Só no Brasil, quase 30 mil pessoas morrem a cada ano em consequência da Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC). Sobre esse assunto, a Unimed Cascavel conversou com o médico Daniel B. Dei Santi, especialista em cardiologia pelo Incor e em Cuidados Paliativos pelo Instituto Paliar. Santi é assistente no Núcleo de Cuidados Paliativos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
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1 O que é o ICC?
Daniel Santi - A Insuficiência Cardíaca Congestiva é uma síndrome que atinge homens e mulheres de todas as etinias e faixas etárias. Ela é mais frequente em pacientes adultos e idosos e se apresenta como um conjunto de sinais e sintomas típicos decorrentes de doenças que acometem o coração, como falta de ar, cansaço para realizar atividades, inchaço nas pernas, entre outros. No Brasil, as causas mais frequentes são a doença isquêmica (decorrente de obstruções nas artérias coronárias), doença de Chagas e situações em que não se identifica uma causa especifica, ditos ‘idiopáticos’. Alguns casos iniciam com um quadro agudo e muito sintomático, mas a apresentação mais frequente se dá de forma insidiosa, levando a um curso de doença crônica e de evolução progressiva. Pacientes com insuficiência cardíaca podem conviver com tal diagnóstico durante anos e até décadas, até chegarem à fase terminal e à morte. Apesar de não poder ser curada na grande maioria dos casos, a ICC pode ser controlada com medidas clínicas, a exemplo de medicamentos e mudança de hábitos de vida, com auxílio de dispositivos tecnológicos ou até mesmo cirurgias, o que inclui o transplante cardíaco.
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2 Como esta doença impacta a vida das pessoas?
DS - Pacientes que convivem com ICC passam por várias fases da doença, sendo esse impacto variável. Nos estágios iniciais, nos casos em que há menor gravidade ou nos quais há bom controle clínico, há pouca repercussão no cotidiano, podendo essas pessoas terem uma vida normal ou quase normal, com poucos sintomas. Em casos de doenças mais avançadas e graves, há maior carga de sintomas, limitações físicas e laborais, impacto nas esferas psicológica, social e espiritual. Neste estágio, há maior custo com o tratamento, maior necessidade de uso de recursos de saúde, sendo mais frequente a busca por unidades de emergência e maior necessidade de internações hospitalares.
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3 Quais tipos de sofrimento existem para uma pessoa que conviver com a ICC?
DS - Os sofrimentos mais visíveis e facilmente diagnosticáveis são os que atingem o corpo, especialmente nas doenças mais graves e em fase avançada. O principal sintoma é a dispneia (falta de ar) e o cansaço/fadiga. Mas outros sintomas também merecem nota, como a dor, alterações do sono, distúrbios alimentares e digestivos. Sintomas psicológicos, como depressão e ansiedade, ocorrem com frequência, mas não são tão facilmente diagnosticados nem muitas vezes lembrados de serem investigados. Pacientes vivem limitações físicas, com impacto na vida social, levando a uma série de prejuízos e abdicações, tanto em decorrência da doença quanto do próprio tratamento, o que acarreta franca perda de qualidade de vida.
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4Como é possível melhorar a qualidade de vida de uma pessoa com ICC?
DS - Sem dúvida há como melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. Esse é o cerne das práticas de cuidados paliativos. Isso pode ser feito de diversas formas, de acordo com as necessidades individuais de cada paciente. Quanto mais precoce for esse reconhecimento de necessidade e intervenções, maiores serão os benefícios. A melhor forma para tentar garantir a contemplação de todas as necessidades e criação de estratégias de intervenção é por meio da integração de profissionais multidisciplinares, a exemplo da enfermagem, fisioterapia, assistência social, psicologia, nutrição e outros que tenham conhecimento sobre abordagens de cuidados paliativos, idealmente com experiência em lidar com pacientes com cardiopatia. Entre as medidas, podemos citar o controle de sintomas físicos, reconhecimento e abordagem do sofrimento psicológico, a como psicoterapia, terapia cognitiva-comportamental, reabilitação física e adaptação às limitações impostas pela doença, abordagem direcionadas das necessidades pessoais, sociais e espirituais.
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5 Quais são os principais problemas enfrentados pelos familiares de um paciente com ICC avançada?
DS - A família sofre a doença junto com o paciente, tendo muitas dúvidas e angústias, principalmente quando os sintomas estão mais exacerbados. Muitas vezes, os familiares têm medos e incertezas porque não foram devidamente orientados e aconselhados sobre o curso da doença, nem como lidar com ela. Esses familiares também abdicam de diversas questões próprias em função do familiar doente e têm custos com o tratamento (não necessariamente financeiros). Há um grande estresse do cuidador que, muitas vezes, é negligenciado pelos profissionais de saúde. Uma família engajada no tratamento, bem orientada e mais tranquila, leva a melhor aderência, ao melhor controle sobre a doença e, consequentemente, à melhora da qualidade de vida do paciente e da família como um todo.
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6 Qual é a mensagem para os pacientes com ICC?
DS - Essa doença é grave e com a qual é muito difícil de conviver. Nós sabemos disso e podemos ajudar! Há formas de tratar pacientes que vão muito além dos remédios dados para o coração. O médico, o enfermeiro e toda a equipe conhecem as questões relacionadas à doença, mas também é importante conhecer a sua história de vida, seus valores, medos, expectativas, sonhos e perspectivas. Não deixe de contar ao seu médico e ao seu familiar as questões que são importantes para você e estão impactando negativamente em sua vida, assim como as formas como você gostaria de ser tratado. A boa comunicação, a dedicação e a união entre todos podem levar ao fortalecimento do tratamento e auxiliar no enfrentamento à doença, propiciar muitos benefícios e a melhora da qualidade de vida.
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