Arte

Morre o chanceler Airton Queiroz, grande colecionador de obras de arte

03 jul 2017 às 13:05

Morreu na madrugada desta segunda-feira, 3, o chanceler cearense Airton Queiroz, um dos maiores empresários e colecionadores de arte do Nordeste. Queiroz estava internado havia mais de três meses no Hospital Mont Klinikum, em Fortaleza, em decorrência de um câncer pulmonar. Seu corpo foi cremado, após uma cerimônia religiosa que reuniu apenas seus familiares.

Ele deixou dois filhos, Edson e Patrícia. Suas cinzas serão espalhadas nos jardins de sua residência e da Universidade de Fortaleza (Unifor), que há 35 anos vem formando jovens estudantes no Ceará.

Filho do empresário Edson Queiroz e de dona Yolanda Queiroz, Airton construiu em meio século de colecionismo um acervo raro e valioso que engloba praticamente todos os movimentos e escolas, tanto nacionais como internacionais. Em sua coleção privada, com mais de 700 obras, o empresário reuniu obras impressionistas, como um retrato de Gabrielle feito por Renoir, avaliado em mais de US$ 4 milhões.

A Universidade de Fortaleza, administrada pela Fundação Edson Queiroz, expõe atualmente duas centenas de obras dessa coleção, que, ao lado do acervo particular do chanceler, chega a 2.300 peças. Entre as 1.600 da fundação estão trabalhos de cobrem toda a história da arte brasileira, da era colonial à contemporânea.

Há na exposição pinturas raras do holandês Frans Post, uma escultura de Aleijadinho e obras históricas do modernismo brasileiro e estrangeiro. Dos artistas internacionais cabe destacar telas de Chagall, Renoir e Matisse, além de esculturas como a do inglês Henry Moore.

O chanceler Airton Queiroz se notabilizou por sua generosidade, abrindo não só sua coleção particular à exposição pública, como comprando obras para doar a instituições e museus públicos, especialmente de São Paulo. Todos os anos ele adquiria uma obra na feira SP-Arte para doar a um museu.

Seu papel como mecenas vai além: a Fundação Edson Queiroz acaba de patrocinar a publicação do catálogo raisonné do artista cearense Leonilson, um dos grandes nomes da chamada Geração 80, cujas obras estão expostas no novo espaço criado pela Unifor para abrigar arte contemporânea. A mostra de Leonilson reúne 128 trabalhos de todas as fases de sua carreira, do primeiro trabalho, uma pintura de 1971, ao último.

Graças ao incentivo da Unifor, a obra de Leonilson será exibida em setembro em Nova York, na Américas Society, abrindo portas para outros artistas brasileiros. Leonilson também ganha em outubro uma retrospectiva no Museu Berardo, em Lisboa, com 76 obras da coleção Airton Queiroz.

Outro artista cearense que teve sua obra valorizada pelo reconhecimento do chanceler foi Antônio Bandeira, pioneiro da abstração no Brasil, nos anos 1950. A Fundação Edson Queiroz, que inaugura dia 18 uma exposição no Museu de Sobral (CE) com obras históricas de sua coleção, está patrocinando a edição do catálogo raisonné de Bandeira, que ganha uma retrospectiva a partir de 10 de agosto, no espaço cultural de Unifor.

Criado em 1988 pelo chanceler, esse espaço de exposições recebe uma média de 50 mil visitantes por ano. Airton Queiroz esteve presente em todas as aberturas da exposições, até mesmo quando já estava com a saúde comprometida.

Gostava de circular pelo espaço e ver a reação do público diante das obras de que mais gostava, especialmente as de Antônio Bandeira e do uruguaio Torres-García (que, admitia discretamente, era o seu preferido).

Bandeira foi o primeiro artista a entrar na coleção privada de Airton Queiroz. Ele comprou uma tela do pintor cearense aos 16 anos, abrindo mão de um carro oferecido pelo pai para conviver com a arte.