Ricarda Lange, presidente do Partido Verde da Alemanha, enfrentou uma recepção rude ao chegar à cidade de Magdeburg, no estado da Saxônia-Anhalt, para uma reunião recente de sua legenda. À sua espera estavam 200 agricultores e seus 90 tratores buzinando, gritando e soltando fogos. Mais tarde, uma multidão bloqueou seu caminho quando ela tentou deixar o evento.
Embora comparativamente pequena, a cena recebeu muita atenção nas mídias sociais. É lá que extremistas de direita, como o austríaco Martin Sellner, aplaudem esses protestos e promovem agitação contra os verdes.
Sellner ganhou as manchetes em janeiro, quando uma reportagem investigativa relatou suas fantasias de deportação em massa de imigrantes. Sellner havia dado uma palestra em Potsdam sobre a possível deportação de solicitantes de asilo e imigrantes, e até mesmo de alemães com origem migratória. Logo após o evento de Magdeburg, Sellner escreveu no Telegram: "Os agricultores não estão recuando! Eles têm todo o meu apoio!"
O neonazista Michael Brück também está apoiando os agricultores, sonhando que seus protestos possam até derrubar o governo. Brück pede a seus apoiadores que aprendam com o revolucionário chinês Mao Zedong.
"O que Mao sabia", escreveu ele no Telegram em janeiro, "se aplica a nós aqui na Saxônia... e nos mostra com quem temos que trabalhar... Pois Mao disse uma vez: Devemos apoiar tudo o que o inimigo combate. E devemos apoiar tudo o que luta contra o inimigo".
As agências de inteligência e segurança alemãs estão monitorando de perto a influência da extrema direita nos protestos dos agricultores. Um porta-voz do Ministério do Interior do estado da Renânia do Norte-Vestfália, o mais populoso do país, explicou a tática: "Ao espalhar conteúdo antigoverno ou até mesmo hostil, os extremistas tentam instrumentalizar os protestos dos agricultores para ajudá-los a se conectar com a classe média."
Agências de segurança dizem não ver muito sucesso da extrema direita
O serviço de segurança da Baviera, o maior estado da Alemanha, disse à DW: "Apesar dos inúmeros apelos de grupos extremistas pela mobilização e da grande atenção que estão dando na internet aos protestos, o esperado aumento de participação ainda não se concretizou."
O órgão afirma que os agricultores de lá sempre se distanciaram claramente de influências extremistas de direita, "e rejeitam de forma ampla palestrantes extremistas em seus eventos", declarou seu porta-voz. Eles não estão monitorando os agricultores, pois não há necessidade, informou o porta-voz, acrescentando que eles são democraticamente protegidos pelas leis de liberdade de expressão e liberdade de reunião.
Vice-chanceler Habeck: "Palavras tornam-se ações"
Os extremistas de direita estão especialmente empenhados em fomentar raiva contra o ministro da Economia e vice-chanceler federal, Robert Habeck, do Partido Verde. Os fazendeiros miraram em Habeck e os extremistas se uniram a eles para atacar o político.
Habeck falou sobre os ataques ao seu partido em uma reunião dos verdes em 27 de fevereiro: "A brutalização é a arma do populismo. Exagerar os problemas que um país tem de resolver de tal forma que as pessoas só possam gritar umas com as outras e as soluções não sejam mais possíveis." O objetivo final, disse, é prejudicar a democracia.
Ao alertar para os riscos desse incitamento, especialmente nas redes sociais, Habeck afirmou recentemente que "palavras tornam-se ações" – referindo-se ao assassinato em 2019 do político da União Democrata Cristã (CDU) Walter Lübcke, morto porque apoiava as políticas de asilo da então chanceler federal Angela Merkel. O atirador era um extremista de direita que havia se radicalizado na internet.
Mas por que os verdes estão sendo visados? Habeck tem uma teoria: "Populistas não atacam outros populistas. Em vez disso, eles vão atrás daqueles que estão buscando consensos". Ele diz que os verdes ajudaram a tornar a Alemanha mais progressista nas últimas décadas, e que a entrada do partido no governo, resultante do seu sucesso político, provocou seus detratores.
Os principais políticos da legenda alertam que a Alemanha pode ser ameaçada pela divisão e polarização. Habeck disse que é isso que torna as recentes manifestações nacionais em prol da democracia e contra o extremismo de direita tão importantes: "E é por isso que não estou com medo", afirmou.