Agricultura

Fusão de gigantes do setor aumenta preços no agronegócio

20 ago 2018 às 09:12

Dono de lavouras de cana de açúcar na região de Ribeiro Preto, no interior de São Paulo, o produtor Sebastião Farias anda preocupado com o futuro de seu negócio. A família Farias está no ramo há 40 anos e, desde então, os preços dos defensivos agrícolas nunca foram tão altos quanto agora. “Quando comecei, eles respondiam por no máximo 5% dos meus custos totais, mas hoje em dia estão em torno de 10%”, diz. “Tenho medo que o percentual continue crescendo a ponto de atrapalhar a viabilidade da lavoura.”

A preocupação tem razão de ser. Até pouco tempo atrás, produtores como Farias contavam com pelo menos sete marcas de herbicidas disponíveis no mercado. Resultado: diante da concorrência acirrada, as empresas precisavam se esforçar para seduzir clientes. Não era tarefa fácil. A maioria das fabricantes apostava em três frentes – preço, atendimento e qualidade do produto. Quem fracassasse em alguma delas corria o risco de ver o rival avançar. Agora é diferente. “Hoje em dia, não tenho muitas opções de escolha e acabo pagando o valor que as empresas impõem, com pouca margem para negociação”, diz Farias.

Nos últimos dois anos, o agronegócio vem passando por um processo radical de consolidação. As fusões e aquisições envolvendo grandes empresas estão revolucionando o setor. Marcas consagradas desapareceram. Outras surgiram. Na era das supermarcas, o jeito de fazer negócio mudou e continuará mudando – quer os produtores queiram ou não.

A partir de 2016, o já concentrado universo das multinacionais que fabricam insumos para o agronegócio começou a caminhar para um agrupamento de forças ainda maior. As chamadas “Sete Grandes” (Monsanto, Syngenta, Dupont, Bayer, Dow, Basf e ChemChina) viraram quatro (Monsanto/Bayer, Dupont/Dow, Syngenta/ChemChina e Basf).

Que efeitos a consolidação do setor agro terá no mercado? De acordo com o recém-lançado Atlas do Agronegócio, publicação conjunta da Fundação Heinrich Böll e Fundação Rosa Luxemburgo, a monopolização do sistema global de alimentos terá impactos severos. “Cada vez menos empresas assumirão o controle de uma fatia de mercado cada vez maior, se tornando influentes no mundo inteiro”, diz o relatório.
Segundo o documento, o excesso de concentração aumentará o poder político das empresas, o que facilitará a alteração de normas fitossanitárias e o registro de patentes. As gigantes também vão dominar o sistema tecnológico de produção, deixando toda a cadeia dependente de suas inovações. “E os custos serão sempre maiores para os elos mais fracos: agricultores, trabalhadores agrícolas e consumidores”, conclui o texto. Os custos, de fato, são crescentes para os produtores. Desde 2013, os preços dos agrotóxicos aumentaram cerca de 40% no Brasil – mais do que a inflação no período.
Além do desaparecimento de marcas conhecidas, a concentração excessiva afeta diretamente o consumidor (neste caso específico, produtores e distribuidores). Em geral, consolidações representam a diminuição do número de fornecedores de insumos importantes – e, portanto, risco de aumento de custos para quem está na outra ponta do negócio. Não à toa, os produtores encaram com ceticismo o argumento de que a consolidação entre empresas vai permitir ganho de escala que resultará em preços mais baixos, argumento esse usado por dez entre dez defensores dos processos de fusão e aquisição.

Aquisições Nos últimos anos, cinco das 12 maiores fusões entre empresas de capital aberto aconteceram no setor agroalimentar, movimentando centenas de bilhões de dólares e alterando profundamente os mercados. Diversos fatores podem levar grandes empresas a comprar suas rivais. O primeiro deles é o mais óbvio – aumento de mercado. Adquirir uma concorrente, afinal, é o modo mais rápido de ganhar maket share. Isso pode ocorrer em termos quantitativos – ou seja, produzir e vender mais – ou geográficos, nas situações em que a companhia adquirida tem atuação forte em determinado país ou região.

 A segunda razão diz respeito à possibilidade de aumentar a eficiência. Um exemplo simples: se cada empresa tem dez funcionários em suas equipes de marketing, a nova companhia não precisará de vinte profissionais para atuar nessa área. O caminho natural, portanto, é reduzir a equipe e melhorar a produtividade. O terceiro motivo que leva gigantes a buscar casamentos sólidos é a busca por tecnologias e inovações que o concorrente possui.

Com o aumento do número de transações nos últimos anos, os índices de concentração se tornaram bastante elevados. Três empresas controlam atualmente mais de 70% do mercado mundial de sementes híbridas e transgênicas. Na indústria de fertilizantes, contavam-se mais de 20 marcas internacionais há uma década, mas agora as dez maiores corporações detêm 60% do mercado global.

No Brasil, apenas 5 fabricantes de defensivos possuem market share relevante, enquanto as concorrentes menores sumiram ou estão em vias de desaparecer. Entre as máquinas agrícolas, quatro companhias respondem por mais da metade das transações.

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