“Bombardeio implacável”, escreveu o correspondente da Al Jazeera em Gaza, Anas al-Sharif, pouco antes de ser morto, com outros quatro jornalistas, entre eles três cinegrafistas, na explosão de um drone israelense sobre a “tenda da imprensa”, perto do Hospital Al Shifa. Foram sete mortos e oito feridos.
O porta-voz de Israel não negou o ataque, mas informou que al-Sharif era “o chefe de uma célula terrorista, responsável por disparar foguetes contra civis israelenses e soldados”. A rede Al Jazeera confirmou que quatro dos mortos pertenciam a seu quadro de jornalistas, acusando Israel de “assassinato premeditado” para “silenciar vozes em antecipação à ocupação de Gaza”, anunciada pelo premiê Netanyahu.
A Al Jazeera identificou seus cinco jornalistas mortos: os repórteres Anas al-Sharif e Mohammed Qreiqeh; e os três cinegrafistas Ibrahim Zaher, Mohammed Noufal e Moamen Aliwa. Outras duas pessoas que estavam na “tenda da imprensa” também foram mortas.
O primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani, que financia parte da rede Al Jazeera e é um dos mediadores das negociações de cessar-fogo para Gaza, descreveu as mortes dos jornalistas como “crimes além da imaginação”, e pediu: “Que Deus tenha misericórdia deles”.
A agência de Direitos Humanos da ONU descreveu os assassinatos como uma “grave violação do direito internacional humanitário”. Segundo ela, 242 jornalistas palestinos já foram mortos desde o início da guerra em Gaza, em outubro de 2023. Segundo Israel, muitos desses jornalistas são terroristas do Hamas, usando falsas credenciais. A Foreign Press Association rejeitaou essa acusação israelense, “sem provas verificáveis”, e diz que “os colegas estavam cumprindo seu dever como jornalistas e relatando eventos à medida que ocorriam”.
O porta-voz do governo britânico disse que o primeiro-ministro Keir Starmer está “profundamente preocupado” com os repetidos alvos de jornalistas em Gaza. E acrescentou: “Os repórteres que cobrem conflitos recebem proteção sob o direito internacional humanitário, e os jornalistas devem ser capazes de relatar de forma independente, sem medo. Israel deve garantir que os jornalistas possam realizar seu trabalho com segurança”.
O correspondente da Al Jazeera Anas al-Sharif, 28, foi o alvo do drone lançado por Israel. Ele pertenceria ao Batalhão Nukhba, no campo de refugiados de Jabalia, responsável pelo lançamento de foguetes. O porta-voz militar israelense afirmou ter provas de sua filiação ao Hamas, recolhidas depois do assassinato do líder Yahya Sinwar.
Faz um mês, o Comitê de Proteção aos Jornalistas revelou que estava “muito preocupado” com al-Sharif, então na mira “de uma campanha de difamação, talvez precursora de seu assassinato”. Isso porque, acrescentou, “ele chorou no ar enquanto relatava sobre a fome em Gaza”.
“Estou morrendo de fome” — gritou al-Sharif numa transmissão ao vivo.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu considera a rede Al Jazeera “o porta-voz do Hamas”. O escritório dela em Israel foi fechado no ano passado e o da Cisjordânia, invadido. Jornalistas estrangeiros estão proibidos de entrar em Gaza desde o início da guerra. Jornais e TVs internacionais contratam “stringers” palestinos, ou informantes, para ter notícias e fotos da guerra todos os dias.
Depois de informar um “bombardeio implacável”, al-Sharif ainda escreveu: “Por duas horas, a agressão israelense aumentou na Cidade de Gaza”, o alvo da próxima escalada de Israel, anunciada na semana passada. Aí o drone explodiu na “tenda da imprensa”.