A frase "A Geada Negra de 1975 acabou com o café no Norte do Paraná" é amplamente conhecida, mas sua veracidade é mais complexa. A geada, de fato, descapitalizou muitos pequenos e médios produtores, que, sem condições de esperar cerca de três anos para a recuperação dos pés de café, abandonaram a cafeicultura. No entanto, este não foi o único fator para o declínio da produção na região.
A historiadora Caroline Oliveira destaca que a década de 1960 já registrava uma superprodução de café, e o governo federal incentivava a diversificação agrícola. Foi justamente nos anos 1970 que as lavouras de soja e milho começaram a ganhar força no Paraná, um movimento explicado por Geraldo, corretor de café.
Resiliência dos cafeicultores e nova fase da produção
Mesmo após a geada, muitos produtores reformaram seus cafezais e seguiram na atividade. É o caso de Aparecido Favaro, cuja propriedade cafeeira está na família desde a década de 1930. Ele enfatiza que a verdadeira responsável pela queda na produção foi a crise de preços do café. "Depois da geada, muitos reformaram as lavouras, mas a queda de preço que realmente derrubou", afirma. Segundo Geraldo, a produção de café no Paraná sofreu a maior queda nos anos 1990.
Apesar das adversidades, a produção brasileira de café como um todo aumentou em comparação com a década de 1970. Geraldo aponta para uma nova fase da cafeicultura brasileira, com a migração de produtores para outros estados, o que impulsionou os números de produção nacionais.
Atualmente, a produção de café no Paraná é estimada em cerca de 750 mil sacas. Apesar de os números de produção do estado terem diminuído, a qualidade do café paranaense aumentou consideravelmente, como ressalta Marcelo El Kadre.
A persistência do produtor e o café na alma londrinense
O produtor de café é conhecido por sua resiliência, característica confirmada por diversos entrevistados ao longo da série especial. A Geada de 1975 levou muitos a abandonarem a lavoura, mas não representou o capítulo final do "Ouro Verde" na região.
Aparecido Favaro e sua esposa Josita mantêm cerca de 45 mil pés de café em um sítio na zona norte de Londrina, estando entre os poucos produtores ainda ativos na região. Além de venderem o excedente da produção para cooperativas, eles também fazem a torra e a moagem do próprio café, comercializando um produto de alta qualidade e agregando valor ao que produzem. Josita Favaro destaca a qualidade do café que cultivam.
Uma coisa é clara: todos os personagens da série especial sobre a Geada Negra têm uma ligação profunda com o café. Caroline Oliveira, historiadora, cresceu em meio aos cafezais. Luiz Cavalieri, produtor rural, afirma que "o produtor de café é teimoso e segue produzindo". Josita e Alcides Favaro nunca desistiram do café, mesmo diante dos desafios.
Geadas ainda ocorrem na região — a propriedade de Alcides e Josita foi, inclusive, afetada recentemente por uma delas. Contudo, o café ainda corre nas veias dos londrinenses. Mesmo com as lavouras da região tomadas pela soja e pelo milho, a Capital Mundial do Café está mais viva do que nunca no coração dos pequenos produtores e na memória de todos os "pés-vermelhos".