A média de dias em que o Brasil registrou ondas de calor aumentou de 7 para 53 nos últimos 30 anos. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), feito a pedido do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação para embasar o plano federal de adaptação do Brasil às mudanças climáticas. A situação preocupa produtores rurais, por causa do solo muito ressecado e o calor escaldante está prejudicando o plantio de soja da safra2023/2024, que teve início em setembro.
Segundo informações do Boletim Semanal divulgado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o cenário para a safra de 2023/24 é muito delicado. Combinado com a escassez de chuvas, a onda de calor comprometeu o estabelecimento das lavouras recém semeadas, bem como a perspectiva de rendimentos no final da temporada. Em novembro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos estimou em 129 milhões de toneladas a próxima safra de grãos do Brasil, abaixo das 137 milhões de toneladas da temporada anterior.
Fernando Silva, CEO da PWTech, startup reconhecida pela ONU como uma solução humanitária no acesso à água potável, explica que a água é um dos principais fatores para a produção de alimentos. “Se olharmos para a soja, um dos grãos mais produzidos do Brasil, estamos falando de uma semente que necessita absorver, no mínimo, 50% de seu peso em água para uma boa germinação. E não para aí, sua necessidade só aumenta no decorrer do seu desenvolvimento. A água é um recurso de extrema importância para o setor”, diz.
Em Mato Grosso, por exemplo, a falta de chuvas vem impactando negativamente o desenvolvimento vegetativo das lavouras, com destaque para as áreas do Sul, Sudeste e Médio Norte. Já em Goiás, a irregularidade das chuvas têm contribuído para a redução no ritmo de plantio e desencadeando replantios, o que atrasa a colheita.
Apesar dos atrasos, parte das lavouras já estão avançando no enchimento de grãos, estágio que demanda menos necessidade hídrica. Um monitoramento feito com 12 estados brasileiros, apontou um aumento geral de 7.8% entre 12 e 18 de Novembro no estágio analisado, partindo de 57.6% para 65.4%, porém, ainda abaixo dos 75.9% da safra anterior. Esse atraso é observado em quase todos os estados produtores de soja no Brasil, com exceção de Santa Catarina e São Paulo.
De acordo com a Organização Mundial das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a escassez de recursos hídricos, está levando os principais sistemas agroalimentares do mundo ao ponto de ruptura. “Dessa forma, se faz necessário o bom uso do recurso hídrico e a disponibilização de tecnologias de acesso que colaborem para remediar a situação, em conjunto com políticas públicas que priorizem os trabalhadores rurais em meio à seca”, finaliza Fernando Silva.