O projeto “A Umbanda na Terra do Café: entre Trajetórias e Histórias para Construção da Tolerância”, que aborda diversos aspectos da religião da umbanda, com foco em Londrina, será lançado na próxima quarta-feira (2), às 20h, com um debate no Museu Histórico. A proposta do encontro é apresentar a iniciativa e suscitar a reflexão entre os participantes, permitindo ao público conhecer mais sobre a religião fundamentada em vibrações de matrizes africana e indígena, com fortes incorporações de elementos católicos e até mesmo kardecistas.
A entrada para o evento é livre, mas os interessados devem reservar ingresso de forma antecipada pelo e-mail [email protected] . Durante a atividade, os participantes devem se manter de máscara facial e respeitar os protocolos vigentes de prevenção à Covid-19.
O debate contará com a participação de Mãe Josi de Yemanjá, que há 22 anos está como mãe de santo no Terreiro Manoel de Umbanda, e de Kattelyn Monte Paiva, estudante de Medicina na Universidade Estadual de Londrina (UEL), cuja iniciação na umbanda se deu ainda na infância. Há 18 anos ela pratica a religião no Terreiro Manoel de Umbanda. A mediação será feita por Fábio Lanza, graduado em Ciências Sociais, com mestrado em História e doutorado em Ciências Sociais. Ele atua como professor do Departamento de Ciências Sociais, da graduação, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (mestrado), e da especialização em Religiões e Religiosidades na UEL.
Patrocinado pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic), o projeto “A Umbanda na Terra do Café: entre Trajetórias e Histórias para Construção da Tolerância” é uma realização da Atrito Arte Artistas e Produtores Associados (AARPA), que firmou parceria com o Laboratório de Estudos sobre Religiões e Religiosidades (LERR), da UEL. A coordenação-geral do projeto é de Chris Vianna, produtora cultural londrinense.
De acordo com Chris Vianna, o preconceito religioso está presente no cotidiano social quando o assunto é a umbanda e outros segmentos religiosos afro-brasileiros. “É importante reforçar que, sim, existe no Brasil um forte racismo cultural e intolerância religiosa, que atingem, sobretudo, as expressões ligadas às culturas afro-brasileiras. Percebemos que, entre diversos fatores, este preconceito decorre do desconhecimento da origem dessas religiões e manifestações, bem como da falta de informações sobre o papel por elas desempenhado”, frisou.
Para a coordenadora, a partir da propagação do conhecimento sobre as expressões culturais afro-brasileiras, estimulando as pessoas a refletirem, é possível combater de forma mais eficaz o racismo cultural e religioso. “A ideia do projeto é incentivar a formação cidadã para o respeito e reforçar a importância da valorização da pluralidade religiosa, por meio do intercâmbio de conhecimentos, além de ações educativas voltadas à preservação da nossa memória histórica e cultural. Será apresentado o cotidiano da umbanda em Londrina, passando por suas trajetórias e histórias, e destacando personagens importantes que participaram da construção da cultura umbandista na cidade”, contou.
O projeto “A Umbanda na Terra do Café: entre Trajetórias e Histórias para Construção da Tolerância” contempla a publicação de um livro com textos do escritor Maurício Arruda Mendonça e fotos de Yashiro Yamasu, a produção de um documentário sob direção do cineasta Carlos Fofaun, e que ficará disponível no canal do YouTube do projeto e em outras redes sociais, além da construção de um site permanente com informações atualizadas.
Por meio dessa iniciativa, ainda serão realizados 15 debates e palestras em terreiros, escolas de capoeira e no Centro de Letras e Ciências Humanas da UEL. O projeto direciona-se também ao público jovem e alunos do Ensino Médio. Para isso, serão selecionadas, através de editais, cinco escolas, cada uma localizada numa região de Londrina.
Personagens notáveis – O novo projeto abrange diversas manifestações relacionadas à umbanda, começando pela investigação da história dos terreiros (ou congás), que surgiram para o atendimento de um significativo número de pessoas da sociedade londrinense e até mesmo de cidades vizinhas. Para isso, é lançada luz sobre o cotidiano da religião em Londrina, dos primórdios aos dias atuais, apresentando e destacando personagens importantes no processo de construção da cultura umbandista na cidade.
Entre os nomes mostrados estão o Pai Roberto de Ogum (Pai de Santo do terreiro Ilê Axé Estrela Guia, que se
localiza no Jardim das Palmeiras, Zona Norte de Londrina; Pai Sena de Ogum e a Mãe Josi de Yemanjá , ambos coordenadores do Centro Umbandista Manuel de Umbanda, localizado no Jardim Califórnia, região leste, entre outros expressivos terreiros onde se pratica a umbanda.
Segundo a coordenadora de pesquisa de “A Umbanda na Terra do Café: entre Trajetórias e Histórias para Construção da Tolerância”, Fernanda de Abreu, um dos aspectos mais importantes do projeto consiste na oportunidade de dar voz a sujeitos locais que, historicamente, nunca foram ouvidos. “Buscar essas vozes da umbanda na cidade, registrá-las e valorizá-las é muito gratificante. Com isso, promove-se uma forma de justiça social. O compartilhamento de vivências expande nossas referências culturais e históricas e, especialmente, nos enriquece enquanto sociedade”, concluiu.