No mês em que se lembram as conquistas e desafios das mulheres, a violência de gênero segue como uma das principais ameaças. Em Foz do Iguaçu, o caso da universitária Zarhará Tormos, de 25 anos, tem causado indignação. Seu corpo foi encontrado há dez dias, com mãos e pés amarrados no banco de trás do próprio carro, e até o momento ninguém foi preso.
A jovem cursava biomedicina em uma faculdade privada da cidade e havia conseguido uma medida protetiva contra o ex-namorado por ameaças. Ele foi ouvido pela polícia horas antes do corpo ser localizado, dois dias após o desaparecimento. No entanto, as investigações seguem sem prisões. No último Dia Internacional da Mulher, amigos, familiares e apoiadores se reuniram para pedir justiça.
Infelizmente, a dor da família de Zarhará não é um caso isolado. Dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública apontam que quatro mulheres morrem por dia no Brasil vítimas de feminicídio — crime motivado por violência doméstica ou menosprezo à condição feminina. Em 2024, a Justiça registrou cerca de 960 mil processos de violência doméstica, o equivalente a 2.600 novas ações por dia. Foram ainda 827,9 mil medidas protetivas concedidas e 8,3 mil processos por assassinato de mulheres, um aumento em relação a 2023.
A violência contra a mulher está enraizada na cultura e reflete avanços lentos na legislação. Somente em 1988, a Constituição garantiu a igualdade entre homens e mulheres. A Lei Maria da Penha, que permitiu afastar agressores do lar, foi sancionada apenas em 2006. O feminicídio se tornou crime qualificado em 2015 e, em 2023, passou a ser crime autônomo com penas de 20 a 40 anos de prisão. Já em 2021, o Supremo Tribunal Federal proibiu a tese de legítima defesa da honra em julgamentos de feminicídios, impedindo que réus culpabilizassem as vítimas.
A delegada responsável pelo caso de Zarhará descreve o feminicídio como um "crime anunciado", resultado de um ciclo de violência que precisa ser interrompido. A denúncia é essencial. O canal Disque 180 recebe relatos de violência contra a mulher 24 horas por dia, gratuitamente. Em 2024, foram registrados 750 mil atendimentos.
Além de denunciar, a mudança começa na educação e no respeito desde a infância. O combate à violência contra a mulher é um compromisso coletivo, e casos como o de Zarhará reforçam a urgência de ações mais eficazes para proteger vítimas e punir agressores.