Um vídeo postado por um professor da rede pública do Ceará, Bruno Rafael Paiva, viralizou nas redes sociais e emocionou internautas por um gesto de solidariedade. Sabendo de suas dificuldades financeiras, dezenas de alunos fizeram uma rifa para arrecadar dinheiro ao educador.
"Esse mês, quando vi que não ia receber depois de um mês e meio de trabalho, vi tudo ficar preto. Afundei na depressão preocupado e perdido, sem saber como ia pagar as contas e ajudar minha família, que está de mudança. Esses alunos ficaram sabendo da minha situação financeira, minha dificuldade para continuar na escola e, sem me contar nada, fizeram uma rifa", escreveu Bruno em seu Facebook.
Os estudantes promoveram a rifa de uma cesta de chocolates, vendendo todas as cotas em menos de cinco dias. Na hora de entregar o valor arrecadado, cerca de R$ 400,00, os jovens escreveram um bilhete na porta: "Entre e leia as mensagens", 23, ao todo, espalhadas em bilhetes pelas carteiras da sala.
"Às vezes agimos por impulso. Porém não sabemos fazer apenas bagunças: somos e fazemos mais que isso. Resolvemos nos unir. Ser solidário é sempre bom. Uma sala numerosa às vezes machuca, mas às vezes emociona. Preparamos isso para você. Para você que sabe ser amigo. Para você que sabe ser divertido. Para você que é tão carismático - às vezes chato, com tantas reclamações. Mas sabemos que é sempre para nosso bem, para no futuro sermos melhores. Por isso, gostamos tanto de você, e esse é o nosso presente. Esperamos que você goste, pois foi de coração. Obrigado por tudo", dizia a mensagem escrita pelos estudantes.
Ao abrir a caixa contendo o 'presente', Bruno ficou paralisado: "É sério que vocês fizeram isso?" Os alunos promoveram uma salva de palmas ao educador, visivelmente emocionado. "Vocês não podiam ter feito isso. Não é justo, isso é covardia", disse, antes de receber um abraço coletivo por parte dos adolescentes.
"Quando eu recebi esse dinheiro, que acabou o dia e cheguei no meu quarto, fui contar direito quanto era, só pensei em uma coisa: esse é o dinheiro mais valioso que já recebi em minha vida", afirmou o professor em entrevista ao Encontro com Fátima Bernardes desta segunda-feira, 21.
Bruno, que é formado em música e dá aulas de artes, foi contratado para substituir uma professora por um mês, e acabou ficando mais tempo. Por motivos burocráticos, ainda não pôde receber o dinheiro. A quantia referente ao mês de março, por exemplo, deve ser paga somente a partir de junho.
"Pela lei, não existe atraso. Sou consciente, sabia que ia ter essa demora. Infelizmente isso acontece com todo professor temporário, seja licença ou não. A questão é: eu não me considero mais digno nem menos digno que ninguém. A questão é: porque eu sou professor, é justo, aceitável, que eu precise passar dois meses pra receber o primeiro salário? Eu tenho contas!", esclareceu.
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