A transformação tecnológica e financeira que ocorre no campo está redefinindo o mercado de trabalho no agronegócio, com remunerações mensais que podem chegar a R$ 75 mil para cargos de alta liderança. A conclusão faz parte do Guia Salarial Fox Agro 2025/2026, lançado pela consultoria Fox Human Capital, que analisou mais de 2.000 entrevistas e 300 faixas salariais para mapear as tendências de carreira no setor produtivo brasileiro.
Profissões em alta e salários
O estudo revela que a busca por eficiência operacional e a digitalização das lavouras impulsionaram os salários em áreas estratégicas. O segmento de originação — responsável pela compra de grãos dos produtores para a indústria ou exportação — aparece no topo da lista.
Com a expansão do esmagamento de soja e os incentivos à produção de biodiesel, a procura por executivos com perfil analítico cresceu. Segundo o levantamento, um Diretor de Originação pode atingir remuneração mensal de até R$ 75 mil.
A área de tecnologia também apresenta forte valorização. Cargos de CTO (Diretor de Tecnologia) registram medianas salariais de R$ 48 mil, enquanto Gerentes de TI alcançam cerca de R$ 37 mil. Esses valores refletem a necessidade de integrar dados agronômicos com sistemas de gestão, conectando o escritório ao que acontece da porteira para dentro.
Outro destaque é a área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), fundamental para a criação de novas sementes e insumos. Diretores deste setor chegam a receber R$ 72 mil, impulsionados pelo "boom" dos bioinsumos.
O perfil do novo profissional do agro
O segmento de produtos biológicos é citado como um dos principais vetores de crescimento, superando o ritmo dos defensivos químicos tradicionais. Isso gera uma corrida por especialistas em manejo integrado, que saibam combinar as duas ferramentas para combater pragas e doenças.
De acordo com Filippe Apolo, fundador da Fox Human Capital, o agronegócio brasileiro está se tornando "mais tecnológico, mais financeiro e mais complexo". Para o especialista, esse cenário deve intensificar a escassez de talentos qualificados nos próximos anos, acirrando a disputa entre as empresas por quem domina essas múltiplas competências.
Gestão de crédito e sustentabilidade
Um ponto de atenção trazido pelo relatório é a situação financeira do setor. O aumento do endividamento no campo e a necessidade de uma gestão de risco mais rigorosa colocaram a área de crédito em evidência.
O cargo de Gerente de Crédito aparece com mediana de R$ 31 mil. As empresas buscam profissionais com perfil técnico e jurídico-financeiro capazes de equilibrar a concessão de recursos com a segurança da operação. O crédito é visto hoje como uma ferramenta decisiva para a saúde das companhias diante de margens mais apertadas.
No setor sucroenergético (cana-de-açúcar e etanol), a pauta é a sustentabilidade. Desafios climáticos recentes e a pressão global por produção limpa aumentaram a demanda por líderes que tenham visão integrada entre campo, indústria e certificações ambientais.
Estabilidade nos cargos de chefia
Apesar dos altos salários em áreas específicas, o guia notou uma "lateralização" — ou seja, uma estabilidade sem grandes aumentos reais — nas remunerações de alguns cargos de nível C-Level (presidentes e diretores gerais).
Essa estagnação é reflexo de um cenário econômico previsto para 2025 com juros ainda elevados e custos de produção altos, o que comprime as margens de lucro das empresas.
"Quando você analisa o guia salarial, vai notar que houve queda de mediana para algumas posições, um reflexo da pressão por responsabilidade junto a investidores e financiadores", explica Filippe Apolo.
O estudo reforça que, para os próximos anos, a tendência é a valorização de quem consegue entregar resultados concretos em eficiência e inovação, garantindo a rentabilidade do negócio mesmo em tempos de "vacas magras".