quinto maior artilheiro da história das Copas, atrás do alemão Klose (16), de Ronaldo Fenômeno (15), o também germânico Gerd Müller (14) e do francês Just Fontaine (13).
Em 70, foram quatro gols contra Tchecoslováquia, Romênia, Peru e Itália. Mas o Rei do Futebol deu cinco assistências para gol. Das quatro Copas em que ele disputou, a que mais marcou foi justamente a primeira, em 1958, com seis gols. Em 62 Pelé se machucou e participou pouco da campanha do bicampeonato, mas marcou um gol. Em 66, o Brasil não passou da primeira fase, mas Pelé deixou o dele.