Na mesma cidade que marca a origem do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), famílias acampadas fazem mobilização inédita em defesa das terras onde vivem e produzem há cerca de duas décadas. Em Cascavel, região Oeste do Paraná, cerca de 300 agricultoras e agricultores Sem Terra deram início, neste sábado (28), à “Vigília Resistência Camponesa: por terra, vida e dignidade”, para denunciar as ameaças de despejos autorizados pelo governador Ratinho Junior (PSD). A ação ocorre às margens da rodovia BR 277, km 557, onde fica o acampamento Resistência Camponesa.
As três principais comunidades ameaçadas de despejo são Resistência Camponesa, Dorcelina Folador e 1º de Agosto, todas localizadas em Cascavel, no complexo de fazendas Cajati. Ao todo são 213 famílias, cerca de 800 pessoas, sendo 250 crianças e 80 idosos.
A Vigília será mantida entre às 10h e às 15h, com revezamento de camponesas e camponeses moradores de acampamentos e assentamentos da região. As famílias acampadas cobram o fim da violência e dos despejos no campo, querem continuar o desenvolvimento de suas comunidades camponesas e o apoio do Estado para a efetivação da reforma agrária, prevista na Constituição Federal de 1988.
Apoio religioso e político
Luiz Carlos Gabas, reverendo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, esteve no ato e enviou uma mensagem direta ao governador: “Nós apelamos para o governador Ratinho, para o governo do Estado, para que preste atenção na vida desses nossos irmão e irmãs, e dê a essas famílias acampadas o direito de acesso à terra. Reforma agrária é necessária e deve acontecer. Que o governo não dê privilégio aos ricos, mas que tenha um olhar para as pessoas pobres que moram neste Estado”. Para o religioso, o maior símbolo de resistência do país é a luta pela reforma agrária feita pelo MST.
Direitos das crianças
Despejar essas famílias resultaria em um impacto psicológico muito negativo para as mais de 250 crianças moradoras das comunidades. É o que afirma Vera Lucia Marcondes, professora da Escola Municipal Zumbi dos Palmares, do Assentamento Valmir Mota. “Além da criança perder o seu lugar de viver, a sua casa, a sua morada, ela perde o seu lugar de brincar, os seus brinquedos, os seus animais de estimação, pois dificilmente eles vão ter como levar esses animais. Eles perdem também a sua escola, os seus amigos que estudavam, não sabem onde vão estudar”.
Contexto estadual dos conflitos agrários
Ratinho Junior autorizou nove despejos entre maio a dezembro de 2019, durante seu primeiro ano à frente do governo do Paraná. Ao todo, cerca de 500 famílias tiveram suas casas e produções destruídas, sem qualquer abertura para diálogo por parte das forças policiais. Desde o começo do ano as comunidades sofrem com sobrevoos de aeronaves e drones, uso de bala de borracha e bombas de efeito moral, que causam temor, especialmente às crianças.