Com a morte do papa Francisco, a Igreja Católica está de luto e em breve precisará eleger um novo líder. Esse processo, extremamente rigoroso e cercado de sigilo, é conhecido como conclave, e pode demorar dias – o mais longo da história durou dois anos e nove meses. Ao longo das décadas, o processo já passou por alterações e melhoras.
Mas afinal, como ficam os próximos dias até a escolha do novo papa?
Luto e funeral
Após a morte de um papa, o Vaticano entra em um período solene de luto conhecido como novendiales, que dura nove dias. Essa fase é marcada por cerimônias litúrgicas, homenagens públicas e um profundo clima de reverência.
Nas primeiras horas após o falecimento, o corpo do papa é preparado com vestes litúrgicas tradicionais — batina branca, estola vermelha e mitra. O Cardeal Camerlengo, que assume temporariamente a administração da Santa Sé, anuncia oficialmente a morte, dá início aos ritos iniciais e supervisiona o rompimento do Anel do Pescador, símbolo da autoridade papal, para sinalizar o fim oficial do pontificado. Atualmente quem ocupa este posto é o irlandês-americano Kevin Farrell, nomeado por Francisco em 2019.
Inicialmente, o corpo é velado de forma privada, dentro do Palácio Apostólico. Em seguida, é transferido em uma procissão solene até a Basílica de São Pedro, onde fica exposto à visitação pública por cerca de três dias. Durante esse tempo, milhares de fiéis e peregrinos passam pela basílica para prestar homenagens e se despedir do pontífice.
A Missa de Exéquias — o funeral oficial — costuma ocorrer entre o quarto e o sexto dia após a morte, sendo celebrada na Praça de São Pedro. A cerimônia é presidida pelo Cardeal Decano e reúne cardeais, bispos, chefes de Estado, líderes religiosos e representantes de diversas nações, além de uma multidão de fiéis. Após a missa, o corpo do papa é sepultado.
Durante os nove dias do luto, são celebradas diariamente missas solenes — as chamadas Missas dos Novendiales — com intenções voltadas à alma do papa falecido. Cada dia possui uma liturgia específica, e essas celebrações também representam momentos de união e oração do Colégio dos Cardeais, que se prepara para a eleição do novo pontífice, através do conclave.
Durante todo o período, o Vaticano adota símbolos de luto visíveis: a bandeira do Estado da Cidade do Vaticano permanece a meio-mastro, os sinos da Basílica de São Pedro tocam em ritmo fúnebre e todas as atividades oficiais são suspensas ou adaptadas à ocasião.
O que é um conclave?
O conclave nada mais é do que uma reunião do Colégio de Cardeais, os mais altos dignitários da igreja, que tem como objetivo eleger o novo papa em uma votação secreta. Ele acontece na Capela Sistina, no Vaticano. A palavra que dá nome ao evento vem do latim, “cum clavis”, que significa “fechado à chave”.
O motivo? Os cardeais ficam isolados do resto do mundo e não deixam o local no qual são hospedados até que a votação seja concluída. Essa atitude é tomada para impedir que pressões externas interfiram no processo.
A cerimônia é precedida por uma missa solene da qual participam todos os cardeais.
Quais são as regras
Um dos motivos que fazem o conclave um processo longo é que é necessário que dois terços dos cardeais votem no mesmo candidato para que ele seja eleito. Ou seja, uma maioria simples não basta.
Ao todo, 120 cardeais votam, sendo que a idade máxima permitida para votar é de 80 anos. Todos os membros do conclave podem ser votados, mas não é permitido votar em si mesmo. É possível também votar em cardeais que não estejam participando do processo.
São feitas quatro votações ao longo do dia: duas de manhã e duas à noite. Os cardeais escrevem o nome selecionado em uma cédula. No final, as cédulas são queimadas e é usado um produto químico que muda a cor da fumaça de uma chaminé.
Se a fumaça sair preta, significa que um papa não foi eleito e que a seleção segue. Se for branca, o líder da igreja católica está oficialmente escolhido.
Quando o papa é eleito, o anúncio oficial é feito em uma sacada da Basílica de São Pedro, onde é proferida a frase: “Habemus papam” (temos papa). A ocasião costuma ser acompanhada por centenas de fiéis que lotam o Vaticano.