Todos os locais
Todos os locais
Cultura

Coletânea reúne contos dos principais autores da ficção científica brasileira

19 dez 2018 às 06:10
Por: Estadão Conteúdo

Um homem alquebrado pelo luto; um jovem pintor em busca de inspirações; um matador de aluguel diante da tarefa de tirar a vida da própria amada. Esses argumentos poderiam motivar histórias comuns, não fosse pelo fato de o viúvo ter uma modificação cerebral para amar incondicionalmente sua mulher que o faz ter impulsos suicidas após a morte dela; o pintor adentrar uma realidade lisérgica desdobrada em formas geométricas; e do assassino estar em um cenário futurista e tecnológico. Esses são alguns dos contos presentes na coletânea Fractais Tropicais (Sesi-SP), que reúne 30 dos melhores autores da ficção científica brasileira. Nesta quarta, 19, o organizador Nelson de Oliveira debate o assunto com os escritores e pesquisadores Roberto de Sousa Causo, Ivan Carlos Regina e Ana Rüsche na livraria Tapera Taperá, em São Paulo, às 19h.

No romance A Cidade & a Cidade, de China Miéville, duas metrópoles ocupam o mesmo espaço físico, mas são invisíveis entre si. Quem vive em uma é obrigado a "desver" os edifícios, carros e habitantes da outra. Essa seria uma boa analogia da relação entre a ficção científica e a literatura dita mainstream no Brasil. "Se é ficção científica, a academia não gosta. Se gostou, não vai aceitar que seja ficção científica. Mas a gente não lê porque tem naves e sim porque são boas histórias", afirma Bárbara Prince, editora da Aleph, uma das principais casas de FC no País. "É o gênero que mais tem dialogado com pautas relevantes da realidade hoje."

Para quebrar essa barreira, Nelson organizou Fractais Tropicais em um recorte histórico e didático. "Inteligência artificial, engenharia genética, robôs sexuais, conexão cérebro-máquina... A ficção científica vem sendo o gênero que trabalha as temáticas mais inquietantes da literatura", acredita o organizador. A obra abrange mais de meio século de história, desde o patrono da FC no País, Jeronymo Monteiro (1908-1970), até os contemporâneos, como Gerson Lodi-Ribeiro, Alliah e Ana Cristina Rodrigues, autores dos contos que iniciam esse texto.

Há relatos proto-FC desde a Antiguidade, como a História Verdadeira, em que Luciano de Samósata narra uma viagem ao espaço no século 2. Mas o gênero como o conhecemos hoje foi formatado há 200 anos, com Frankenstein ou o Prometeu Moderno, clássico de Mary Shelley. No Brasil, o primeiro texto do tipo é Dr. Benignus (1875), do luso-brasileiro Augusto Emílio Zaluar (1825-1882). Como nota Nelson no prefácio, a FC nacional se divide em três "ondas": uma nos anos 1960, capitaneada pelas Edições GRD, de Gumercindo Rocha Dorea, pioneiro na publicação sistemática do gênero no País; a segunda, impulsionada pelas fanzines nos anos 1980; e a terceira, que se desenrola atualmente na internet.

Dinah Silveira de Queiroz (1911-1982), que ocupou a cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras, é uma das pioneiras da FC no País. Em seu conto na antologia, A Ficcionista (1969), ela imagina uma inteligência artificial avant la lettre que contém todas as histórias imagináveis, ameaçando a existência de escritores - quase uma previsão sobre big data. Ivanir Calado questiona em O Paradoxo de Narciso (1991) o que aconteceria se você pudesse voltar no tempo e se apaixonar por seu eu do passado. Em um dos pontos altos do livro, O Molusco e o Transatlântico (2005), Braulio Tavares imagina com lirismo um astronauta com habilidades telecinéticas que se vê capturado por uma espécie inimaginavelmente mais avançada que a humanidade e se torna uma cobaia desses alienígenas - cabe ao leitor, pelas memórias do protagonista, decidir se esse destino é bom ou ruim.

Outras notícias

Cascavel lança editais para fomentar a cultura e gerar oportunidades aos agentes culturais

Feira do Teatro em Cascavel abre inscrições para novos expositores

Canto do MARL sedia 6º Encontro de Mulheres na Roda de Samba neste sábado (25)

Fractais Tropicais prova que os autores brasileiros não devem nada aos estrangeiros e sinaliza que talvez a barreira entre a FC e a literatura "séria" seja apenas, como no livro de Miéville, uma questão de miopia.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Veja também

Relacionadas

Cultura
Imagem de destaque

6ª Parada Cultural LGBTQI+ de Londrina será realizada neste domingo

Cultura
Imagem de destaque

Festival Kinoarte encerra neste sábado inscrições para Oficina de Maquiagem

Cultura

Cultura divulga resultados preliminares da Lei Paulo Gustavo

Cultura

Campeonato de bandas deve reunir 1.500 músicos neste domingo em Londrina

Mais Lidas

Cidade
Cascavel e região

Caminhoneiro passa mais de uma semana morando dentro do veículo após acidente na BR-277

Paraná
Paraná

Morre jovem que sofreu queimaduras graves em banheira de motel

Cidade
Londrina e região

Adolescente é atacado em tentativa violenta de roubo no Centro de Londrina

Cidade
Londrina e região

Nuvem associada a fortes tempestades com raios e tornados passa por Londrina

Cidade
Londrina e região

Empreendedora de Londrina transforma um simples acessório em um negócio milionário

Podcasts

Podcast PodGuest - EP 12 - Kelvin Anesi e Daniel Cardoso

Podcast Eleva+ Cast | EP 5 | Gestão, Direito e Condomínio | Gralike Trigo

Podcast HONPAR Mais Saúde | EP 1 | Inovação, saúde e ensino no norte do Paraná

Tarobá © 2024 - Todos os direitos reservados.