Cidade

Água da chuva em Londrina foi contaminada após queimadas

19 set 2024 às 10:25

O Grupo de Física Nuclear Aplicada do Centro de Ciências Exatas (CCE) da UEL analisou amostras da água da chuva que caiu em Londrina no último domingo (15), a primeira após o registro de longo período de estiagem, marcada pela ocorrência de queimadas provocando baixa qualidade do ar atmosférico e a formação de intensa névoa de poluição nas últimas semanas. A avaliação considerou 15 regiões da cidade, com amostras da chuva registrada no domingo pela manhã.


As amostras de chuva coletadas foram analisadas utilizando a técnica de Fluorescência de Raios-x por Reflexão Total (TXRF), que permite a identificação e quantificação de elementos em concentrações na ordem de Partes por Bilhão (ppb). Entre os elementos detectados, Ferro e Cálcio apresentaram as maiores concentrações. A alta presença de ferro pode estar associada à abundância de poeira no ar, decorrente do solo local ser naturalmente rico nesse elemento.


O estudo foi coordenado pelo professor do Departamento de Física, Eduardo Inocente Jussiani, com a participação dos pesquisadores Avacir Andrello, João Marcos Lopes, Letícia Birelo e Aline de França. O professor Eduardo afirma que os eventos climáticos extremos necessitam ser amplamente estudados para que a população tenha noção real do seu impacto nas cidades e no meio ambiente.


Por outro lado, a elevada concentração de cálcio pode estar relacionada às queimadas, tanto da região de Londrina quanto da região Amazônica, que geram os chamados “corredores de fumaça”, uma vez que a queima de madeira libera vários componentes, dentre eles o óxido de cálcio na atmosfera. Foi esse elemento que mais chamou a atenção do pesquisador João Marcos, já que “não é comum encontrar concentrações tão altas de cálcio na água da chuva”.


A concentração máxima foi de 720 mg/L. Além disso, elementos como Alumínio, Bário, Cloro, Manganês e Zinco foram encontrados em concentrações até 15 vezes superiores aos limites estabelecidos em legislações ambientais. Outra análise realizada foi a de fotomicroscopia. As amostras foram analisadas diretamente, sem qualquer preparo ou tratamento, o que permitiu capturar com precisão as condições da água no momento da coleta.


Durante as análises, “foi possível identificar microrganismos, como bactérias e protozoários, cadeias de fungos, além de grande quantidade de material particulado na água da chuva”, conta a pesquisadora Letícia Birelo. O resultado da pesquisa deverá ser finalizado em até 30 dias e posteriormente enviada para publicação.


Para o coordenador do grupo, professor Avacir Andrello, “é importante fazer o monitoramento da qualidade do ar local, considerando que sofremos a influência de outras regiões”. O grupo planeja continuar monitorando a água da chuva, bem como outras amostras ambientais em Londrina.