Com os óculos apoiados no alto da cabeça (sua marca registrada, eternizada até em uma caricatura do grande Al Hirschfeld), o diretor Harold Prince recebe o tenor brasileiro Thiago Arancam com curiosidade. O encontro acontece no escritório de Prince, em uma das torres que formam Rockefeller Plaza, em Nova York. Aos 90 anos, Hal (como gosta de ser chamado) é uma lenda na Broadway - sua assinatura está associada a grandes musicais em mais de meio século de carreira, desde West Side Story, passando por Cabaret, Company, Follies (que considera seu preferido), Sweeney Todd, Evita e, claro, O Fantasma da Ópera. Montagens que lhe garantiram, no total, 21 prêmios Tony, o Oscar do teatro americano, um recorde.
A sala recheada de fotos históricas não intimida o cantor brasileiro que, experiente em ópera, revela um pleno entendimento do Fantasma, justamente um dos mais operísticos musicais que se tem notícia. Quando Arancam cita semelhanças da angústia de seu atordoado personagem com os de óperas como Carmen, de Bizet, e Pagliacci, de Leoncavallo, Hal abre um sorriso - o intérprete brasileiro está no caminho certo.
Prince é diretor do Fantasma desde a estreia, em Londres, em 1986. E, desde então, passando principalmente pela chegada na Broadway, dois anos depois, a estrutura da montagem se manteve praticamente intacta. "Porque se trata do mais puro exemplo de entretenimento", diz o diretor ao Estado. "São vários fatores que transformam o Fantasma em um espetáculo popular. Primeiro, seu romantismo. Depois, a afeição que o personagem desperta no público que, sem perceber, passa da aversão por um homem deformado para a compreensão de seu amor - a mesma modificação sofrida por Christine. É a mesma reação que temos, por exemplo, ao assistir a O Homem Elefante: por trás da deformidade, há um ser humano."
A camaradagem entre diretor e intérprete cresce a passos largos, mesmo que o encontro seja breve. Arancam arranca novo sorriso do diretor ao entoar um trecho do Fantasma, em português. Naquele momento, é possível notar que Hal não apenas aprova a escolha do tenor para o papel (na prática, isso aconteceu antes, envolvendo o produtor Cameron Mackintosh e, principalmente, o criador do espetáculo, Andrew Lloyd Webber) como ainda sugere qual papel Arancam deveria interpretar. "Faça Sweeney Todd, um musical melódico e romântico", diz ele que, não satisfeito, oferece como presente um vinil com a trilha do espetáculo criado por Stephen Sondheim. "Ouça. Você vai ver que é a sua cara."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.