Arte

'Ayrton Senna, o Musical' provoca a sensação de pilotar um bólido

16 mar 2018 às 09:10

Foram cinco voltas decisivas até terminar em uma fatalidade - o dia 1.º de maio de 1994 tornou-se referência como a data de uma das maiores tragédias nacionais, a morte do piloto Ayrton Senna, no GP de Monza, na Itália. "Foi um domingo em que todos se lembram o que estavam fazendo", comenta o ator Hugo Bonemer. "Eu tinha 5 anos e me recordo de ver meu pai e meu irmão mais velho chorando."

Bonemer vive um dos maiores desafios de sua carreira como o protagonista de Ayrton Senna, o Musical, que estreia nesta sexta-feira, 16, no Teatro Sérgio Cardoso, depois de uma temporada no Rio. Não se trata, porém, de uma biografia tradicional, que oferece ao espectador fatos em ordem cronológica. "O ponto de partida foi criar um contexto que provocasse no espectador a sensação de estar no cockpit a 300 km/h, ou seja, o risco de morte em grande velocidade, algo que Senna e diversos pilotos viveram durante muitos anos", conta o diretor do espetáculo, Renato Rocha.

De fato, a opção tornou o projeto muito mais ousado e Rocha se encaixou perfeitamente na missão graças à sua experiência em circo e teatro. Explica-se: desgrudado das obrigações biográficas, o texto criado por Claudio Lins e Cristiano Gualda, que também assinam as canções originais, se concentra em um momento muito particular de Senna: os pensamentos que rodearam sua mente durante as cinco voltas antes do acidente fatal. "É importante lembrar que, naquele dia, ele teve um comportamento considerado estranho", observa Gualda. "Senna dizia ter acordado sem vontade de correr, manteve um olhar distante durante a preparação e, durante a prova, não entrou em contato com a equipe."

Assim, o musical envereda por uma fascinante viagem ao mesmo tempo veloz e introspectiva - em seus devaneios, Senna se lembra de sua juventude, quando era conhecido como Beco (vivido, no palco, por João Vitor Silva, em delicada atuação), da preocupação de seus pais e de seus amores, personificados em um único personagem feminino. Ao mesmo tempo, lida com uma figura que surge em sua mente (vivida por Victor Maia), como a voz da consciência. "Tenho uma leitura particular disso: vejo como a morte, com quem ele dialoga em seus momentos finais", confessa Bonemer, que exibe a extensão de seu talento em viver Senna sem se limitar a uma imitação.

Para manter o espetáculo em ritmo veloz, Renato Rocha criou cenas de grande apuro visual, com os atores pendurados em cabos, rodando em pneus gigantes. Também a direção musical de Felipe Habib, que acentua o ritmo da melodia, simulando a troca de marchas e a conquista de velocidade.

AYRTON SENNA, O MUSICAL

Teatro Sérgio Cardoso. Rua Rui Barbosa, 153; 4003-1212. 6ª, 20h30. Sáb., 17h e 21h. Dom., 18h30. R$ 50 / R$ 150. Até 3/6

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.