Brasil e mundo

OMS declara mpox como 'emergência global', a primeira desde covid-19

14 ago 2024 às 15:43

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta quarta-feira (14) emergência sanitária global por causa da proliferação dos casos de mpox. A epidemia do que era anteriormente conhecido como "varíola dos macacos" é a primeira emergência sanitária de preocupação global declarada pela OMS desde o fim da covid-19.


Para cientistas, o padrão do surto, as características do vírus, as populações afetadas e o local de origem se assemelham aos primeiros dias da epidemia do HIV.


Hoje, o vírus está presente em 13 países. Em dois deles - República Democrática do Congo e Burundi - a transmissão é comunitária. O Centro Africano de Controle e Prevenção de Doenças (CDC África) já havia declarado uma "emergência de saúde pública" diante da proliferação do vírus mpox no continente.


Em 2022, uma emergência já havia sido declarada, quando uma outra linhagem do vírus foi identificado em mais de 70 países e atingiu 100 mil pessoas. Menos de 1% dos casos levaram à morte das pessoas infectadas.


Mas a onda de novos casos, agora de uma nova linhagem do vírus, levou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a convocar uma reunião de emergência na sede da entidade, em Genebra.


Segundo ele, no ano passado, os casos aumentaram "de forma preocupante". Só neste ano, foram mais de 14 mil casos e mais de 500 mortes, superior a todo o volume de 2023. O aumento em 2024 é de 160'% em comparação ao ano passado. O que surpreendeu ainda a OMS é a incidência de casos entre crianças de menos de 15 anos. No Congo, essa população representa 85% dos casos.


Depois de avaliar a situação, os técnicos da OMS recomendaram ao diretor da agência que declarasse uma "emergência sanitária de preocupação internacional". Tedros acatou o pedido, numa decisão para coordenar uma resposta da comunidade internacional e pedir que governos em todo o mundo estejam preparados para identificar o surto.


A esperança da OMS, ainda, é que a declaração da emergência mobilize recursos internacionais para ampliar a produção de vacinas ou mesmo para entender os caminhos da transmissão.


O objetivo é que o surto não se espalhe ainda mais. Não se trata, porém, de uma pandemia.


"Está claro que uma resposta coordenada internacional é essencial para interromper esse surto e salvar vidas", disse Tedros. A diretora técnica da OMS, Maria van Kerkhove, admitiu que um dos obstáculos é ainda entender como a doença é transmitida.


Vacinas em falta


Um dos problemas é a baixa produção de vacinas contra o mpox. Empresas têm estoques de apenas 500 mil doses e podem produzir mais 2,5 milhões de unidades até o final do ano. Para 2025, a estimativa é que 10 milhões de doses poderiam ser produzidas. Mas o volume é considerado insuficiente.


Para a entidade, existe uma "transmissão contínua da mpox em todo o mundo". Apenas no mês de junho, a OMS identificou quase mil casos, com liderança da África (567 casos), seguida por América (175 casos), Europa (100 casos) e Pacífico Ocidental (81 casos).


O epicentro do surto é a República Democrática do Congo, com 96% dos casos confirmados em junho. Para a OMS, porém, os números reais podem ser muito maiores, já que milhares de pessoas ficam sem testes e diagnósticos.


Pelo menos quatro novos países na África Oriental —Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda— reportaram seus primeiros casos de mpox. Já a Costa do Marfim registra um surto da doença, mas de outra variante, enquanto a África do Sul confirmou mais dois casos.


Entre 2022 e 2024, casos também foram identificados fora da África, com 33 mil nos EUA, 11 mil no Brasil, 8.000 na Espanha e 4.200 na França.


Os homens são as principais vítimas, com 96% dos casos. De acordo com a OMS, a via mais comum de transmissão da doença tem sido o contato sexual. Metade dos casos confirmados foi registrada em pessoas portadoras do vírus HIV. Mas a agência insiste que esse não é o único meio e teme a estigmatização dos afetados.


A OMS ainda listou os principais sintomas da doença, incluindo erupção cutânea, febre e erupção genital.


O mpox foi descoberto pela primeira vez em seres humanos em 1970, no antigo Zaire (hoje República Democrática do Congo). Naquele momento, tratava-se da propagação do subtipo clade I. A atual variante é uma mutação desse vírus original, ainda mais letal.


A OMS já havia ficado em alerta quando, em 2022, uma epidemia mundial do subtipo clade 2 propagou-se para uma centena de países onde a doença não era endêmica, afetando principalmente homens homossexuais e bissexuais. Em maio de 2023, o alerta foi retirado.