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Cuidados paliativos: As UTIs hoje e no futuro

02 ago 2019 às 07:48

 As Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) são o tema de hoje, em uma entrevista com Henrique Canosa, médico com especialização em Clínica Médica, Cardiologia, Medicina Intensiva, Medicina Paliativa e Hipnose, e com experiência no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), na Santa Casa de São Paulo, no Hospital Samaritano de São Paulo e no Hospital Saint Louis de Paris, na França.

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1Qual a finalidade básica de uma UTI?

Henrique Canosa -A principal finalidade de uma Unidade de Terapia Intensiva é de cuidar de pacientes que apresentem uma doença grave e aguda, com alto risco de morte. A UTI é equipada com equipamentos que permitem manter a vida de uma pessoa de forma artificial durante o período de tempo em que o corpo desta pessoa precisa para se recuperar de uma doença grave. 

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2 Por que encontramos muitos pacientes internados por longos períodos em UTI e que em seguida não sobrevivem?

HC - Nos dias atuais, é muito comum encontrarmos pessoas internadas em UTI que têm doença crônica e progressiva, mesmo pessoas com idade muito avançada - algumas vezes pessoas com quase 100 anos de idade. Pessoas que apresentam doenças avançadas e progressivas, como câncer metastático, demência, etc., muitas vezes conseguem sobreviver mais tempo dentro da UTI, porém, de forma artificial e demoram mais tempo para morrer. 

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3 Mesmo com projetos de UTI humanizada ou ‘portas abertas’, o grau de sofrimento segue mais alto do que em outras unidades. Podemos considerar que a UTI gera sofrimento e deve ser usada apenas em pacientes com real indicação? 

HC – Sim. Pode-se considerar que as UTIs estão causando sofrimento sim para os pacientes, principalmente para aqueles que não devem ser encaminhados para essas unidades. Muitos trabalhos científicos comprovam que a experiência do pacientes em UTI é pior do que em outras unidades, mesmos nos casos de unidades ‘portas abertas’ ou ‘UTI humanizada’, mostrando que essa unidade deve ser usada por necessidade comprovada e para pacientes que tenham prognóstico mais favorável, justificando esse sofrimento.

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4 Além da abordagem precoce em paliativos, você considera importante que o paciente receba alta precoce da UTI?
HC - 
Sim. Acredito que no momento em que há um maleficio maior do que um beneficio na internação na UTI, o médico deve considerar alta do paciente dessa unidade. Idealmente, essa discussão deve ser feita nas primeiras horas de internação na UTI.

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5Como você vê o futuro deste panorama? Como imagina que seriam idealmente as UTIs daqui 10 anos?

HC - Espero que as UTIs sejam unidade focadas na recuperação do paciente. Porém, com critérios objetivos de internação e alta, além de cuidados mais focados no real conforto do paciente. O paciente tem que sentir-se tranquilo, relaxado, independentemente do que irá acontecer. Espero ainda que todos os familiares sejam cuidados como se fossem também pacientes, pois no momento que algum ente querido está dentro da UTI, toda a família adoece. Espero que os profissionais de saúde vejam o quanto podem fazer a diferença na vida dessas pessoas, tratando não somente o corpo físico, mas o ser humano como um todo. 

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6 Qual é a mensagem para os profissionais de terapia intensiva sobre os cuidados paliativos?

HC - Desejo que os profissionais das UTIs olhem para as pessoas internadas não somente como um corpo em uma cama. Que possam olhar para essas pessoas com carinho, respeito e muito amor. Sei que muitos já atuam dessa maneira, e desejo que possam sempre multiplicar essas boas práticas. Desejo ainda que possam cuidar e serem cuidados, pois tenho certeza de que o sofrimento do paciente é também transmitido para os profissionais. Cuidar uns dos outros fará dos profissionais da saúde pessoas melhores e mais humanas.

Cuidar de você. Esse é o plano.


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