Brasil e mundo

Extrema direita sacode UE e Macron anuncia dissolução de Parlamento

09 jun 2024 às 18:32

 A Europa vive sua maior guinada à extrema direita desde a construção do projeto de integração do continente, a partir dos anos de 1950. As primeiras projeções divulgadas neste domingo (9) revelam que as eleições para o Parlamento Europeu registraram um avanço significativo de partidos ultraconservadores, populistas, xenófobos e de extrema direita.


O impacto foi de tal dimensão que obrigou o presidente da França, Emmanuel Macron, a anunciar a dissolução da Assembleia Nacional e a convocação de eleições legislativas. Na Bélgica, onde também ocorreram eleições nacionais, o primeiro-ministro liberal, Alexander de Croo, anunciou sua renúncia depois da divulgação dos resultados.


O terremoto já começa a ser chamado de o "momento Trump" da Europa. Se confirmado, reorganiza a própria lógica política do continente.


De uma forma geral, as projeções indicam que:


- a direita liderada pelo Partido Popular Europeu pode terminar o pleito com 186 assentos no Parlamento e manter a consolidada posição de maior força política do continente;


- a extrema direita, representada por diversos partidos e movimentos, pode somar, junta, 148 assentos, uma presença inédita desde a criação do Legislativo;


- a esquerda, dos Socialistas e Democratas, deve ficar com 133 assentos.


Se confirmadas, as projeções apontam que o Parlamento Europeu vai ainda ser liderado pela direita moderada e tradicional. Mas a força dos extremistas pode obrigar a nova composição a escolher comissários (uma espécie de super ministros) de grupos ultraconservadores ou pelo menos levar em consideração a voz de populistas na formulação de políticas.


Em seu primeiro discurso após a eleição, a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen disse aos membros do Partido Popular Europeu que eles protegeriam a UE contra o avanço dos populistas.


"Ganhamos as eleições europeias. Somos o partido mais forte, somos a âncora da estabilidade. Juntamente com outros, construiremos um bastião contra os extremos da esquerda e da direita. Nós os deteremos", garantiu. Ela busca um novo mandato de cinco anos.


Ainda que por anos a direita moderada tenha se aliado à centro-esquerda para construir o que eles mesmos chamavam de "cordão sanitário" contra os ultranacionalistas, existem pressões políticas desta vez para um entendimento entre os conservadores e a extrema direita para passarem a dominar a agenda europeia.


O Parlamento, que tem 720 membros, pode ainda ter uma maioria de membros de centro-direita, esquerda e centro-esquerda. Mas é a chegada em massa de deputados da extrema direita que abalará a estrutura da UE, seu projeto de integração e até mesmo sua posição no mundo.


Com maior número de deputados, a extrema direita deve influenciar a agenda das decisões da Europa, pautada agora em temas como imigração e segurança.


Ainda que o voto seja continental, cada país tem um número designado de assentos e realiza votações nacionais. Em alguns dos países, o avanço da extrema direita atingiu números históricos:


Na França, a extrema direita La France Revient obteve 32,4% dos votos, deixando o movimento Renaissance, de Emmanuel Macron, com apenas 15,2%. O Partido Socialista somou apenas 14,3%, segundo as estimativas. Trata-se de uma dura derrota para o governo.


O avanço político foi liderado por Jordan Bardella, de apenas 28 anos e que optou por adotar um tom menos agressivo para fazer passar as ideias da extrema direita. Seu programa, porém, continua sendo ultranacionalista, anti-imigração e com alianças com os principais nomes do populismo europeu.


"Os eleitores mandaram um recado de que o cidadão quer uma mudança", disse Bardella. "Com esse resultado histórico, o eleitor mostrou que quer uma França soberana, sua identidade, sua segurança e prosperidade", afirmou. "Esse foi só o começo", completou.