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Trump tarifa China em 100% após restrições a terras-raras, e Bolsas caem

10 out 2025 às 19:17

O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou hoje sobretaxas de 100% sobre produtos chineses em retaliação à decisão do país asiático de endurecer as restrições à exportação de terras-raras, matérias-primas imprescindíveis para a fabricação de equipamentos que vão de baterias elétricas a sistemas de IA (inteligência artificial). Antes do anúncio oficial, a ameaça de impor novas tarifas já havia provocado queda na Bolsa de Valores de Nova York.


Trump usou sua rede social Truth para anunciar o novo tarifaço a partir de 1º de novembro. "Ou antes, dependendo de quaisquer ações ou mudanças futuras tomadas pela China", escreveu.


"Os Estados Unidos da América imporão uma Tarifa de 100% à China, além de qualquer Tarifa que estejam pagando atualmente." - Donald Trump, presidente dos EUA.


Em publicação anterior, o republicano pôs em dúvida a realização de uma reunião marcada com o presidente chinês, Xi Jinping. "Eu deveria me encontrar com o presidente Xi em duas semanas, na Apec [Cooperação Econômica Ásia-Pacífico], na Coreia do Sul, mas agora parece não haver motivo para isso", escreveu ele sobre a reunião marcada para acontecer entre 30 de outubro e 1º de novembro.


"Eles estão se tornando muito hostis e enviando cartas a países em todo o mundo, dizendo que querem impor controles de exportação sobre todos os elementos de produção relacionados a terras-raras (...) Ninguém jamais viu nada parecido." - Donald Trump, presidente dos EUA.


Ele disse que já vinha desconfiando da China. "Sempre achei que eles estavam à espreita, e agora, como sempre, eu estava certo", escreveu.


A publicação do americano afetou os principais índices da Bolsa de NY (dados preliminares):


1- S&P 500: caiu 2,71%, perdendo 182,34 pontos;

2 - Nasdaq Composite: caiu 3,56%, perdendo 820,20 pontos;

3 - Dow Jones Industrial Average: caiu 1,88%, perdendo 873,58 pontos.


Especialistas lamentaram o novo embate. "A segunda maior economia e a primeira maior economia estão discutindo novamente. Estamos vendo uma mentalidade [do mercado] de vender [ações] primeiro e perguntar depois", afirmou à Reuters o estrategista-chefe de mercado da Carson Group, Ryan Detrick. "A publicação do presidente Trump realmente surgiu do nada, o que abriu caminho para uma volatilidade extrema."

O que a China decidiu?

As novas regras da China sobre terras-raras entrarão em vigor em 1º de dezembro. Além de apertar o controle sobre a exportação desses elementos —cujas reservas e refino são dominados pelos chineses—, a partir de 8 de novembro Pequim também restringirá as exportações de equipamentos utilizados na fabricação de baterias para carros elétricos, indústria também dominada pela China.


As mudanças anunciadas ontem são mais amplas que as de abril. Na ocasião, a China passou a dificultar a exportação de sete dos 17 tipos de terras-raras, além dos ímãs produzidos a partir delas. Agora, algumas das novas regras incluem todas as terras-raras.


A principal vítima pode ser a indústria bélica americana, que movimentou US$ 968 bilhões em 2024. O Ministério do Comércio da China afirmou em nota que as exportações de terras-raras para fornecedores militares estrangeiros "não serão aprovadas". Os EUA utilizam o material na fabricação de diversos mísseis e do seu famoso caça F-35.


Governos e empresas estrangeiras afirmam, no entanto, que a maior parte das terras-raras seria usada para fins civis.

Apple, Nvidia e IA

Empresas americanas de tecnologia também serão afetadas. As terras-raras são essenciais para companhias como a Apple e Nvidia —gigante que produz chips que abastecem computadores, celulares e sistemas de IA, o principal motor de crescimento da economia global. Esta semana, a Organização Mundial do Comércio afirmou que o setor responde or quase metade do aumento do comércio global em 2025.


Consideradas o "ouro do século 21", as terras-raras também são usadas em produtos da nova economia. Elas são utilizadas na fabricação de ímãs, motores elétricos de drones, robôs de fábrica e turbinas eólicas, por exemplo. A China refina 99% do disprósio do mundo, um tipo de terra-rara usada em chips para preservar a estabilidade magnética quando eles se superaquecem.

Trump e Xi Jinping

Trump e Xi tem um encontro marcado no final do mês, agora ameaçado. A conversa será justamente sobre as disputas comerciais entre os países, intensificadas desde que Trump iniciou a sobretaxa contra diversos países do mundo. A China já havia restringido as exportações de terras-raras para os EUA em abril, em resposta às tarifas impostas por Trump.


Para especialistas, "a China está jogando duro". A medida "poderia colocar Pequim em posição de ter controle total sobre a cadeia global de suprimentos de IA e eletrônicos modernos", disse ao NYT Jimmy Goodrich, pesquisador sênior do Instituto de Conflito e Cooperação Global da Universidade da Califórnia.


A medida pode forçar Trump a investir na indústria de terras-raras. "Esta ação reforça a necessidade de uma política industrial americana mais progressista", disse um membro do Congresso americano à CNBC, pedindo anonimato. "Construir cadeias de suprimentos resilientes é uma questão de segurança econômica e nacional."


*Com agências de notícias