Brasil

Um ano da queda do avião da Voepass: dor, lembranças e a luta por justiça das 62 famílias

08 ago 2025 às 12:56

Há um ano, a queda do voo 2283 da Voepass marcou a vida de 62 famílias, que perderam seus entes queridos de forma trágica e repentina. Naquele 9 de agosto de 2024, pessoas que embarcaram para realizar sonhos jamais chegaram ao destino, deixando para trás uma dor que permanece viva e a incessante busca por respostas e justiça.


A aeronave, que partiu de Cascavel (PR) às 11h46 rumo a Guarulhos (SP), caiu às 13h22 em um condomínio de chácaras em Vinhedo (SP). As 62 pessoas a bordo não resistiram. As palavras de familiares – como dor, saudade, tristeza, fé, revolta, questionamentos e pesadelo – ecoam o sentimento de um ano de luto.


A dor de Cristiane, viúva do árbitro de judô Ednilson Hobold, reflete o desafio de seguir em frente: “Eu não tinha assim como buscar as coisas, como fazer as coisas, no início foi bem complicado, e agora estou reaprendendo a viver (...) Ele deixou um legado, um legado muito bonito, através do judô, ele conheceu o mundo através do judô, o que mais dói é não ter ele aqui”.


Na casa de Ana Redivo, a jovem nutricionista vítima do acidente, as lembranças do sorriso constante confortam a família. Sua mãe, Elizabeth Midding, recorda a alegria e a dedicação da filha: “Cheia de energia, cheia de vida, com muita vontade de viver, de fazer, de ajudar as pessoas, de cuidar da saúde das pessoas, a profissão dela ela amava, ela tinha tanta energia de vida, não esperava por ninguém”.


O advogado André Armindo Michel, conhecido pela paixão pelo Grêmio, deixou um vazio nos encontros familiares. Sua sobrinha, Bianca Faller, expressa a dificuldade de aceitar a ausência: “Foi um ano difícil, ontem eu comentei quando a gente estava com a minha família falando que passou, ao mesmo tempo que parece que passou muito rápido não parece que passou, é o primeiro ano que a gente não tem lembranças dele, a gente gostava muito do Grêmio, a gente tinha o ritual de falar do Grêmio, assistir os jogos, e foi o primeiro ano sem nada com ele, o quão difícil é pensar que esse é o primeiro ano de todos os outros sem ele”.


Fátima, mãe de Ariane Albuquerque, destaca a dedicação da filha: “Eu sempre digo que ela era tão especial, tão diferente, que eu me sentia constrangida de falar da Ariane perto das outras mães, porque parecia que eu sempre queria enaltecer minha filha, eu tinha que forçar ela a ir em uma festa de jovens, a um show, porque ela só estudava e dizia que ia ser médica para servir a Jesus, e ela servia a Deus, tinha os projetos dela, pregava”.


Fátima também se dedica a ser a voz da filha e das demais vítimas, defendendo que o acidente não foi uma fatalidade, mas uma tragédia anunciada. “A dor ela aumenta porque vem a revolta de saber que podia ter sido impedido aquilo, eles não tiveram escrúpulos, não foi uma fatalidade, foi um assassinato”, afirma.


Rosana, esposa do copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva, acredita em falha humana, mas não atribuída à tripulação. Ela defende que a omissão de informações cruciais sobre as condições da aeronave foi a verdadeira causa. “Não fosse pelo Humberto, foram palavras do tenente-coronel, teria acontecido uma catástrofe, então eu dobro meus joelhos e agradeço a Deus porque o meu marido estava ali, um homem íntegro, que não sabia dos problemas anteriores daquela aeronave, ele estava voltando de férias, e se ele soubesse ele teria feito de tudo, mesmo não sendo comandante, usado todos os argumentos para não tirar aquela aeronave do solo, a minha briga hoje é defender a honra e a integridade do meu marido, houve falha humana? Sim, mas começou no dia 08, o comandante que voou anteriormente que não relatou no livro o que deveria ter relatado”.


As investigações, conduzidas pela Polícia Federal e pelo CENIPA, ainda estão em andamento. Em outubro do ano passado, o presidente da Voepass admitiu a possibilidade de falha no sistema, com suspeitas de problema no sistema de degelo da aeronave.


Luciano Katarinhuk, advogado que representa a associação das famílias, atua como assistente de acusação no inquérito. “Primeiramente nós fomos contratados pela associação das famílias das vítimas da Voepass, para atuarmos como assistentes de acusação, dentro do inquérito e do eventual processo criminal, nós seremos os olhos, os ouvidos e a boca das famílias, as famílias buscam a responsabilidade criminal de quem por omissão ou ação mesmo, permitiu que essa aeronave estivesse voando mesmo não estando em condições”.


Katarinhuk ressalta que, embora indenizações civis sejam uma consequência, a principal busca é a responsabilização criminal. “Não existe um preço para uma vida, isso é uma questão de consequência civil, agora a responsabilização criminal, essas pessoas dentro da medida da culpabilidade precisam ser responsabilizadas”.


Após a tragédia, a ANAC cassou definitivamente o certificado de operação da Passaredo Transportes Aéreos, responsável pela Voepass, por falhas em inspeções obrigatórias. A agência identificou que a Voepass não realizou algumas inspeções que eram mandatórias. Mesmo sem a finalização da investigação, as famílias esperam por justiça e que os responsáveis sejam devidamente culpabilizados.