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De Evo Morales a reservas de lítio: entenda a tentativa de golpe na Bolívia

27 jun 2024 às 09:48

A democracia na Bolívia ficou por um fio após uma tentativa de golpe de Estado nesta quarta-feira (26). O motim foi liderado pelo general Juan José Zuñiga, que até dois dias atrás comandava o Exército boliviano.



Linha do tempo 


Militares saíram em marcha pelas ruas da capital La Paz e rapidamente cercaram a praça Murillo, onde fica a sede do governo boliviano, com tanques. Eles ainda forçaram a porta do palácio presidencial com um carro blindado e invadiram o local.  


Enquanto isso, o presidente Luis Arce e seus ministros denunciavam pelas redes sociais uma tentativa de golpe. “Denunciamos mobilizações irregulares de algumas unidades do Exército Boliviano. A democracia deve ser respeitada”, publicou Arce no X, antigo Twitter.


Um vídeo mostra o momento que o comandante da ação, o ex-chefe do Exército, Juan José Zuñiga, e o presidente ficam frente a frente dentro do palácio, em meio à confusão, enquanto ministros gritam ao fundo “não se equivoque, general”.  


Minutos depois, Zuñiga conversou com a imprensa e disse que Luis Arce continuava no poder, “pelo menos por enquanto”.


"Vai haver um novo gabinete. Seguramente vamos mudar os ministros. A Bolívia não pode mais seguir assim, fazendo o que eles têm vontade. Estamos mostrando nossa insatisfação - disse o ex-chefe do Exército"



Ameaças a Evo Morales  


Zuñiga havia sido demitido um dia antes do cargo de comandante do Exército depois de fazer ameaças ao ex-presidente Evo Morales, dizendo que o prenderia caso ele vencesse as próximas eleições, previstas para o ano que vem. 


Evo reagiu contra os militares e contra o próprio governo, alegando que ambos estavam atuando em um “auto-golpe” para aumentar a popularidade do presidente, que disputará a reeleição. 


“Hoje, Evo Morales e Luis Arce politicamente estão rompidos, mas é importante dizer que Evo logo reforçou a importância de a população defender a democracia e o governo legitimo de Arce”, explicou Regiane Bressan, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).  



Reações e prisão


A Organização dos Estados Americanos (OEA) reagiu e condenou os acontecimentos na Bolívia, ressaltando que o Exército deve se “submeter ao poder civil legitimamente eleito” e que a comunidade internacional “não vai tolerar qualquer quebra constitucional no país sul-americano ou em qualquer outro”.  


Em pronunciamento, Arce convocou a população para se mobilizar contra a tentativa de golpe e afirmou que os militares que participaram da ação “mancharam o uniforme”.


"Vamos fazer respeitar a democracia garantida pelo voto depositado pelo povo boliviano nas urnas - presidente Luis Arce"


No fim da tarde, as tropas começaram a deixar a praça Murillo. Juan José Zuñiga foi preso no início da noite.




Reservas de lítio na Bolívia



A Bolívia possui atualmente a segunda maior reserva na América Latina de lítio, elemento usado na produção de baterias para carros elétricos, motivo pelo qual o país tem sido procurado por outras nações, incluindo da Europa, para desenvolver acordos comerciais.  


“É nesse contexto que temos que entender o golpe. O lado de Evo Morales tem uma posição mais nacionalista; e o lado dos militares que falam pelos interesses econômicos de Santa Cruz de la Sierra [região mais rica da Bolívia] tem uma posição mais internacionalizada, de menos impostos para atrair mais investimentos”, explicou Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).