A Raiar Orgânicos, maior produtora de ovos orgânicos do Brasil, anunciou que vai adotar uma técnica para realizar para sexagem embrionária de ovos férteis. A empresa será a primeira, na América Latina, a adotar este tipo de manejo, chamado Cheggy, que consegue evitar o nascimento de pintinhos machos, que não têm valor comercial e, normalmente, são descartados nas granjas. Granjas europeias e americanas já realizam o procedimento.
A sexagem in-ovo permite a separação de embriões machos e fêmeas durante a fase de incubação. Na avicultura de postura, os machos de linhagens poedeiras não têm valor comercial porque suas carcaças são pequenas para a produção de carne, e acabam sendo descartados após o nascimento, através de métodos considerados cruéis. No Brasil, cerca de 136,8 milhões de pintinhos são eliminados por ano, e no mundo são 7 bilhões, segundo dados divulgados pela Raiar. Na maior parte das granjas, as aves são trituradas.
Para realizar o procedimento,que leva em torno de 5 segundos por ovo, a Raiar importou um equipamento produzido pela empresa alemã AAT. A análise é realizada no 13º dia da incubação através de um scanner hiperspectral, que emite um feixe de luz sobre o ovo e identifica o sexo da ave. A tecnologia é capaz de enxergar as cores do embrião, que indicam se são machos ou fêmeas. Quando o equipamento identifica um macho, o ovo é retirado do processo de incubação e não evolui mais.
Esse ovo retirado do processo pode ser utilizado como insumo para a agroindústria de rações pet, devido ao seu alto teor de cálcio. Atualmente, as técnicas existentes para a sexagem de ovos brancos utilizam uma perfuração no ovo, que é um método invasivo e caro. .
Pintinhos triturados
O descarte de pintinhos machos é uma prática comum nas granjas. No setor de criação de aves para ovos, os machos não têm valor e, por terem uma conformação menor (corpo menor que das fêmeas) criadores de aves para corte não têm interesse em sua criação. O descarte nas granjas é feito com técnicas consideradas cruéis, como o uso de eletrochoque, câmara de gás CO² ou a trituração.
"Além de não produzirem ovos, não alcançam o mesmo padrão de crescimento e de qualidade desejável pela indústria de carne de frango", explica a deputada Professora Luciene Cavalcante (Psol-SP). Ela é autora de um projeto que visa proibir o descarte de pintos machos por meio de métodos cruéis como trituração, eletrocussão, sufocamento ou meios similares.
O Projeto 783/24 prevê que quando houver uma tecnologia de sexagem in ovo comercialmente disponível, os incubatórios e as empresas que comercializam aves recém-nascidas deverão descartar os ovos até o 6º dia após a incubação. Nesse caso, as empresas terão um ano para se adequarem à lei.
A proposta também prevê que o descarte de aves em qualquer etapa do desenvolvimento somente será permitido por motivo de risco à saúde pública, justificado por meio de laudo técnico, assinado pelo médico veterinário responsável e aprovado pela autoridade sanitária competente. Nesse caso, o descarte das aves deve ser feito mediante insensibilização prévia dos animais, evitando ao máximo o sofrimento das aves.
Quem descumprir os dispositivos da futura lei estará sujeito a multa de 2% do faturamento por animal descartado. Se houver reincidência, a multa será aplicada em dobro.
O projeto tramita em caráter conclusivo. Já foi aprovado pela comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural e segue para as comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, de Finanças e Tributação e de Constituição e Justiça e de Cidadania.